por Renato Miranda
Quando uma equipe possui um atleta que auxilia, orienta, coordena e mostra caminhos para se atingir os objetivos desejados pelo grupo de trabalho e entidade esportivo (a), essa equipe tem um líder. A liderança dentro e fora do campo de jogo é a extensão da matriz dela mesma: o técnico.
Apesar de um assunto diversificado e muitas vezes eivado de conceitos baseados na experiência pessoal, neste texto falo exclusivamente sobre algumas "notas" do atleta-líder. Escrevo motivado por várias perguntas feitas por alunos, colegas e jornalistas esportivos sobre a falta de liderança ou mais especificamente de um atleta-líder, na Seleção Brasileira de futebol principalmente depois do fracasso de nossa seleção na Copa do Mundo de 2014 e em sequência na Copa América.
A primeira experiência prática para facilitar o conceito de liderança em esporte que me vem à cabeça é a figura do guia (líder) dos esportes em montanha, especialmente o trekking (caminhada em montanhas!).
O líder na montanha, principalmente no trekking de alta dificuldade (normalmente em lugares inóspitos e/ou de certo risco de acidentes), é aquele que mostra o caminho a ser seguido em segurança e com precisão. É aquele que comanda com fluidez e determinação suas ações e a do grupo, de modo eficaz e com alto grau de motivação e segurança no comportamento. É aquele também que influencia e harmoniza a atmosfera interna do grupo, tendo como consequência a geração de comportamentos socialmente desejáveis (respeito, ordem, compreensão e empatia) e com maior facilidade de controle emocional diante situações de estresse e risco, que exigem um alto grau de confiança, concentração, motivação e certo ímpeto para ultrapassá-las. Em resumo, o líder é o que melhor faz a tarefa e é por isso que ele conhece os caminhos para se atingir os objetivos.
De princípio, quando penso no líder de aventuras na montanha, traço rapidamente o perfil de um bom líder. É uma analogia que pode ser estendida a qualquer esporte ou atividade humana: escolher a melhor trilha para se chegar ao topo da montanha!
Um atleta-líder para exercer seu papel, precisa ter um caráter influenciador. Em poucas palavras a influência é a capacidade que uma pessoa tem de expandir e exteriorizar sua energia, a fim de persuadir positivamente as pessoas independentemente da presença física. Ou seja, uma boa influência se estende além da presença do líder. Seguir orientações, determinações, diretrizes e outras tantas instruções na ausência do líder identifica uma influência eficaz. É agir "como se o líder estivesse aqui!" diria uma pessoa que é influenciada pelo mesmo. Meu exemplo pessoal: alguns ótimos professores líderes que eu tive em minha formação profissional, continuam me influenciando, mesmo eu não convivendo mais com os mesmos.
Além de ser um agente influenciador o atleta-líder auxilia a construir uma atmosfera agradável na equipe e, para tanto, ele é um exemplo de comportamento disciplinado dentro e fora do campo. No campo, ultrapassa os desafios com técnica e elegância, fora do campo, seu comportamento exemplar fortalece sua condição de líder.
O atleta-líder consegue entender o modo como seus companheiros pensam e percebem as coisas e mais do que isso, se coloca no lugar dos mesmos, principalmente em situações difíceis. Ele é empático!
O atleta-líder, por ser considerado o melhor naquilo que faz, auxilia na motivação para atingir objetivos e consegue através de sua ótima comunicação com seus colegas favorecer a construção de um ambiente em que o técnico possa transmitir valores positivos de desempenho e comportamento.
O futebol e demais esportes de característica profissional é por excelência demasiadamente exigente e, portanto, encontrar um líder com tais características ou em condições para desenvolvê-las não é uma tarefa simples, muito embora a prática rotineira de treinamentos e competições seja um instrumento valioso para a identificação de um bom líder.
Se nossa seleção de futebol tem um atleta que é muito bom (craque!) no que faz, reconhecido pelo que conquistou e representa, tem as estruturas disponíveis para cada vez mais se aperfeiçoar, é valorizado e ultrapassa desafios, então temos um líder em potencial.
No entanto, para ser reconhecido como líder ainda falta um detalhe: é preciso muito treinamento da vida interior do atleta!