Por Aurea Caetano
Em tempos de relações virtuais, o espaço de encontro terapêutico presencial é palco de trocas muito significativas. Alguns pacientes procuram a terapia como lugar possível de encontro verdadeiro; ou com uma pessoa de verdade, um ser humano real.
O “jogo terapêutico” ou encontro analítico é o encontro entre duas pessoas na qual uma, o terapeuta, tenta ajudar a outra, o paciente, a se compreender melhor ou se conhecer melhor e poder, dessa forma, ter uma vida mais significativa.
Podemos pensar que há várias possibilidades diferentes de compreender o que seja uma vida significativa. O terapeuta está a serviço do processo do paciente, isto é, é este último que vai reger o funcionamento da terapia e indicar de forma consciente ou não para onde ela caminhará. Esta é sempre uma via de mão dupla, com múltiplas possibilidades de intersecção, que levarão fatalmente a lugares diferentes a depender de quais os caminhos escolhidos. O terapeuta com seu treino prático e teórico tem de poder estar inteiro e ao mesmo tempo livre para auxiliar o paciente em suas escolhas, sem interferir, sem julgar, funcionando como espécie de guia a iluminar o caminho a ser trilhado.
Esse processo, que é sigiloso e confidencial, costuma acontecer no espaço que nós, junguianos, chamamos de “vaso terapêutico”; referência aos antigos alquimistas que trabalhavam de forma dedicada por anos a fio na mistura e transmutação de materiais em seus vasos e retortas hermeticamente fechados. Espera-se de um processo psicoterápico a mesma dedicação e delicadeza, que o espaço de atendimento seja fechado, que os processos possam ter lugar garantido e que não haja vazamento de materiais. Paciente e terapeuta tem de cuidar juntos desse vaso de forma a não permitir ou facilitar o “escape’’ das trocas que acontecem no processo.
Paciente e terapeuta estão conectados nesse processo e devem cuidar dele juntos, de forma responsável. Costuma-se dizer que quando um processo acontece de forma verdadeira, tanto o paciente quanto o terapeuta são transformados. Importante lembrar sempre que cada um de nós é um sujeito ímpar, que exerce seu trabalho a partir de sua própria individualidade, com as habilidades que foi desenvolvendo ao longo de sua vida. E mais, que em nosso trabalho “o observador é também o observado e que a psique (mente) não é apenas o objeto, mas também o sujeito de nossa ciência” (Jung, C. G.)