por Elisandra Vilella G. Sé
Desde a infância, sempre ouvimos falar sobre a necessidade e importância de cultivar o hábito da leitura na nossa vida. Assim, destaca-se algumas questões fundamentais sobre o hábito da leitura. O que ler? Como ler? Para que ler? Existem muitas formas para responder essas questões. Primeiro precisamos conhecer a definição de leitura e em segundo saber que precisamos dispor de conhecimentos para realizar tarefas complexas, como pensar, falar, e agir no cotidiano. Também precisamos buscar a melhor forma de organizar o nosso conhecimento de mundo armazenado na memória e por último saber que utilizamos esses conhecimentos em todas as tarefas do dia-a-dia.
A leitura é uma “atividade interativa complexa de produção de sentidos”. Isto é, quando lemos um texto estamos captando idéias do autor, interagindo com ele, mobilizando saberes. A capacidade do uso da linguagem, que diferencia o homem de outros animais, é uma admirável capacidade de forma idéias no cérebro dos demais. Portanto, a leitura é uma atividade na qual se levam em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, exigindo dele um conhecimento dos sistemas da linguagem (conhecimento gramatical), o conhecimento de mundo ou enciclopédico (vocabulário, conceitos, representações) e o conhecimento sociointeracional (conhecimento sobre as ações verbais, formas de inter-ação através da linguagem). Tais conhecimentos envolve, também, o saber sobre as práticas peculiares ao meio social e histórico em que vivem os leitores para que possa existir o devido reconhecimento do que está sendo lido.
Quando lemos um texto não somos simplesmente um decodificador de textos, um receptor passivo, e sim sujeitos com conhecimentos em processo de interação com o conteúdo que gostamos ou que nos interessamos em ler.
Estratégias
Dessa forma a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento pelo assunto, sobre o autor e de tudo que sabe sobre a linguagem. É uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, para haver a devida compreensão.
O uso dessas estratégias é que possibilita controlar o que vai sendo lido, internalizar o conteúdo, refletir sobre ele, avaliar a informação, criticar, permitindo tomar decisões diante das dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos e fazer suposições, com o intuito de desfrutar de um conhecimento que é importante no desenvolvimento e manutenção do conhecimento ao longo da vida.
A mesma coisa ocorre quando escrevemos. Ao escrever um texto, uma mensagem, uma poesia, uma crônica, ou até mesmo um recado ou bilhete, utilizamos estratégias para construir da melhor forma possível o sentido do texto. Dessa forma, todo o processamento da leitura e da escrita é estratégico. Isso porque o conhecimento não consiste apenas em uma coleção estática de conteúdos de experiências, de representações, de palavras, mas também de habilidades para operar sobre tais conteúdos e utilizá-los na interação social e para o aperfeiçoamento do aprendizado. A mente humana é, portanto, um processador de informações. Ou seja, ela recebe, armazena, organiza, recupera, transforma e transmite informação. Os conceitos das coisas no mundo derivam de operações mentais que realizamos de forma abstrata e são os “tijolos” do sistema cognitivo.
Pode se dizer que para o processamento textual é um conhecimento procedural, isto é uma forma de procedimento. São estratégias socioculturalmente determinadas que visam estabelecer, manter e realizar uma interação.
Ler e escrever são, hoje, atividades naturais do dia-a-dia das sociedades consideradas civilizadas, embora ainda exista um número bastante significativo de analfabetismo. Aprender a ler e escrever na escola faz parte da vida normal, ou deveria fazer, sendo também normal que os seres humanos desenvolva essa capacidade de forma rápida e sem sofrimento. Ao contrário do que se passa com a aprendizagem da linguagem oral que se aprende pelo simples convívio social. Por isso, é que a leitura e a escrita se reveste de simbolismo da porta de entrada para a cultura e para a dimensão intelectual do homem. Ser analfabeto é, portanto uma conotação negativa que exprime de certa forma a impossibilidade por razões econômicas e culturais de ter acesso à escola ou a dificuldade de progredir na aquisição de conhecimentos.
Efeitos da escolaridade
Estudos neuropsicológicos demonstram que a influência da escola é importante para o desenvolvimento das habilidades mentais. O efeito da escolaridade está presente em diversos aspectos do curso de vida do indivíduo e hoje cada vez mais no aparecimento de sintomas de doenças mentais neurodegenerativa, como o caso da doença de Alzheimer.
Segundo estudo realizado pelo Colégio de Medicina Albert Einstein dos Estados Unidos, os sintomas da doença surgem mais tarde em pessoas que tiveram maior escolaridade, na comparação com aquelas que passaram menos anos na escola.
O efeito da escolaridade nos padrões de atividade mental em adultos e idosos têm sido estudado sistematicamente pelas neurociências. Muitos estudos sugerem que o desempenho em diversas tarefas do dia-a-dia depende da estrutura cerebral, da ativação de regiões específicas que sofrem influência do aprendizado da leitura e da escrita. Algumas capacidades para desempenhar corretamente operações não se desenvolvem naturalmente, mas resulta da escolarização.
Assim, estratégias textuais que aprendemos na escola desde à infância, e que vamos aperfeiçoando com o hábito e interesse pela leitura e pela a escrita, que não deixam de ser estratégias também interacionais e cognitivas dizem respeito aos padrões e uso dos conhecimentos, que por sua vez, acionamos para facilitar realização de diversas tarefas desempenhadas ao longo da vida. As associações lógicas entre conceitos e representações gráficas levam o ser humano a um grau de progresso e evolução que surpreende ele mesmo.
A ação reflexiva dos indivíduos sobre a língua, além de possibilitar o bom funcionamento intelectual, auxilia na manutenção das competências na velhice devido ao enriquecimento de estratégias sóciocognitivas acumuladas ao longo do curso de vida, na qual se inclui a leitura e a escrita.