por Antonio Carlos Amador
Para começar a tratar do assunto, vamos considerar o verbete do Dicionário de Psicologia da American Psychological Association: “O casamento é uma instituição social na qual duas pessoas (na maioria dos casos) geralmente, mas nem sempre, um homem e uma mulher comprometem-se com um relacionamento socialmente aceito no qual o intercurso sexual é legitimado e há responsabilidade legal reconhecida por quaisquer descendentes, bem como um pelo outro. Embora haja exceções, os parceiros conjugais tipicamente vivem juntos na mesma casa”.
Por que as pessoas se casam?
Algumas pessoas se casam porque estão apaixonadas. A paixão é definida pelos psicólogos como um sentimento ou convicção intenso, forte ou irresistível. Quando alguém se apaixona procura inconscientemente afastar qualquer imagem que possa perturbar o estado atual de sua paixão. Essa negação dos aspectos que perturbam ou aborrecem contribui mais tarde para acentuar as dificuldades da relação e corroê-la em sua base: estar cego, recusar-se a enxergar o que desagrada significa entrar num mecanismo de envolvimento autodestrutivo.
Há aquelas que se casam por conformismo, porque “todos se casam”. Outras por uma espécie de apego, necessidade de dependência, ou por incapacidade de organizar a própria vida com autonomia. Nesse caso, não é difícil prever uma união instável e infeliz. Num passado não muito distante também se encaminhavam nessa direção os jovens adultos, cujo desejo de sair de uma estrutura autoritária na família de origem alimentava a fantasia do casamento como fuga.
No início do casamento, uma aura romântica que envolve o relacionamento amoroso pode funcionar como um poderoso tranquilizante, superando as dificuldades criadas pela ânsia de uma vida frenética ou simples e cotidianamente monótona, aplacando a irritação da descoberta de defeitos inesperados no cônjuge e geralmente abrandando as novidades desagradáveis que a vida conjugal pode trazer nos primeiros tempos.
No começo existe afeto, comunicação fácil, atração sexual e às vezes, estima e confiança recíprocas. Um aprecia o outro, idealizando-o. Assim, na troca de amor e admiração, ambos experimentam uma sensação de serem os únicos felizardos, vivendo em estado de graça, ungidos pela providência divina. Mas, um casamento envolve mais do que simplesmente amor romântico.
Com o passar do tempo o período de encantamento romântico reflui e emerge o outro aspecto da relação, que nem todos estão preparados para enfrentar juntos: a ambivalência dos afetos, que está presente em todas as relações humanas. O amor e o ódio, a atração e a repulsão, o afeto e a aversão nunca podem ser separados completamente.
Acontece que não fomos educados para esse aspecto da vida amorosa, apesar de vivermos todos os nossos relacionamentos, mesmo os mais ricos e felizes, sob o signo da ambivalência.
Dificuldades pessoais podems e multiplicar
Quando o casamento é considerado a meta de chegada para a superação de uma série de dificuldades, espera-se dele um final de contos de fada do tipo “e viveram felizes para sempre”. Mas essa ideia é completamente falsa. Ninguém deixa de levar para o casamento os próprios problemas e as próprias limitações. Além disso existe uma grande probabilidade de que as dificuldades pessoais se multipliquem em vez de desaparecerem ou de se desvanecerem, na medida em que cada um tem sua própria carga de problemas somada à do companheiro. Então, ao invés de uma subtração o resultado é uma soma de dificuldades.
Um exemplo disso é o índice crescente de separações entre casais jovens, que pode ser atribuído a uma certa instabilidade, profundamente arraigada na vida moderna. As obrigações criadas pela promessa de viver juntos pelo resto da vida e a responsabilidade comum de criar filhos – que hoje em dia recai quase que exclusivamente sobre o jovem casal – produzem uma profunda ansiedade, que só pode ser enfrentada com equilíbrio. Esse equilíbrio pessoal, no entanto, nem sempre está presente na época do casamento. Sua construção envolve um esforço contínuo e persistente por parte dos cônjuges.