Languishing: já ouviu falar?

Languishing – definhando-, é o mais novo ‘transtorno’ de saúde mental surgido na pandemia; entenda

Não é tristeza, não é cansaço, não é depressão… É mais um desânimo, uma desmotivação, a sensação de carregar um peso invisível e constante; um coração apertado, respiração difícil e uma alma vazia em um corpo que luta para se reencontrar, que há muito tempo não se vê, não se sente… Esses sentimentos e sensações definem o languishing (definhando), o mais novo transtorno de saúde mental aflorado na pandemia.

É um adoecimento novo e, por isso, ainda há dificuldade para identificar esse fenômeno psicológico. O termo foi cunhado pelo psicólogo e sociólogo americano Corey Keyes, que ficou impressionado com o fato de que muitas pessoas que não estavam deprimidas também não estavam prosperando. Na pesquisa que conduziu, ele constatou que as pessoas com maior probabilidade de sofrer grandes transtornos de depressão e ansiedade na próxima década, não são as que apresentam esses sintomas hoje, mas aquelas que estão definhando agora.

Psiquiatria ainda não classifica o languishing como transtorno

O languishing ainda não é classificado pelos manuais diagnósticos de psiquiatria como um transtorno. Ele é caracterizado por sintomas pontuais de vários transtornos, como o burnout, depressão, estresse agudo, como a desmotivação, a falta de foco e concentração; além da sensação de apatia.

Em alguns momentos da vida, todos lutamos contra a desmotivação, mas o que preocupa é quando ela se instala, quando a apatia toma conta do dia a dia e perde-se força e energia para se mobilizar por algo e por si mesmo; muitas vezes nem sequer tendo noção do que está vivendo, já que, aparentemente, tudo está bem com a saúde física/clínica; há trabalho, alimentação correta, casa, segurança, boletos em dia.

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Languishing: sensação de vazio, incerteza e desamparo

Uma parcela da população mundial já lida com as consequências da apatia persistente, marcada substancialmente, pela sensação de vazio que determina o languishing. Sensação que não passa, perdura dia após dia. É como se a pessoa estivesse no limbo, num estado de indecisão, incerteza, indefinição e nada a movesse para sair desse lugar. É viver o desalento e o desamparo.

Artigo do The New York Times, escrito pelo psicólogo organizacional Adam Grant, da Wharton School, relata que: “na psicologia, pensamos em saúde mental em um espectro que vai da depressão ao florescimento. O florescimento é o pico do bem-estar: você tem um forte senso de significado, domínio e importância para os outros. A depressão é o vale do mal-estar: você se sente desanimado, esgotado e sem valor.

Definhamento e saúde mental

O definhamento é o filho do meio negligenciado da saúde mental. É o vazio entre a depressão e o florescimento – a ausência de bem-estar. Você não tem sintomas de doença mental, mas também não é a imagem da saúde mental. Você não está funcionando em plena capacidade. O definhamento entorpece sua motivação, interrompe sua capacidade de se concentrar e triplica as chances de você reduzir o trabalho. Parece ser mais comum do que a depressão maior – e, de certa forma, pode ser um fator de risco maior para doenças mentais.”

O definhamento não está apenas em nossa cabeça, está em nossas circunstâncias. Você não pode curar uma cultura doente com ataduras pessoais. Ainda vivemos em um mundo que normatiza os desafios da saúde física, mas estigmatiza os desafios da saúde mental. Ao rumarmos para uma nova realidade pós-pandêmica, é hora de repensar nossa compreensão de saúde mental e bem-estar.

“Não deprimido” não significa que você não sente dificuldades; “Não esgotado” não significa que você está totalmente ligado. Ao admitir que tantas pessoas estão definhando, podemos começar a dar voz ao desespero silencioso e iluminar um caminho para sair do vazio.

Minha dica é… se você se identificou, ou algo lhe soa familiar ao ler este post, talvez seja a hora de você pedir ajuda a um psicólogo ou psiquiatra.

Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA