por Luiz Alberto Py
Hoje vou falar sobre minhas crenças.
1. Falando em fé:
– Creio que há mais fé na dúvida do que na certeza.
– Creio que certezas inabaláveis geram fanatismo e intolerância.
– Devemos evitar nos enganar – mentir para nós mesmos – e precisamos saber que enganar a si mesmo é mais fácil do que enganar qualquer outra pessoa.
– Desconfio de quem tira proveito da fé.
– O fato de que todas as culturas humanas têm alguma espécie de religião – expressam algum sentimento de transcendência – me leva a acreditar que a fé faz parte da natureza humana, está inscrita no nosso DNA.
2. Deus:
Gosto de acreditar em Deus. Acho que isto me faz bem, me oferece uma referência, alguém a quem dirigir minhas orações. Gosto de orar e o faço diariamente. Para mim é como se fosse a mensagem que o náufrago coloca em uma garrafa e lança ao mar. Se ela vai chegar ao destino é menos importante do que simplesmente escrevê-la.
Nas minhas orações costumo agradecer a Deus pelos Seus representantes: os pais que ele me proporcionou para que cuidassem de mim e me ajudassem a crescer. Sou muito grato a Ele por ter colocado em minha vida essas pessoas pelo carinho, amor, generosidade, dedicação e altruísmo com que me trataram. E também pelos exemplos que me deram de procurar a felicidade em saborear a simplicidade das pequenas coisas da vida.
3. Muita gente estranha que Deus permita o sofrimento, principalmente de crianças inocentes, a maldade e as mortes resultantes da violência humana. Já foi dito que os desígnios do Senhor são insondáveis. Aceito que devemos nos reconhecer incapazes de compreender as razões de Deus. Vendo que Ele permite a maldade de tantas pessoas, e tantas mortes violentas, percebo que a vida não é para Ele o valor mais alto. Penso que Ele não intervém para preservar o livre- arbítrio de cada um de nós. Se meu raciocínio está correto, o livre-arbítrio é, para Deus, um valor maior do que a vida.
4. Gosto de acreditar que tudo o que nos acontece – principalmente as coisas ruins, negativas – foi planejado para estimular nosso crescimento espiritual.
5. Na minha visão de mundo vejo a mim mesmo e a todos nós como produtos da natureza. Nada melhor nem muito diferente do que uma lagartixa, um lobo uma maçã, ou um abacate. Alguns animais são mais fortes e mais perigosos; outros são mais bonitos e graciosos. Deveriam se envaidecer por isso? Algumas frutas são melhores, maiores, mais saborosas do que outras. Podem se orgulhar disto? Receberam mais seiva, melhor insolação, a árvore a que pertencem e de onde brotaram estava em um terreno mais fértil ou foi originada de uma semente mais forte e este acaso as fez melhores. Que valor isto tem?
É tolo ficar-se envaidecido com as próprias qualidades, tanto quanto ficar envergonhado dos defeitos que temos. O quanto disso dependeu de nossa vontade? Tanto quanto podemos saber, nós não nos escolhemos, apenas nascemos. Com um destino que podemos modificar pouco e características que nos foram legadas: qualidades e defeitos.
A tarefa de cada um é simplesmente empenhar-se o mais que puder para aprimorar suas qualidades e neutralizar seus defeitos, assim se tornando o melhor possível. Este é o nosso grande dever e nossa responsabilidade. Nada mais, nem menos. A humildade contida nesta idéia me é confortável.
6. Pensando em nós como produtos da natureza, fica difícil aceitar a idéia do livre-arbítrio. Como não nos escolhemos, seremos sempre apenas aquele que o destino construiu, sem a intervenção da própria vontade. Pois esta própria vontade também não é nossa, mas, para o mal ou para o bem, nos foi outorgada. Assim, a idéia da culpa pelos nossos defeitos me é tão longínqua como culpar uma fruta por não ser adequadamente saborosa.
O que acabei de dizer no parágrafo anterior conflita com o que eu disse o terceiro item. Por que não? A incoerência é estimulante!
Ainda não acabei, continuarei no próximo texto, mas desde já você pode participar, enviando e-mails (contato no rodapé da página) sobre seus comentários, dúvidas, perguntas etc.