por Arlete Gavranic
Tenho um noivo, vivemos bem, mas quando surge um rapaz interessante perco logo o controle e me dá vontade de traí-lo. Não queria que isso acontecesse, mas acontece… e agora?
Há pelo menos duas maneiras de se entender a impulsividade. Ela pode ter um caráter doentio (psiquiátrico), onde a pessoa não consegue ter controle sobre seus desejos; seja de comer, de transar, de trair, de roubar…
O desejo é mais forte que a pessoa e praticamente a leva a ter tal atitude. Essa é a impulsividade tida como doença. Esse quadro psiquiátrico necessita de ajuda, inclusive medicamentosa, para que bioquimicamente se tenha o recurso de diminuir ou anestesiar o desejo impulsivo, para aí se ter condições de trabalhar psiquicamente os controles morais e a consciência do significado dessas atitudes e suas consequências para quem trai e é traído.
Mas há outro padrão: o da impulsividade inconsequente. Trata-se de uma forma de instinto ou desejo não amadurecido ou até em relação à formação dos valores morais, sociais e religiosos da pessoa. Esses podem contribuir para a contenção, desejo ou adiamento de prazeres. Ou seja, não dá para sair beijando, transando impulsivamente com qualquer pessoa que aparecer e for bonita ou sensualmente interessante só porque deu vontade, seria socialmente e 'psicologicamente adequado' você se permitir conhecer o outro, principalmente se outras pessoas estiverem envolvidas nessa situação.
Seria importante para essa leitora que traz esse desejo como impulso avaliar como ela lida com a satisfação dos seus desejos; se ela aprendeu a esperar, adiar ou se, emocionalmente infantilizada, ela busca satisfação imediata.
Avaliar as atitudes de traição exige também colocar-se no lugar do outro e perceber a dor e a mágoa que você sentiria se fosse você que estivesse recebendo a traição, principalmente se essa situação já for recorrente. Posicionar-se a esse respeito é importante para começar um questionamento sobre o quanto se consegue lidar com esse sentimento de responsabilidade em relação à traição.
Avaliar e entender os sentimentos que levam a ter o desejo e a atitude de trair: vingo-me pela falta de atenção, por uma traição recebida, pela da falta de elogios… podem ajudar a resolver conflitos e mágoas que levam a todo esse processo. Inclusive de se autoafirmar achando-se vingada.
Mas e aí… essa impulsividade e falta de autocontrole justificam ou não?
Se essa impulsividade não for um quadro psiquiátrico de difícil contenção, esse sentimento não justifica e pode até trazer essa sensação de que no fundo sei que estou fazendo algo errado. E aí ao invés de prazer, autoafirmação ou satisfação de conquista, essa traição fará você carregar um outro sentimento chamado culpa, o que nada acrescenta de positivo.