por Emilce Shrividya Starling
A meta do Yoga é entrar em contato com a divindade que habita em nosso interior. É permitir que o Ser interior se expresse em nossos pensamentos, palavras e ações, experimentando entusiasmo em tudo que fazemos.
É acordar de manhã, com o coração agradecido, sentindo-se restaurado. É fazer seus deveres sentindo-se contente e apreciar a beleza da vida. É aceitar o momento presente, abandonar o que o constrange, aprender com as dificuldades.
A Filosofia do Yoga nos ensina a ancorar na percepção que a Consciência divina que habita em nosso interior , em todos os seres viventes, em toda a natureza. E, verdadeiramente, a meta é experimentar a própria divindade interior.
Ao ter essa experiência do Ser, através da devoção, do canto dos mantras, da meditação, do relaxamento profundo, podemos sentir nossa própria grandeza. Podemos sentir o amor dentro e fora de nós. Podemos reconhecer nosso próprio valor e descobrir o valor dos outros.
Apesar dessa grandeza divina existir em todos nós, algumas pessoas se acham indignas e pecadoras. Sentem rejeição por si mesmas. Elas só veem seus defeitos e até inventam defeitos que não têm. Não acreditam que podem vencer na vida, não têm autoconfiança. Não acreditam no amor ou na felicidade.
Sentir essa raiva e rejeição por si mesmo tira o entusiasmo, gera depressão, frustração e ansiedade. É ser comandado pelo ego negativo que é o adversário da bondade.
Contemple: Como alguém pode sentir alegria sentindo raiva de si mesmo? Como pode sentir entusiasmo se não se aceita, se não gosta de si mesmo? Como se sente uma pessoa que se detesta, que menospreza seus esforços, que conversa consigo mesma sempre se criticando? Como fica o estado da mente de quem se desvaloriza, que acha que sempre realiza menos que os outros?
Com certeza, quem sente isso se maltrata, se diminui e permite que o ego negativo o domine. Esse é um estado mental deplorável de alguém muito egoísta, que apenas se volta para si mesmo. Sente-se vitima. E, fica tão absorvido em si mesmo que esquece dos outros. É uma forma de dizer: “Quero toda a atenção. Me ajude!”
Essa aversão a si mesmo torna-se tão enraizada que a pessoa se identifica com cada negatividade que surge na mente e pensa: “Sou tão ruim.Não mereço nada de bom. Não gosto de mim. Sou pecador. Ninguém pode gostar de mim, pois não sou bom.” E, assim, nega sua verdadeira natureza divina, nega seu próprio valor.
Para entender e assimilar melhor os ensinamentos, o yoga nos conta sábias histórias.
Hoje, vamos contemplar um conto sobre a mente, sobre o ego e suas criações negativas:
Certa vez, um anjo veio visitar a Terra e chegou até uma enorme floresta. Lá ele encontrou uma criatura com mil braços e pernas, e cada parte do seu corpo se movimentava constantemente. Ela não parava quieta nem por um momento.
Em uma de suas mãos carregava uma clava coberta de pregos e se batia com isso repetidamente. A cada golpe que dava a si mesma, ela chorava de dor e pânico, dizendo: “Não me bata. Por favor, não me bata novamente.”
Tentando evitar os golpes que recebia de sua própria mão, ela corria de um lado para o outro. Estava com tanto medo e pânico que nem prestou atenção onde andava e caiu em um poço profundo.
Foi bem difícil sair desse poço. Ela demorou muito tempo para escalar as paredes do poço. E, quando conseguiu, se sentou completamente ofegante e cansada. Porém, logo que ela se recuperou, ficou de pé e recomeçou a se bater com sua própria mão, com sua própria arma.
Desesperada, correu para a um denso espinheiro. Quando saiu de lá, estava sangrando, arranhada e coberta de espinhos.
Logo depois, se refugiou em um lindo pomar, onde havia passarinhos, flores bonitas e frutos deliciosos. Mas, ela não notou a beleza desse lugar. Estava tão apavorada, com ódio de si mesma, que se sentou e continuou gritando e se batendo.
O anjo, sentindo muita compaixão, tentou ajudá-la, dizendo: “Fique tranquila. Relaxe. Apenas respire e se acalme. Por que você está se machucando assim? Por que você está sendo violenta com você ? De quem você está fugindo?” Aonde você está indo?”
Ela porém não podia ouvir as palavras gentis do anjo celestial. Não podia ver seu bondoso sorriso e nem sentir seu toque suave. Não podia sentir sua bondade e sabedoria. E até pensou que esse ser de luz fosse seu inimigo. Assim, ela gritou:
-Afaste-se de mim! Não quero ouvir seus conselhos!
De fato, ela não queria melhorar, não queria deixar de sofrer. A expectativa de deixar aquela floresta escura da autodepreciação e crueldade no qual ela vivia, era impensável para ela.
Gostava de ser vítima, e pensava: “Coitadinha de mim, sofro mais do que qualquer pessoa. Oh! pobre de mim. Por que isso está acontecendo comigo?”
Um sábio, que meditava perto dali, saiu da meditação e disse ao anjo:
– Ouça. Este é o planeta Terra. Isso é o *samsara, o mundo do nascimento e morte. Esta criatura que você tentou ajudar é a mente com suas incontáveis criações. A mente imagina e cria tudo, e depois se pune com suas próprias tendências. Esses mil braços e pernas são as tendências da mente.
O anjo compreendeu, acenou gentilmente com a cabeça, e foi embora. "
Esse conto mostra como a mente negativa está presa dentro de seus próprios pensamentos errôneos. Julga e duvida de tudo. Imagina medos e fantasias. Alimenta culpa, cobranças e o ódio de si mesma.
Há muita sabedoria nesse conto que nos faz refletir o que fazemos conosco quando cultivamos padrões mentais negativos, quando não nos aceitamos, quando nos rejeitamos.
Se alimentarmos essa aversão a nós mesmos, brigando conosco, nos culpando, nos criticando e punindo, é como se batêssemos em nós mesmos, sem a menor complacência ou bondade.
Entenda que essa aversão por si mesmo apenas leva você para a escuridão dentro de você. Essa autodepreciação cria a baixa autoestima. Mas, essa não é a sua única escolha.
Você precisa quebrar as correntes da autodepreciação, elo por elo. Pare de se criticar. Não se diminua e nem permita que alguém diminua você. Pare de se bater com suas crenças negativas. Não seja seu inimigo.
Os antídotos para o veneno mental da baixa autoestima são: a gratidão e o autoconhecimento.
Ao agradecer a você mesmo, você começa a ter autoconfiança e se liberta dessa opressão interna negativa. Ao começar a agradecer ao que faz, começa a se valorizar e vai descobrindo suas qualidades, seus talentos, confiando mais em você.
Ao sentir gratidão por você, por todos e por tudo, surge um sentimento de contentamento, curando você com o bálsamo da serenidade e aceitação.
Goste de você e se aceite, como verdadeiramente você é, sem críticas e julgamentos. Seja seu melhor amigo. Namastê! Deus em mim saúda Deus em você! Fique em paz!
*Samsara, o termo sânscrito e páli para "movimento contínuo" ou "fluxo contínuo" refere-se no yoga ao conceito de nascimento, velhice, decreptude e morte, no qual todos os seres no universo participam e do qual só se pode escapar através da iluminação. O samsara é a roda das encarnações, a vida e a morte, e somente saíremos dessa roda de vidas e de sofrimento, de maya (ilusão), através da iluminação.