Falemos de performance, gestão de tempo e crise, e bem-estar, diante do isolamento social decretado para combater a Covid-19 nestes quase meados de 2020.
Para início de conversa, mencionemos as horas ganhas no dia com a flexibilização do trabalho presencial. Estas que estão sendo preenchidas rapidamente por tarefas domésticas, pelo acompanhamento acadêmico dos filhos em homeschooling. Para muitos, as jornadas triplicaram sem a escola, as babás, secretárias, empregadas domésticas e tudo se complicou. A sobrecarga dessa ocorrência é nítida no atendimento que sigo oferecendo a profissionais liberais e empreendedores (em home-office, claro). As novas exigências acabaram se sobrepondo ao expediente profissional e empreendedor que já corria muitas vezes em “piloto automático”.
Para certos indivíduos, no entanto, o tempo não faltou. Muitos seguem sem grandes exigências caseiras e familiares ou em horas de dedicação à atividade laboral, que pode ter ficado em stand by pela falta de demandas comerciais. Nem por isso são estas as pessoas que constatam ter mais tempo livre, ou que conseguem se dedicar a atividades prazerosas e extraprofissionais que não conseguiam antes. Outras, ainda, notam que seu desempenho no trabalho que lhe restou, inclusive, está aquém do que poderia ser, mesmo que este possa ser executado com mais tranquilidade em casa, fora de uma agenda tão atribulada.
Parecem situações absurdamente diferentes, mas permeadas pelas mesmas condições. Há a competência prévia em lidar com o próprio tempo, trazida de antes da pandemia com todos os vícios e acertos nessa administração. Há as ocupações extraordinárias e inevitáveis. Mas há, também, um grande ruído emocional surgido na incerteza do momento, na lida com o desconhecido imposto à rotina e na negação de algo que nos parece tão surreal quanto qualquer ficção cinematográfica norte-americana sobre o fim do mundo.
Não se cobre
Por mais que as entregas não cessem, cobrar-se tanto sem que sejam feitas ressalvas, mantendo-se os resultados normais ou acima da média é prejudicial não só na própria performance. É preciso respirar e relacionar-se com uma coisa de cada vez, sem a culpa pelo passado de imperfeições na agenda e sem lamentar-se com o que está acontecendo, ou o que ainda nem aconteceu. Algumas coisas não vão funcionar com normalidade e temos que aceitar. Já basta o medo legítimo de contrair uma doença para a qual não há vacina ou um protocolo consolidado de tratamento. Já bastam a ausência do contato social e as notícias de mortes. Já basta, para muitos, a redução de suas principais fontes de renda. Cobranças de performance pessoal nesses tempos de crise é um plus desnecessário.
Procure manter o seu equilíbrio
Não parece, mas o excesso de preocupações nos rouba um tempo precioso, ainda que estejamos falando de um momento de crise em que elas surgirão, inevitavelmente. Não diretamente da execução das tarefas, mas da dedicação a emoções e pensamentos mais positivos na construção de estratégias para um enfrentamento saudável e mais organizado daquilo que se impõe dia a dia.
Outra fonte de renda ou ideias para a negociação das dívidas não vão surgir nesse cenário. A agenda não vai melhorar sem soluções criativas. Nem os relacionamentos nem a lida com o problema maior em si – no caso a pandemia. Nada funcionará se você perder o foco de melhorar sua condição atual e manter-se equilibrada(o).
Não se pode perder de vista que tanto as cobranças que nos assombram quanto as estratégias mais positivas são recursos dos quais lançamos mão única e exclusivamente por um motivo: manter o nosso bem-estar, por mais paradoxal que isso seja. Queremos performar da melhor maneira não à toa – cada passo nesse sentido nos coloca mais próximos de nossa felicidade, mas fica claro que, sem a positividade no percurso, ser feliz pode se tornar algo distante e inalcançável. O bem-estar está no próprio percurso. E isso não é panaceia, é a única percepção capaz de nos ajudar a enfrentar, com menos sofrimento e angústia, este e outros difíceis momentos que certamente ainda viveremos.