por Roberto Shinyashiki
Às vezes pessoas que nos amam intensamente dizem o que é melhor para nós e acabam nos desviando do caminho da realização pessoal.
Eu fui um péssimo aluno durante o colegial. Tão ruim que o desejo do meu pai era que eu ao menos terminasse o ensino médio. Quando completei o colegial, ele começou a cobrar que eu fizesse faculdade. Depois de algum tempo, passei no vestibular para psicologia. E aí ele começou a cobrar que eu fizesse medicina. Pensei: ok, você venceu. E lá fui eu fazer medicina. Não só por que ele queria, mas por que eu também tinha vontade de ser psiquiatra.
Com o tempo, fiquei com a impressão de que meu pai não curtia nem aplaudia minhas vitórias de tanto que queria definir meu caminho. Ele jamais me deu um abraço forte de parabéns pelo que eu tinha alcançado.
A história não terminou aí. Embora eu quisesse ser psiquiatra, meu pai começou a dizer que somente os cirurgiões eram médicos de verdade. Na minha sede de agradá-lo, fui fazer especialização em cirurgia. Fiquei alguns anos com um pé na psiquiatria e outro na cirurgia. Eu até estava me dando bem na cirurgia, mas um dia percebi que meu caminho era a psicoterapia. Foi uma decepção em casa quando eu disse que ia largar a cirurgia. Meu pai ficou alguns meses de cara fechada, dando indiretas nas conversas com os amigos, fazendo insinuações no meio do almoço. A situação foi ficando cada vez mais tensa e a pressão, aumentando. Até que um dia, quase explodindo, eu lhe perguntei:
– Pai, quem precisa ficar feliz com minha profissão? Eu ou você? Eu já entrei na faculdade que você queria. Agora tenho de atuar na especialidade que você quer?
Ele ficou quieto e saiu da mesa bastante magoado. Não falou comigo por algumas semanas. Mas o amor falou mais alto e, depois de algum tempo, ele se aproximou e disse:
– A única coisa que eu quero é que você seja feliz.
Nunca duvidei que meu pai me amasse infinitamente, mas, de acordo com sua maneira de amar, eu tinha de seguir todas as suas orientações para dar certo na vida. Foi complicado mostrar que as coisas não precisavam acontecer do jeito dele para que eu fosse feliz.
Por isso, quando falo sobre as pressões da sociedade, não estou me referindo apenas às cobranças para ter corpo de modelo, sucesso de jogador famoso, conhecimento de intelectual, realização de executivo premiado… Estou falando principalmente das cobranças que vêm das pessoas que nos querem bem. Elas nem sempre são capazes de perceber que temos de seguir nosso caminho para nos sentirmos realizados.
É importante ter em mente que essas pessoas queridas desejam o nosso bem, caso contrário, nem sequer se dariam ao trabalho de dizer o que acham ser o melhor para a gente. Precisamos compreender essa ansiedade natural dos que nos rodeiam e explicar as razões de querer buscar nosso caminho e seguir em frente com nossa vocação.