por Elisandra Vilella G. Sé
Experiência de tempo na velhice é discutida particularmente em termos de perspectiva de tempo futuro. Isto é, como as pessoas mais velhas orientam suas vidas, seus afazeres em direção a ele. O uso do tempo e a percepção do futuro têm um importante papel para a motivação no decorrer da vida.
Em linguística, as distinções entre passado, presente e futuro não só se determinam naturalmente, de acordo com cada cultura, como também se determinam de modo diferente para cada um, conforme a linguagem e as condições sociais de quem a fala.
Na concepção histórica, as conexões passado, presente e futuro apresentam-se de vários modos. Mas o principal é o modo de conceber uma consciência coletiva, uma memória histórica do passado. Santo Agostinho exprimiu com profundidade o sistema de três visões temporais ao dizer que só vivemos no presente, mas que esse presente tem várias dimensões, “o presente das coisas passadas”, “o presente das coisas presentes”, “o presente das coisas futuras”.
Na gerontologia, a percepção da passagem do tempo no momento presente é vista de acordo com as expectativas individuais. Por instante, o tempo é percebido como sendo de curta duração, quando a pessoa não consegue “estar em dia” com seus afazeres e com os compromissos com outras pessoas e com o desejo da ação de um grupo. Mas quando se necessita alcançar uma meta mais à frente, como por exemplo realizar um projeto, a percepção pode ser a de que o tempo passe lentamente. E também ocorre o contrário, a pessoa pode perceber o tempo passar rapidamente quando um acontecimento não precisa chegar, como por exemplo uma conta a pagar, ir ao hospital, um evento que a pessoa avalia como sendo negativo.
Modelos de envelhecimento
Existem dois grandes modelos que procuram explicar o processo de envelhecimento, uma vez que nem todas as pessoas envelhecem do mesmo modo. Um no qual o envelhecimento é percebido como um processo que pode ser marcado por declínios, diminuição das capacidades físicas, intelectuais e mudanças na vida do trabalho, na autonomia e na independência. E outro, no qual o envelhecimento é pautado por realizações de vários projetos existenciais, de enriquecimento pessoal, propiciando assim uma fonte de crescimento e conquistas das potencialidades como pessoa.
A representação da velhice está carregada de avaliações positivas e negativas. Como existem diferentes itinerários do envelhecimento, precisamos evitar esse pensamento dicotômico. Dessa forma, a percepção da experiência do tempo está relacionada às possibilidades do envelhecimento e estilo de vida. É um preconceito afirmar que pessoas idosas não planejam metas, não alcançam seus objetivos no futuro e não realizam seus sonhos. Isto é, a experiência da passagem do tempo está sempre atrelada ao sentimento de conquista. Pessoas que acumulam experiências de diversas naturezas, sentem bem-estar, se sentem possuidoras de uma boa qualidade de vida e mantêm um bom estado de saúde física/mental, prolongam a realização de projetos.
Estudos realizados com pessoas idosas, divididos por vários grupos de idade (velhos e muitos velhos), indicam que a percepção de perspectiva de tempo futuro está relacionada com otimismo na vida. Isso traz um alto valor de proteção para o bem-estar subjetivo (individual) e saúde mental na velhice.
Esses estudos explicam o sentido da realidade sobre as facetas da perspectiva de tempo para os diferentes grupos de idade. Ou seja, diferentes idades na velhice, desde o velho jovem, aos nonagenários, podem ser otimistas em relação ao futuro.
Outro estudo editado em livro pela Universidade de Cambrigde, feito por psicólogos na Alemanha com 148 idosos (P. B. Baltes and K. U. Mayer (1999) The berlin Aging Study. Aging from 70 to 100. Cambridge: University Press), investigou a diferença da perspectiva de tempo, incluindo questões relacionadas à frequência de duração aproximadamente do presente, do futuro e do passado com questões como:
a) O que você pensa sobre o tempo como um todo?
b) E sobre o passado, o presente ou futuro?
c) E se você compara o passado com o presente, qual você acha mais duradouro?
Também foi perguntado se as pessoas idosas tinham um futuro otimista. Além disso, foi perguntado sobre a proximidade subjetiva da morte, e finalmente, pela psicologia da percepção, três questões sobre quantidade subjetiva de tempo. Ou seja: “Quanto tempo você acha que tem para fazer algo?” e a percepção da rapidez de tempo (rapidez subjetiva), com a pergunta: “Como o tempo passa rapidamente para você?”.
O resultado foi de que o tempo é experenciado como passando rápido. Os resultados mostraram que os idosos mantêm preservadas a perspectiva de tempo futuro, uma vez que as pessoas mais velhas sentem ter tempo suficiente para suas atividades e realizações. Eles mantêm seus planos para o mês seguinte e a chegada do próximo ano e são bastante otimistas quando pensam sobre o futuro. Eles também pensam sobre o presente significativamente mais do que sobre o passado ou o futuro. E quando os dados revelaram que o otimismo do futuro diminui, foi de forma mínima.
Quanto a experenciar o tempo passar mais lentamente. Isso pode estar relacionado à ansiedade, estado de humor, condições de saúde, vários eventos diários, questões subjetivas ou quando estão sem atividade.
Essas pesquisas nos faz refletir sobre nossas experiências, eventos vividos, metas estabelecidas, objetivos de vida, lista de afazeres, desejos para o futuro. A percepção da passagem do tempo, a experiência de cada um com o tempo vivido é muito subjetiva e particular. São os momentos de felicidade, paz, alegrias, dores, marcas, relacionamentos, perdas experenciadas com intensidade em cada fase da vida, é que irão determinar se a pessoa viverá toda uma vida com esperança e perseverança; acreditando poder sempre ter um futuro melhor, com qualidade, independente da idade ou fase da vida.
Compreender o tempo e estar em dia com ele, significa preencher sua vida com as condições essenciais à existência humana, isso só se encontra no seu interior. Os sonhos são fatores fundamentais para prosseguir em seu caminho, para alcançar seus objetivos.
Todo ser humano tem a consciência de que o passado acabou e a vida futura ainda não chegou. Só o que existe é a vida presente e ela se renova a cada microfração de tempo. Portanto, só o futuro explica o passado. Todos nós queremos fazer as coisas no hoje, no aqui e agora, entender o hoje, o que está acontecendo hoje. E o que está acontecendo hoje, depende do resultado que o hoje vai trazer. Então, só no futuro você vai saber o porquê está acontecendo e como estão acontecendo as coisas neste momento.
Por isso a esperança é que move o ser humano. Acreditar que o futuro é muito melhor, mesmo com a sensação de que o tempo passa lentamente ou rapidamente é essencial à vida. E quando chega o futuro, aí você espera o outro futuro para entender o agora. Você estará sempre esperando o outro futuro para entender o que acontece. Enfim, todo mundo busca a felicidade e criamos uma felicidade para buscá-la.