por Regina Wielenska
Faz alguns anos, na cidade de Fortaleza, uma amiga e eu (ambas somos psicoterapeutas) e pegamos um taxi rumo ao hotel onde estávamos hospedadas.
Nem me lembro de como começou a prosa com o motorista, apenas me recordo que ele jogava todo dia uns 20 reais em loterias variadas, porque ele sonhava ganhar dinheiro suficiente para comprar um terreno e construir a casa da família. Minha amiga e eu trocamos olhares e partimos para uma ação motivacional.
Fazia mais de uma década que ele jogava no lixo ao menos vinte reais. Não era um homem rico, vivia do trabalho ao volante. Descobrimos ao longo do trajeto que seu pai sofreu muito com “vício” de jogar, um tipo de dependência comportamental que pode arruinar a vida de indivíduos e suas famílias.
Lancei uma isca, baseada num cálculo rápido. Se ele jogava no mínimo 20 reais por dia todos os dias por dez anos, já teria acumulado cerca de 72 mil reais, sem contar juros e correção monetária de aplicações financeiras. Ele já poderia ter comprado o terreno desde que não contasse com a adrenalina do jogo, do ganho surpreendente.
O motorista ficou sem palavras, perplexo, mostrei na calculadora do celular meu cálculo quando chegamos ao destino. Ele nos assegurou que as contas que fizemos foram poderosas, ele precisava dar um jeito de todo dia passar no banco e depositar um valor que antes seria destinado ao jogo.
O motorista contou que a conversa o fez se lembrar da música que dizia: “dinheiro na mão é vendaval”. Dissemos que o aspecto descontrolado do comportamento do seu pai poderia inspirar o motorista para se esforçar numa direção diferente, pautada no controle, planejamento e perseverança.
Não sabemos se aquela empenhada conversa de vinte minutos serviu de fato para transformar a relação do motorista com seu suado dinheiro. Já se passaram alguns anos, continuamos a torcer por ele, na esperança de que já tenha acumulado ao menos um terço do valor necessário para adquirir o terreno tão desejado.