por Patricia Gebrim
Entrava dia, saía dia e o homem continuava lá, agarrado a um galho de árvore, os braços doendo, os músculos tremendo tamanho o esforço. E veio a noite, e vieram as estrelas, e o homem continuava lá. Passaram-se manhãs, e entardeceres, cantos de pássaros, revoadas de cupins, cometas errantes cruzaram os céus e o homem continuava lá, agarrado, cansado, mais do que cansado, exausto.
Chegou o inverno, o galho ficou branquinho após uma noite de geada, o homem tremia mas não soltava o galho. O gelo foi derretendo, chegaram as primeiras flores, e as borboletas, e as abelhas… e assim seguiam-se as estações; primavera, verão, outono, inverno.
Um dia não resisti:
_ Homem, por que sofre tanto agarrado a esse galho? Não suporto mais ver a sua dor. Por que não se solta e caminha leve pela vida? És um santo? Um penitente? Um louco???
E o homem disse:
_ Não sou santo, penitente ou louco. Apenas estou esperando pelo meu salvador. Sei que um dia ele virá, envolto em um clarão dourado, e nesse dia me salvará pondo fim a essa insuportável provação. Estou cansado, é bom que ele se apresse.
E por mais que eu tenha tentado (e acreditem, eu tentei!), não consegui convencer o homem a soltar-se do galho. Por algum motivo desconhecido por mim ele acreditava que despencaria em direção à morte se afrouxasse os braços exaustos. Talvez quando criança algum coleguinha maldoso tenha lhe dito que aquela era uma árvore assassina, ou talvez tenha subido no galho, adormecido lá em cima, e esquecido que tinham sido suas próprias pernas a levá-lo até lá. O fato é que os meus argumentos eram insuficientes para fazê-lo mudar de idéia.
De onde eu estava podia claramente ver que ele não se encontrava mais do que meio metro longe do solo. Bastava que ele examinasse a situação por si mesmo, bastava que se recusasse a continuar sofrendo daquela maneira, bastava soltar-se de suas falsas crenças e saltar em direção ao chão e em um segundo todo o sofrimento cessaria e ele estaria em segurança.
_ Salve-se, senhor… salte!
Eu gritei, ainda inconformada em meio à minha impotência para ajudá-lo.
Mas ele permaneceu lá, agarrado, cego, esperando… esperando…
Para terminar a história preciso dizer que de onde eu estava eu via mais uma coisa… um lindo clarão dourado ao seu redor… e eu entendi que aquilo pelo que ele mais esperava, o salvador, a luz, nunca tinha deixado de estar lá, ao seu redor, dentro dele, por toda a parte… algo que em sua cegueira ele era incapaz de enxergar.
Você, que me lê aí do outro lado da tela, se um dia encontrar o homem, veja se consegue o que não consegui. Mas se não der certo com ele, ao menos solte-se de seu próprio galho. Todos nós nos agarramos a alguns galhos como ele, em um ou outro momento de nossas vidas. Todos nós passamos por momentos de cegueira, ou de imaturidade, nos quais esperamos que algum tipo de super-herói se materialize em nossas vidas nos resgatando para um vôo entre as estrelas em direção à tão desejada segurança.
Bem, o super-herói não vai aparecer. O salvador não vai aparecer porque ele já está aí, dentro de você.
Assim, se seus braços estiverem cansados, se sua vida for uma sequência interminável de situações exaustivas, se você chegar em casa todos os dias tão exausto a ponto de que a única atividade possível seja sentar-se como uma geléia em frente à televisão… não espere que ninguém venha tirar você daí. Solte-se! Deixe que essa luz, que é você, lhe mostre o caminho.
Esqueça tudo o que pensa saber sobre o que parece aprisionar você, sobre rotinas, sobre obrigações. Olha ao redor como se nada soubesse. Busque o novo, recrie sua vida, rompa barreiras, quebre regras se necessário (aquele homem tinha uma regra: NUNCA solte o galho ou morrerá).
Se você se sente de alguma forma aprisionado, saiba que as grades que supostamente se erguem ao seu redor são, na grande maioria das vezes, meras ilusões, frutos de falsas convicções.
Você é e sempre será livre, capaz de recriar sua vida quantas vezes for necessário.
Repito. Não espere que ninguém venha salvar você. Abra os olhos, descubra o seu poder pessoal, essa luz dourada de que é feita a sua essência.
Enxergue a realidade, atravesse as grades e siga em direção à vida.
Ela está a menos de meio metro de você, isso eu lhe garanto!