por Silvia Maria de Carvalho
“Nos últimos quatro anos, limpo minha casa todos os dias, várias vezes ao dia; me pego varrendo de novo, tirando a poeira dos móveis alguns minutos depois de já ter feito o serviço. Quando acabo de arrumar o quarto e a cama, volto novamente na cama e fico esticando os lençóis, porque me incomoda vê-los com um amassadinho. Fico medindo centímetros dos objetos de um para o outro para ficarem na mesma posição. O meu marido me chama de louca, fala que estou doente, só por que limpo a cozinha várias vezes ao dia; limpo o fogão e a geladeira quatro vezes por dia, é por que para mim parece suja, estou preocupada. Será que sou normal?”
Resposta: Outro dia li uma charge na internet que dizia assim: imagina se tratássemos as outras doenças como a maioria das pessoas ainda trata as doenças mentais.
“Faz uma forcinha, você consegue sair dessa pneumonia sozinha, é só querer.” Ou então: “Para quê tomar insulina, isso é coisa da sua cabeça”. Ainda: “Se você quiser, consegue controlar seu colesterol com pensamentos positivos”. Não parece absurdo? Pois é assim a maneira que muita gente vê a depressão, ansiedades e fobias.
Ninguém escolhe perder seu tempo limpando móveis o dia todo. Ninguém escolhe lavar a mão mais de cem vezes por dia. As pessoas não costumam escolher pra si, medir centímetros de quadros pendurados na parede, assim como verificar centenas de vezes se a porta está realmente fechada.
Pelos exemplos citados acima, estamos falando sobre o transtorno obsessivo-compulsivo. Vale lembrar que, para um diagnóstico bem feito, é imprescindível uma consulta com o psiquiatra. Assim poderá ser levado em conta as particularidades de cada indivíduo e o encaminhamento necessário.
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno de ansiedade, caracterizado por pensamentos obsessivos e compulsivos no qual a pessoa tem comportamentos considerados estranhos para a sociedade ou para ela própria; normalmente com ideias exageradas e irracionais de saúde, higiene, organização, simetria, perfeição ou manias e “rituais” que são muito difíceis de controlar. Esse transtorno é considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais frequente na população. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano 2020 o transtorno obsessivo-compulsivo estará entre as dez causas mais importantes de comprometimento por doença. Além da interferência nas atividades, os sintomas causam incômodo e angústia aos pacientes e seus familiares. As pessoas não sabem como lidar com essa questão, quando ela se apresenta.
Se você percebe que há prejuízos na sua vida, devido ao tempo gasto com as “manias” ou “rituais”, há dificuldades no trabalho e nas relações pessoais, se beneficiará de uma ajuda profissional.
Em muitos casos, é a interação entre medicamentos (prescritos por um psiquiatra) e a terapia comportamental, a melhor, para não dizer a única maneira de tratar essa questão. Pense que a paz está do outro lado. Enfrente. Abrirão muitas possibilidades.