Inclusão digital pressupõe inclusão social

por Guilherme T. Ohl de Souza – psicólogo componente do NPPI

O Brasil é um país conhecido por suas enormes diferenças sociais. A concentração de renda aqui está entre as maiores do mundo. Essa concentração tem como conseqüência a exclusão de grande parte da população em relação aos serviços e bens de primeira necessidade e de consumo em geral, o que significa sua alienação da participação social em diversos níveis.

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Nos últimos tempos, um fenômeno social se transformou em outro fator de exclusão social, aumentando ainda mais a marginalização de muitas pessoas: a informatização das comunicações. Esse instrumental é de extrema importância e influência na vida das pessoas e da sociedade na medida em que desenvolveu (e continua desenvolvendo) novas formas de interação social e de fluência das dinâmicas financeiras. Desse modo, algumas das diferenças sociais pré-existentes se acentuaram ao proporcionar novas oportunidades de vida a quem tem acesso a esses recursos e simultaneamente marginalizar ainda mais quem não os tem.

O Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2005, realizado pelo IBGE, estimava um total de pouco mais de 32 milhões de pessoas com acesso à informática; Pouco depois (setembro de 2007) o IDGNow já computava 36,9 milhões de usuários brasileiros. Apesar do crescimento constante desses números, os totais ainda são pequenos, se analisados em relação à população brasileira como um todo.

Visto esse problema, parte da sociedade começou a se preocupar e a agir no sentido de diminuir o abismo eletrônico constatado. Ações de inclusão digital vêm tentando proporcionar o acesso à informática a um maior número de pessoas, principalmente viabilizando o seu acesso aos computadores. No entanto, a inclusão digital é entendida por muitos integrantes dessas ações como um simples treinamento técnico no uso da máquina e dos programas, como editores de texto, verificadores de e-mail, mensageiros instantâneos e outros programas mais populares e usados. Sem dúvida esse pode ser um primeiro passo. Porém, a inclusão digital, na verdade, é um processo maior, por meio do qual, a partir da utilização de meios eletrônicos, o usuário possa vir a ser inserido socialmente.

Inclusão digital e social

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Assim como a alfabetização deve ser considerada como algo mais do que decifrar o código escrito, a “alfabetização eletrônica” também deve ultrapassar a noção da dominação técnica de programas. Para issto, o usuário deve se apropriar das potencialidades que esses meios provêem, assimilando seu conteúdo com capacidade crítica de compreender e analisar as informações que recebe como uma das formas de sua integração à sociedade e de ampliar seu desenvolvimento como cidadão e ser humano. Outra característica importante da inclusão digital e social é o uso comunitário da tecnologia e da produção de bens sociais a partir da coletividade.

É necessário que se criem políticas públicas abrangentes, principalmente no setor educacional, pois as iniciativas isoladas que temos hoje suprem apenas uma pequena parte das demandas do país. Há algum movimento por parte dos governos, como o Programa de Inclusão Digital, o Computador para Todos, os Telecentros e Estações Digitais, mas esses exemplos (entre outros) enfrentam os mesmos entraves que os demais serviços públicos, cujas limitações bem conhecemos.

Sem dúvida os fatores econômicos e educacionais são grandes geradores da exclusão digital de muitas pessoas. Mas há uma considerável parcela da população que não pode ainda usufruir dos benefícios da inclusão digital (por conseqüência, a inserção social) por outras razões além dessas, pois possuem características especiais que limitam seu acesso à tecnologia ou demandam uma atenção especial nesse processo. Esses são, por exemplo, os deficientes físicos e mentais, crianças, idosos e indígenas, entre outros; Cada uma com sua particularidade, essas populações demandam programas bem elaborados e direcionados ao atendimento de suas necessidades. Indo além, é ainda preciso que as tecnologias em pauta sejam também permeadas por valores culturais e interesses comerciais, exigindo a presença de profissionais como educadores e psicólogos para que a absorção dos conteúdos observados na Internet possa realizar de modo efetivo o seu potencial enquanto gerador de inserção social, educação, cultura e desenvolvimento econômico.

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Sem dúvida esse nosso tema é amplo e multifacetado. Assim, para o leitor interessado fornecemos abaixo alguns endereços onde poderão ser acessadas mais informações sobre diferentes aspectos envolvidos na questão das correlações entre a exclusão/inclusão digital x social.

http://www.inclusaodigital.gov.br/inclusao

http://www.iti.gov.br/twiki/bin/view/Main/WebHome

http://www.telecentros.sp.gov.br/

http://www.softwarelivre.org.br/

http://samadeu.blogspot.com/

http://www.idbrasil.gov.br/