Por Stella Arengheri
A intervenção fonoaudiológica em grupo se mostrou um recurso eficiente para melhorar a comunicação de pessoas com esquizofrenia, mostra estudo da pesquisadora Ariana Elite dos Santos, realizado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
A dificuldade de comunicação é um dos principais sintomas que atinge as pessoas com diagnóstico positivo para a doença. Segundo especialistas, esses indivíduos podem apresentar um discurso desorganizado, sem sentido e até mesmo incompreensível, com respostas curtas e, geralmente, sem desenvolvimento dos assuntos. Isso, somado aos outros sintomas desse transtorno mental do pensamento, como os delírios e as alucinações, refletem diretamente na dificuldade de inserção dessas pessoas na sociedade.
Entra aí a importância de medidas que contribuam para que essa população consiga estabelecer comunicação com o mundo e para que não se sinta sozinha e isolada, uma queixa comum. “Medidas que auxiliem no sentimento de pertencimento, de inserção no meio onde vivem, podem ser fundamentais para essas pessoas, pois o abalo da comunicação afeta as relações de tal forma, que elas deixam de ir a festas, visitar os familiares e podem, inclusive, abandonar o trabalho e os estudos”, relata Ariana. Ela avaliou o comportamento comunicativo de indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia e verificou a efetividade da intervenção fonoaudiológica.
Segundo Ariana, que é fonoaudióloga, os resultados mostraram que, após a intervenção em grupo, o discurso dos participantes foi mais coerente, o vocabulário mais amplo, houve mais facilidade para entender metáforas e “indiretas” e melhor expressão das emoções notadas pela entonação da voz. “A expressão de emoções e sentimentos é uma dificuldade comum entre as pessoas com esquizofrenia e, após as sessões de fonoaudiologia, houve melhora significativa”, comemora.
A intervenção proposta pela pesquisadora foi além de atividades que envolvam a expressão verbal, como narração de histórias, jogos de adivinhação, bingo, atividades com figuras, canto, dramatização de cenas e apresentação de propaganda política. Os participantes também fizeram atividades de dança que, segundo Ariana, levaram a melhora da consciência corporal em que “foi possível verificar que essas pessoas usam as expressões corporais como ponte para se comunicar com o mundo”.
De maneira geral, a intervenção fonoaudiológica permitiu, além da melhora da comunicação, a melhora também do humor e da expressão corporal e uma maior autonomia dos participantes, demonstrada pelo desejo de voltar às atividades cotidianas e em sociedade. “Os participantes apresentaram satisfação em participar do grupo de intervenção fonoaudiológica, além da melhora da comunicação e, consequentemente, da autonomia.”
O estudo foi feito com 19 pessoas diagnosticadas com esquizofrenia que foram divididas em dois grupos: o Grupo Experimental (GE), que passou por intervenções fonoaudiológicas, e o Grupo Controle (GC), que não participou dessas intervenções. O GE passou por 24 sessões de fonoaudiologia, durante 12 semanas e que envolveram várias atividades.
Ariana concluiu que as sessões de fonoaudiologia podem ser utilizadas como uma nova forma de terapia para a reabilitação de pessoas com esquizofrenia, facilitando o retorno aos ambientes sociais. “A intervenção fonoaudiológica é efetiva na melhora do comportamento comunicativo de indivíduos com esquizofrenia. Além disso, a ela pode ampliar sua atuação, ao utilizar a comunicação como instrumento de socialização e contribuir para a melhoria das condições de vida dessas das pessoas em sofrimento mental.”
A tese Comportamento comunicativo de indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia: efetividade da intervenção fonoaudiológica foi defendida em fevereiro deste ano e orientada pelo professor Luiz Jorge Pedrão.
Mais informações: e-mail arianelite@hotmail.com e pelo Instagram: @fonoesaudemental
Fonte: Agência USP