Da Redação
Não é de hoje que o olhar do invejoso causa prejuízos. Na história bíblica, Adão e Eva, por terem inveja do que é belo, desafiaram as ordens de Deus, comeram do fruto proibido e foram expulsos do paraíso. Polícrates, na Grécia Antiga, o tirano da ilha de Samos, livrou-se dos irmãos para deter a fortuna do império somente para si e padeceu, anos depois, vítima do próprio deslumbre e ignorância.
Inveja corporativa
E no ambiente corporativo, será que é diferente?
Pesquisas desenvolvidas pelas pesquisadoras da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, Tanya Menon e Leigh Tompson, afirmam que não. Para elas, o hábito de celebrar as vitórias cotidianas de um colaborador encobre, muitas vezes, outro lado soturno e patológico: quero que esta pessoa se dê mal para que eu alcance os meus objetivos.
A inveja é responsável por causar rupturas e queda na produtividade dentro das organizações. Explico.
A inveja é uma das emoções mais primitivas do ser humano e está relacionada à obtenção e incorporação das qualidades boas que o outro possui. Nesse sentido, o indivíduo abre mão de enxergar a característica cobiçada dentro do seu próprio eu para investir energia apenas na gratificação que pode vir do ambiente externo.
Inveja corporativa e rupturas
No ambiente corporativo, por exemplo, esse sentimento causa rupturas, uma vez que, por não suportar conviver com a qualidade invejada, o indivíduo passa a tornar-se irritável, retraído e pouco disposto a conviver de forma harmônica com os colegas de trabalho e líderes diretos. Ou seja, para não lidar com os objetos-alvo da inveja, torna-se mais fácil destruí-los, seja por meio de intrigas ou, simplesmente, de ofensas diretas ao trabalho alheio.
Paralelamente, todo esse movimento destinado a destruir esses objetos (pessoas invejadas) requer um esforço psíquico. O indivíduo, então, em vez de se empenhar em estimular o próprio desenvolvimento, utiliza toda a libido (energia mental) nessa trama patológica, deixando-o esvaziado internamente para produzir mais, ser criativo ou compartilhar ideias. Enfim, sempre focado na visão do outro, se esquece que dentro de si existe um enorme quantum de energia criativa e transformadora.
Assim como Adão, Eva e Polícrates, é mais fácil cobiçar o que as outras pessoas possuem, uma vez que isso isenta o indivíduo da responsabilidade pelo próprio sucesso. Psicologicamente falando, a inveja cria a ilusão de que os culpados advêm do ambiente externo, logo, necessitam ser destruídos, rechaçados e eliminados. E quanto mais rápido, melhor!
Doravante, nada mais cômodo do que a crise econômica atual para acrescentar a cereja ao bolo, não é mesmo? “Se esta pessoa for demitida, eu chego lá”, “meu colega é incompetente, eu é que sou necessário nesta empresa” e “não preciso do meu chefe para executar o meu trabalho” são as justificativas que começam a constituir uma teia de comportamentos abarrotados de fantasia e distorção.
Quanto menor o número de concorrentes, maior o delírio de poder, o que diminui a angústia de um possível fracasso. Afinal, destruir o outro para deter tudo que ele possui cria a ilusão de que também houve um triunfo, gerador de grande prestígio. Para quem inveja, é como se o cérebro delineasse a seguinte sentença: “destruí o objeto invejado, logo, sinto-me tão poderoso por tal atitude que nem preciso olhar para as minhas deficiências”. É interessante perceber que, no final do processo, o objetivo maior do invejoso é destruir a inveja que existe dentro dele mesmo.
Mas será que todo esse movimento realmente funciona?
Para Tanya e Leigh, quanto mais o indivíduo investe na inveja, menos chances ele possui de usufruir daquilo que possui de melhor. E, assim como alude o ditado popular “em terra de cego, quem tem olho é rei”, olhar para dentro de si mesmo é a única forma de despertar habilidades para uma carreira promissora.
Primeiro passo para se libertar da inveja
Para isso, faz-se necessário recorrer a mudanças substanciais de pensamento. A primeira delas consiste em utilizar a inveja como catalisadora para o autoconhecimento. Em vez de concentrar esforços em tentar eliminar o outro, por que não recorrer às autorreflexões:
– Será que eu também possuo a qualidade que eu cobiço naquela pessoa?
– Em quais momentos eu já consegui agir com essa qualidade?
– Como posso desenvolvê-la em meu dia a dia?
Foque-se nos seus objetivos!
Focar nos próprios objetivos também é primordial. Para que perder tempo com a vida alheia? Quanto mais empenhado o indivíduo está em desenvolver as suas atividades, ele minimiza a inveja, produzindo, assim, um ciclo intermitente de realizações e bem-estar. Ao invés de direcionar atenção para o meio externo, administrar pensamentos, direcionando-os para si, modifica a estrutura psíquica, criando caminhos neurais repletos de significado e propósito.
E por que não substituir a inveja por emoções construtivas?
Em vez de fazer o papel da “criança rebelde”, que nunca está satisfeita com o que possui, estimular a gratidão é o mecanismo que preenche todos os vazios profissionais. Assim, agradecer com frequência, ajudar a sanar as dificuldades do colega de trabalho e desenvolver subordinados permitirá que elos afetivos sejam criados, solapando a destrutividade causada pela inveja corporativa.
Analisar o macroambiente, em detrimento da visão limitada dos fatos isolados, também conduz o indivíduo rumo a uma melhor percepção da realidade. Na existência de situações desagradáveis, lembrar-se das conquistas e dos benefícios adquiridos ao longo da trajetória profissional é o caminho ideal para estabilizar emoções belicosas, reacendendo a chama da motivação e da performance. Afinal, para quem quer enxergar, a vida será sempre mais bonita.
Fonte: Lucas Diegues é formado em Sistemas da Informação pela FIAP e atua há dez anos no mercado business-to-business (B2B).