por Jocelem Salgado
Existe interesse cada vez maior entre os pesquisadores da área de saúde em estudar como e quais alimentos interferem na ação de determinados medicamentos.
A interação droga-nutrientes é um assunto relativamente recente e as informações a respeito ainda são pouco escassas, mas vêm crescendo nos últimos tempos. Vale ressaltar que não só os fármacos podem interferir sobre a absorção e o aproveitamento dos nutrientes, mas alguns alimentos e nutrientes também podem interferir sobre a ação desses.
Outros fatores além da alimentação que podem afetar o mecanismo de ação do medicamento, são por exemplo, a idade, o peso e o sexo. No entanto, neste artigo vamos enfatizar mais sobre as interações que possam ocorrer entre medicamentos e alimentos.
Existe um elevado número de interações alimento-medicamento sendo que as principais interações ocorrem com drogas cardiovasculares, com fármacos anti-inflamatórios com agentes diuréticos e com fármacos que atuam sobre o trato digestório.
Do ponto de vista clínico, as interações entre alimentos e fármacos são importantes quando houver diminuição da eficácia terapêutica, aumento de efeitos tóxicos ou quando resultarem em má absorção e utilização incompleta de nutrientes, comprometendo o estado nutricional ou acentuando a desnutrição já existente.
Sempre escutamos falar sobre a interação do leite, café e álcool com inúmeros medicamentos. Por exemplo se a pessoa ingeriu bebida alcóolica, a forma como o seu medicamento atua pode ser alterada quando:
– você ingere o medicamento com álcool;
– você consome álcool depois de ter tomado o seu medicamento;
– você toma o medicamento depois que você consumiu álcool.
Além de reduzir a absorção do medicamento, o álcool também pode aumentar os efeitos colaterais causados pelos medicamentos, por exemplo, o consumo de álcool aumenta a sonolência provocada pelos antialérgicos, demonstrando uma correlação negativa.
No caso dos analgésicos e antipiréticos (medicamento usado para abaixar a temperatura do corpo em casos febris) o efeito é contrário, a cafeína aumenta a ação desses medicamentos.
É preciso esclarecer algumas precauções específicas para o consumo de determinados medicamentos. No caso de medicamentos para doenças cardiovasculares, os inibidores da enzima conversora de angiostensina podem elevar a quantidade de potássio do corpo. Por isso, ao consumir tais medicamentos evite comer grandes quantidades de alimentos ricos em potássio, como banana, laranja e substitutos do sal que contenham potássio. Já no caso das estatinas, o funcionamento é melhor se tomadas na refeição matinal.
Evidências demonstram que o suco de grapefruit (uma fruta comum nos Estados Unidos) pode aumentar a quantidade do composto no organismo, e consequentemente, aumentar sua absorção. Outro exemplo de uma correlação positiva entre alimento e medicamento é que o leite pode aumentar a absorção do propanolol. Em contraposição, um problema relacionado a medicamentos para doenças cardiovasculares é que o consumo de alimentos ricos em fibras, como a cenoura, pode atrapalhar a absorção da digoxina. Outro aspecto negativo, é que o consumo de amilorida com alimentos ricos em cálcio como leite e queijo é inconveniente uma vez que o medicamento impede a absorção de cálcio.
Semelhante à digoxina, o paracetamol, um anti-inflamatório muito utilizado, não é totalmente absorvido quando ingerido com alimentos ricos em fibras. Ao se tratar de anti-inflamatórios, uma atenção especial também deve ser dada ao ácido acetilsalisílico que tem sua absorção reduzida quando consumido em conjunto com suco de maracujá (vitamina C) ou alface (Vitamina K).
Ao utilizar antibióticos, alguns cuidados devem ser tomados como por exemplo o consumo de ciprofloxacina com leite, queijo ou sorvete. As tetraciclinas prejudicam a absorção de ferro e cálcio.
Quando utilizamos antifúngicos como o itraconazol, devemos tomá-lo durante ou logo após uma refeição completa para obtermos maior eficiência. Em algumas circunstâncias, recomenda-se a administração de determinados medicamentos com o estômago cheio, a fim de minimizar a ação irritativa dessas drogas sobre a mucosa gastrointestinal.
No tratamento da osteoporose, os medicamentos só funcionam quando você consumi-los com o estômago vazio. Não tomar antiácidos ou qualquer outro medicamento, vitaminas ou outros suplementos alimentares pelo menos 30 minutos após a ingestão de alendronato ou risedronato, e por pelo menos 60 minutos após tomar o ibandronato.
Outra atenção deve ser dada ao consumo de vitamina B12, presente em frango, carnes, ovos e em alimentos de origem animal em conjunto com o medicamento omeprazol ou ranitidina. Esses medicamentos depletam (reduzem) a absorção da vitamina B12.
Por sua vez, o hidróxido de alúminio depleta a absorção do ferro presente em grande quantidade no feijão.
Além disso, laxantes como óleo mineral vem sendo relacionados com a redução na absorção de vitamina A e vitamina K presentes na abóbora e em saladas de vegetais.
Assim, a ingestão de um medicamento longe, próximo, imediatamente antes ou depois e durante as refeições pode ter muita importância na obtenção do efeito desejado.
Inúmeras outras interações acontecem e devem ser melhor estudadas.
Mas já fica aqui uma dica, consulte um profissional de saúde e procure saber qual a melhor maneira de consumir determinado medicamento para que obtenha o melhor resultado do emprego desse medicamento, evitando que haja prejuízo no tratamento, aumento do tempo de internação e/ou danos ao estado nutricional do paciente.