por Ricardo Arida
Muitos estudos da literatura científica têm mostrado as ações benéficas do exercício físico na saúde cerebral.
Estudos científicos têm investigado os efeitos de um programa de exercício físico aeróbio sobre a função cerebral e melhora na cognição.
É importante salientar que as atividades praticadas nas academias e centros esportivos incluem além de atividade aeróbia, exercícios de força. Realmente, combinações de exercícios aeróbios e de força (também conhecido como treinamento de resistência ou de levantamento de peso) são essenciais na rotina dos programa de exercícios físicos.
Investigações científicas mostram que o treinamento de força melhora não somente a força muscular, mas também a massa muscular e massa óssea, a flexibilidade, o equilíbrio dinâmico, o humor, a autoconfiança e a autoestima dos praticantes. Ainda, os sintomas de muitas doenças crônicas, tais como artrite, depressão, diabetes tipo-2 e da osteoporose podem ser reduzidos após um programa adequado de exercícios de força ou resistência muscular.
Entretanto, ainda são escassas as informações sobre o exercício de força ou resistido no sistema nervoso central (Cassilhas et al., 2007, 2012). É importante salientar que esse tipo de exercício é o mais praticado pelas pessoas que geralmente utilizam de forma abusiva os anabolizantes (esteróides anabólicos androgênicos – EAA) em academias de ginástica ou para melhorarem o desempenho esportivo. Especialmente entre jovens, o uso abusivo dessas substâncias é crescente, e em geral, tem sido usado principalmente para estética ou aparência pessoal (Lumia e McGinnis, 2010).
Estes hormônios (EAA) compreendem a testosterona e seus derivados. Eles são produzidos nos testículos e no córtex adrenal (glândulas adrenais) e promovem as características sexuais secundárias associadas à masculinidade (Arlt, 2006). As glândulas adrenais e os ovários representam as principais fontes de androgênios (hormônios sexuais) em mulheres e as glândulas adrenais e os testículos nos homens. Seus efeitos no sistema nervoso central (SNC) vêm sendo crescentemente estudados. Apresentam funções na diferenciação sexual do SNC no período embrionário e interferem na conduta sexual masculina e agressividade.
Efeitos
* Doses suprafisiológicas de EAA podem causar efeitos fisiológicos e comportamentais adversos. Alterações psiquiátricas, como aumento da ansiedade, depressão, irritabilidade e agressividade são comumente vistos em usuários de AAS (Sjöqvist et al, 2008). Em doses suprafisiológicas, os EAA podem elevar a atividade de neurotransmissores em áreas do SNC, o que pode modificar os centros de controle do humor e comportamento. Como efeitos colaterais oberva-se hipercolesterolemia (colesterol ruim alto), hepatotoxidade (danos no fígado ocasionados por substâncias químicas), hipertensão, infarto e acidente vascular encefálico após uso crônico e abusivo de EAA (Ishak e Zimmerman, 1987; van Amsterdam, 2010).
Em geral, os estudos são contraditórios quantos aos efeitos dos EAA na cognição e humor. Em estudos com animais, a administração de altas doses de EAA mostraram prejuízo em testes de memória. Em contrapartida, os EAA podem melhorar a aprendizagem e memória em doses fisiológicas para adultos e idosos com ou sem declínio cognitivo (Tan et al., 2004; Hajszan et al., 2008). Neste sentido, é importante entender como doses elevadas de EAA associados ao exercício resistido podem afetar função cerebral.
O grupo de pesquisadores da UNIFESP publicou recentemente na revista Psychoneuroendocrinology, de grande impacto científico, um estudo com animais que verifica a influência do exercício de força associado com um EAA, a nandrolona no hipocampo (região do sistema nervoso relacionada a memória e aprendizado) (Novaes Gomes e col., 2014). Os animais foram submetidos a um protocolo de exercício de força, onde se observa alterações musculares (hipertrofia) similares a um treinamento em humanos.
Os resultados mostraram que o treinamento de força provocou um aumento do número de células e proteínas relacionadas à proteção celular nesta região estudada e este efeito foi diminuído quando o exercício foi associado ao uso de dose suprafisiológica deste anabolizante. Este é um estudo preliminar que aborda apenas alguns apectos desses tratamentos na função cerebral. Entretanto, não está bem esclarecido se e como o uso ilícito de EAA pode prejudicar os efeitos benéficos do exercício de força no SNC. Mais estudos são necessários para avaliar os efeitos do exercício de força associado com o abuso de EAA nas alterações funcionais e comportamentais do sistema nervoso.
* A indicação seria para uso terapêutico, isto é, como intervenção no tratamento de enfermidades.
Referências:
Cassilhas et al. The impact of resistance exercise on the cognitive function of the elderly. Med Sci Sports Exerc, 39: 1401-1407, 2007.
Cassilhas R et al. Resistance exercise improves hippocampus-dependent memory. Brazilian J. Med. Biol. Res. 45:1215-1220, 2012.
Lumia AR e McGinnis MW. Impact of anabolic androgenic steroids on adolescent males. Physiol Behav. 100(3):199-204, 2010.
Arlt W. Androgen therapy in woman. European Journal of Endocrinology. 154:1-11, 2006.
Sjöqvist F et al. Use of doping agents, particularly anabolic steroids, in sports and society. Lancet. 31(371):1872-82, 2008.
Ishak KG e Zimmerman HJ. Hepatotoxic effects of the anabolic/androgenic steroids, Seminars in Liver Disease. 230-236, 1987.
Van Amsterdam F et al. Adverse health effects of anabolic-androgenic steroids, Regulatory Toxicology and Pharmacology. 57: 117-123, 2010.
Tan RS, Salazar JA. Risks of testosterone replacement therapy in ageing men. Expert Opin Drug Saf. 3(6):599-606, 2004.
Hajszan T et al. Role of androgens and the androgen receptor in remodeling of spine synapses in limbic brain areas. Horm Behav. 53(5):638-46, 2008.
Novaes Gomes FG, Fernandes J, Vannucci Campos D, Cassilhas RC, Viana GM, D'Almeida V, de Moraes Rêgo MK, Buainain PI, Cavalheiro EA, Arida RM. Thebeneficial effects of strength exercise on hippocampal cell proliferation and apoptotic signaling is impaired by anabolic androgenic steroids. Psychoneuroendocrinology. 22;50C:106-117, 2014