por Guilherme T. Ohl de Souza – psicólogo do NPPI
Já faz algum tempo que criminosos perceberam o potencial do uso do computador para suas práticas de golpes e a ingenuidade de grande parte dos usuários vem ao encontro dos seus interesses.
A Internet é um espaço onde se pode projetar o mundo “real” e permitindo ainda nossa interação com essa sua projeção. Alguns exemplos desse processo são os serviços online dos bancos ou as compras que podem ser feitas pela Internet. Apesar de serem virtuais, o dinheiro descontado pelo pagamento das contas ou o produto que chegou à casa do comprador são verdadeiros.
Assim, as ações que acontecem na Internet têm repercussão concreta e efetiva na vida “real”.
A característica de virtualidade, tão própria da Internet, dá a ela o poder de criação de novas realidades, ou da recriação da realidade como a conhecíamos antes de sua implementação. Com seu desenvolvimento, surgiram tecnologias capazes de simular a realidade com mais sofisticação e maior fidedignidade. A apresentação dos sites com interfaces cada vez mais amigáveis permitiu que empresas pudessem ser identificadas e reconhecidas pelo seu endereço eletrônico ou através de suas características visuais, como por exemplo, o logo da empresa.
Porém, estas características, por si mesmas, não garantem que o site visitado seja realmente o do banco ou da loja que se tem em mente. As quadrilhas eletrônicas copiam facilmente as interfaces e os endereços falsos, facilmente criados por seus componentes, contém nomes muito similares ao da empresa. Por exemplo, se o site de um banco é www.banco.com.br, basta registrar um domínio parecido, como www.banco.com para desenvolver uma tentativa de golpe. Para um internauta desatento o endereço parece ser o verdadeiro.
Há também os spams. Existem os mais “inocentes” que não passam de mera propaganda, ainda que indesejável, mas há aqueles em que o golpista busca coletar dados pessoais, principalmente senhas bancárias ou números de cartão de crédito dos incautos. Quem já não recebeu um “cartão de natal dos Correios”? Uma das dicas de segurança na Internet é não visitar sites suspeitos nem clicar em links de e-mails nos quais não confiamos. Mas, e quando nós supomos que aquele determinado site ou link é confiável? Até que conheçamos as minúcias necessárias para identificar adequadamente os site ou endereços de e-mail, ficamos à mercê dessas artimanhas enganosas e mal intencionadas.
A facilitação do acesso à Internet, seja pelo barateamento dos preços dos computadores, pela multiplicação das lan houses pelo país afora, ou ainda por meio das políticas públicas (governamentais ou não) de inclusão digital, levaram a um enorme aumento na quantidade de usuários brasileiros. Ao ampliar o acesso à Internet sem uma correspondente ampliação da consciência dos usuários a respeito dos riscos envolvidos na sua utilização, os processos mais simplistas de inclusão digital acabam por gerar um efeito colateral inverso aos benefícios por ela promovidos: o número de vítimas em potencial cresce e, conseqüentemente, aumentam os crimes e os prejuízos pessoais e sociais advindos destes.
Os movimentos de inclusão digital se fazem cada vez mais presentes em nosso meio, seja pelas iniciativas espontâneas surgidos nas comunidades mais carentes, seja por ações de Ongs mais conscientes das potencialidades do uso criativo da tecnologia, mas a maioria deles ainda tem por base a idéia de que inclusão digital é simplesmente fornecer equipamentos e, quando muito, treinamento na utilização dos programas de uso dos computadores.
Assim, uma educação em massa é imprescindível, não só do ponto de vista humanístico, em relação ao potencial de desenvolvimento social, psicológico e intelectual da população propiciado pelo bom uso das novas tecnologias, mas também do ponto de vista da segurança pública envolvida em tais aplicações.
Para o leitor que deseja se informar mais sobre segurança na Internet, deixo os endereços onde se encontram as cartilhas do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT), ligado ao Comitê Gestor da Internet e da Safernet, uma associação civil de referência nesta área:
http://cartilha.cert.br
http://www.safernet.org.br/site/prevencao