Da Redação
São Paulo é uma metrópole que abriga milhares de jovens que moram sozinhos. Oriundos de vários lugares, vivenciam uma experiência única, a qual foi o objeto de estudo da dissertação de mestrado A casa na cidade: uma leitura junguiana da experiência de jovens que moram sozinhos em São Paulo, apresentada por Gustavo Pessoa no Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Um dos resultados do estudo mostra que a juventude, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o período entre os 20 e os 29 anos, de fato se constitui como uma etapa distinta da vida, com suas dinâmicas próprias, e que merece atenção.
Entre essas dinâmicas, a mais característica está no eixo segurança-liberdade, levantado por sociólogos como Zygmunt Bauman e Richard Sennett. O jovem, mais maduro que o adolescente, aos poucos migra em direção à liberdade espacial, constituindo casa própria, mas isso traz enorme insegurança. Com o passar do tempo, a casa própria torna-se ela mesma fonte de segurança e foco. Esse eixo de liberdade-segurança se alterna o tempo todo na vida do jovem, diferentemente do adulto, mais maduro, que tende a se estabelecer na segurança das conquistas profissionais e relacionamentos já consolidados. Para o jovem, tudo é uma nova aventura.
A pesquisa foi desenvolvida entre os anos de 2011 e 2013, e surgiu a partir da experiência pessoal do pesquisador. Quando começou a trabalhar na dissertação, Pessoa também era um jovem em começo de carreira, que morava sozinho e traçava uma vida independente dos pais.
O estudo compreende uma análise profunda sobre a juventude e a questão da constituição do espaço próprio de cada um
Naquele momento, percebeu uma contradição: a sua condição também era comum a muitas pessoas, mas a temática da transição da adolescência para a vida adulta era pouco explorada pela psicologia.
O estudo compreende uma análise profunda sobre a juventude e a questão da constituição do espaço próprio de cada um, a simbologia pertinente ao estabelecimento da casa na cidade. A pesquisa foi feita a partir da leitura da psicologia analítica de C.G. Jung, além de obras de filosofia, sociologia e arquitetura. Também houve entrevistas com seis jovens, de 20 a 29 anos, convidados por meio da rede de contatos pessoais do pesquisador. Os diálogos incluíram visitas às suas casas e a tomada de material fotográfico de suas residências produzidos pelos próprios entrevistados. Ao longo do processo, Pessoa foi surpreendido pela interlocução existente entre essas diversas áreas analisadas, e mais: “Também foi surpreendente a rigidez da academia em relação aos métodos que exploram a subjetividade do humano, pois há um longo processo burocrático para a aprovação de projetos que estudam esse eixo temático”.
Geração Y
“Gostaria que as pessoas entendessem a importância do tema. Na mídia, há debates rasos sobre o que chamam de ‘Geração Y’ – de jovens nascidos entre o fim da década de 1970 e a metade da década de 1990 – e uma série de profissionais tentando, de forma enérgica, compreender os jovens. Parece que estamos em uma fase de transição no mercado de trabalho, de modo que é imprescindível que a academia estude de forma profunda, e aberta ao diálogo com a sociedade, a questão da juventude e como ela se constitui. Essa pode ser uma porta para encontrarmos caminhos para uma série de temas importantes dessa juventude: emprego, carreira, drogas, sexualidade, relação com outras gerações, entre outros”.
Mais informações: gustavompessoa@gmail.com, com Gustavo Pessoa
Imagem: USP imagens – Marcos Santos
Fonte: Agência USP de Notícias