por Alex Botsaris
Nesta segunda-feira, 07 de maio, comemora-se o Dia do Oftalmologista. Há quem diga que os olhos são o espelho da alma. Às vezes, apenas por um olhar, podemos intuir o que se passa pela mente de uma pessoa. Por isso, os olhos atraem o interesse do ser humano, desde os primórdios da humanidade.
Uma prática tradicional, a iridologia, se propõe a usar os olhos, mais particularmente o exame da íris, para diagnosticar problemas de saúde.
A iridologia ocidental foi criada por um médico homeopata, o Dr. Ignatz Von Peczely, no século XIX. Sua idéia surgiu quando ele notou o surgimento de uma mancha na íris de um paciente seu, que havia quebrado uma perna. Von Peczely relacionou esse episódio com um fato observado em sua adolescência, o surgimento de uma mancha na íris de uma coruja, a qual era seu animal de estimação, após quebrar uma asa. Alguns historiadores ainda alegam que Peczely salvou a vida de sua mãe através da iridologia.
Mapa da íris
Um discípulo de Peczely, Dr. Schlegel, compilou suas conclusões num livro que estimulou outros médicos a experimentarem a técnica, e assim ela ganhou vários adeptos. Há ainda a referência ao trabalho de um pastor sueco Liljquist, que chegou as mesmas conclusões de Peczely e começou a fazer um mapa da íris. Com essas duas fontes, foram elaborados mapas da íris usados até hoje pelos iridologistas. Um dos mais conhecidos é o mapa compilado pelo Dr. Bernard Jensen o mais famoso iridologista americano do século passado.
Entretanto a iridologia tem falhado constantemente em se mostrar válida nos estudos científicos realizados até o momento. O próprio Dr. Jensen, numa pesquisa clínica junto com outros dois experimentados iridologistas, falharam em identificar portadores de doença renal num grupo de 143 indivíduos, onde 48 tinham provas de função renal alterada.
Além de não conseguirem separar pacientes doentes de sãos, com um índice significativo de acertos, os três iridologistas apresentaram muitas diferenças entre si nos resultados, sugerindo uma interpretação muito subjetiva dos achados na íris.
Outro estudo que se tornou referência para os críticos da iridologia, foi realizado na Autrália. Um experiente iridologista australiano recebeu fotos da íris de 15 pacientes com 33 problemas médicos definidos. Ele errou cerca de 90% dos diagnósticos e ainda fez 60 outras descrições de problemas que não existiam. Em 1980, cinco iridologistas holandeses experientes foram apresentados a fotos da íris de 78 pacientes, para identificar quais tinham doença na vesícula biliar. Nenhum dos cinco conseguiu identificar os portadores de litíase biliar com uma precisão que fosse significativa do ponto de vista estatístico.
Um estudo publicado recentemente no "Journal of Alternative and Complementary Medicine" ainda veio reforçar mais ainda essa impressão. Nele, 110 pessoas, sendo 68 portadoras de câncer em diversos órgãos, foram examinadas por um iridologista experiente para identificação do seu problema. O iridologista só acertou o diagnóstico de três pacientes, uma sensibilidade considerada não significativa.
Antes de ser proposta por Von Peczely, a iridologia era usada como método diagnóstico na medicina chinesa, indiana e por sacerdotes egípcios. A metodologia da medicina indiana sugere que a íris possa dar mais informações subjetivas e relativas a estados emocionais e espirituais, e não diagnósticos de localização como pretendiam os iridologistas ocidentais.
Sabemos que a íris possui um desenho único para cada indivíduo humano, o que sugere uma influência, ao menos indireta, da diversidade do genoma humano. Portanto, é necessário que a iridologia seja avaliada sobre outros aspectos – além da sua capacidade de identificar órgãos doentes – considerando que ela é uma medicina tradicional que sobreviveu até nossos tempos. Em geral medicinas tradicionais sobrevivem ao longo do tempo, porque trazem um benefício aos pacientes, mesmo que esse benefício não seja evidente. Outro ponto a ser levado em consideração, é que a metodologia da ciência nem sempre é adequada para avaliar medicinas tradicionais.
No mais, é preciso que, pacientes e iridologistas, fiquem cientes que o diagnóstico pela íris não tem o mesmo significado do diagnóstico patológico orgânico que a metodologia da medicina convencional faz, como mostraram os estudos.