por Regina Wielenska
A cada século registra-se um avanço da expectativa de vida de homens e mulheres. Isto se deve aos progressos da medicina, da informação disponível sobre saúde e prevenção de doenças, e muito outros fatores se somam a estes.
Como viver os efeitos da passagem do tempo sobre nós? A pele, articulações, artérias, tudo pode se modificar, inclusive o cérebro, a estrutura que faz o meio de campo entre nossa identidade e mundo que nos rodeia. Nem sempre preservamos a saúde, física ou mental, à medida que mergulhamos na segunda metade da nossa vida. Interessante é notar que algumas pessoas, independente de suas idades, parecem particularmente interessadas na vida. Mesmo que essa forma de estar no mundo não assegure plena saúde e longevidade a todos que ajam assim. Com certeza essas pessoas possuem uma forma de pensar e de agir que atrai bem-estar, cultivando amizades, afastando a solidão e o amargor.
Quais padrões de comportamento parecem ajudar? Ter uma atitude de eterno estudante perante o mundo. Nunca será tarde para aprender algo, para viver o amor renovado, um novo ofício, conhecer novas gentes, lugares, livros, canções, sabores, paisagens. Maravilhar-se com as coisas grandes e pequenas da existência. Ser capaz de dar a volta por cima quando a vida te derrubar, nos momentos de aridez e aspereza.
Para ilustrar essa perspectiva me inspirei em algumas de muitas histórias que conheço para ilustrar meu ponto. Abraham Kasinsky foi um europeu nascido em 1917, tornou-se proprietário de uma empresa de autopeças bastante conhecida no Brasil e, com oitenta anos de idade, vendeu sua empresa e fundou uma montadora de motocicletas, tornando-se garoto propaganda de seu novo produto. Na hora em que muitos já pararam, ele recomeçava. Alberta Hunter (1895-1984), uma das damas do jazz americano, viveu em meio ao marginal e turbulento mundo da música até a década de cinquenta, quando se tornou auxiliar de enfermagem por bom tempo. Em 1977 retoma a carreira musical, e dela apenas se despediu quando sua vida foi ceifada em 1984. Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho, nosso renomado arquiteto nascido em 1907, resolveu casar-se novamente com 98 anos de idade e continua trabalhando, coordenando projetos de seu escritório, recebendo repórteres, escrevendo.
Faz muito tempo que Robert Redford deixou de ser galã, permaneceu ativo no mundo das artes e o bem-sucedido festival de cinema independente de Sundance deve sua existência ao poder criativo e administrativo desse homem. Alguém duvida que a apresentadora de TV Hebe Camargo é uma especialista em se agarrar ao mundo com disposição, encantamento e bom humor? Tratou de lidar vigorosamente com um tumor que a acometeu, e logo retornou ao trabalho e ao mundo das festas e viagens assim que o tratamento permitiu.
Seria fácil passar horas discorrendo sobre histórias como as que eu brevemente citei aqui. O essencial em cada uma delas, é que essas pessoas de diferentes idades são muito jovens, apresentam uma flexibilidade de ajuste às adversidades, cultivam um ou mais tipos de prazeres, são ativas, cercam-se de pessoas, exercitam as funções cognitivas com estimulação apropriada, e quando ficam sós é por opção, nunca por falta de.
Precisamos plantar sementes favoráveis hoje e sempre se queremos envelhecer jovens. Nenhuma cirurgia plástica ou substância antioxidante resolve quando se trata de bem aproveitar os dias, meses, anos ou décadas que se tem para viver com uma cabeça cheia de energia, cercada de amor, tirando partido de um entendimento profundo sobre a vida.