por Thaís Petroff
Todas as pessoas que me procuram, seja no consultório, seja pedindo auxílio por e-mail, estão sempre atrás da mesma coisa: MUDANÇA.
Elas sofrem por estarem deprimidas, por brigarem muito com o cônjuge ou ainda por não se aceitarem. Motivos para incômodos e desconfortos há inúmeros que poderiam ser listados.
É verdade que muitos deles estão no ambiente, ou seja, fora de nós, mas, ainda assim sofremos, mesmo quando está tudo bem em volta; porque a questão não está fora, mas sim, dentro.
Drummond já dizia: "A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." E é assim mesmo. Estamos realmente fadados a passar por diversas situações tais como: desemprego, morte de pessoas queridas, assaltos, doenças, discussões com pessoas próximas, entre outros tantos acontecimentos. Isso hora ou outra poderá ocorrer.
No entanto, como escolheremos passar por tudo isso?
Isso depende de cada um de nós, depende da decisão que tomaremos de como lidar com o evento em questão.
Recentemente assisti a um filme chamado: "Violação de privacidade", direção Omar Naim (2005/EUA). A história se passa no futuro. Algumas pessoas possuem em seu cérebro um implante de memória comprado por seus pais antes mesmo de nascerem, o qual registra todos os fatos ocorridos em sua vida. Após sua morte, esse implante é retirado e, com o seu conteúdo, é editado um filme sobre a vida da pessoa exibido em uma cerimônia póstuma chamada Rememória.
O interessante nesse filme é que o conteúdo gravado sofre influência da percepção da pessoa. Ou seja, a lembrança que permanece é uma mistura do fato com a leitura que a pessoa fez do mesmo. Isso fica bem claro, uma vez que o protagonista, representado por Robin Williams, passa boa parte de sua vida se culpando de um fato que na realidade não aconteceu do modo como ele se lembrava.
Assim também somos nós. Podemos optar por como passaremos pelos eventos: colocando muito peso nos mesmos, percebendo-os como muito difíceis ou dramáticos; ou então vendo-os como uma oportunidade de aprendizado, compreendendo-os como coisas da vida.
Participei de uma aula onde a Dra. Uma Krishnamurti, psiquiatra e professora de Yoga na Índia, discorreu a respeito de "Felicidade e Yoga". Nessa oportunidade, ela comentou o quanto parece que gostamos de sofrer uma vez que inúmeras e inúmeras vezes optamos pelo mesmo padrão de pensamento e comportamento, levando às mesmas emoções. A explicação que ela fornece quanto ao motivo desses nossos vícios emocionais é de que temos lembranças gravadas tanto em nossa mente, quanto em nosso corpo e essas retornam ou são reativadas sempre que passamos por um evento que percebemos como semelhante ao vivenciado no passado.
Para resolver isso, ela recomenda que meditemos, pois através da meditação permitimos que essas memórias aos poucos se dissipem, sendo limpas de nosso organismo. Do contrário, com nossa mente agitada e com mil pensamentos por hora não damos tempo para essa limpeza; ficam milhares e milhares de pensamentos, impressões, percepções, sensações se acumulando mais e mais; fora que buscamos resolver um problema ou algo que incomoda falando o tempo todo sobre o mesmo.
Se não quero me sentir mais culpada sobre algo, como isso pode acontecer, se eu fico repetidamente retornando ao mesmo assunto?
Corte o mau pensamento e a emoção negativa pela raíz e foque-se no que deseja alcançar
Se eu fico relembrando-o periodicamente trazendo de volta as sensações emocionais relacionadas ao mesmo. Quando opto por lutar contra algo, estou direcionando minha energia para esse conteúdo, reforçando-o, trazendo-o à tona. Parece antagônico, não? Dessa maneira, se quero me sentir em paz, não irei olhar para o que me traz culpa, mas sim buscarei essa paz. No Yoga se diz que é preciso meditar no oposto daquilo que se deseja mudar. Ou seja, é preciso se conectar com o conteúdo que se deseja alcançar. Isso pode ser feito através de imagens mentais, através da permanência no silêncio e conexão com esse seu conteúdo interno que almeja.
Compartilhar problemas
Outro comportamento que nos traz sofrimento é quando alguém que estimamos fala de um problema (ou dor), com o qual nos identificamos e então passamos a sofrer junto. São então dois chorando as dores, ao invés de um. Ao agirmos assim, não ajudamos o outro a ficar melhor e/ou resolver a questão e, somado a isso, ainda nos colocamos para baixo.
A intenção é boa, mas o método errado. Não tiramos o sofrimento de alguém por assumi-lo. O segredo é sermos solidários, mas inteligentes. Se queremos ajudar, nossa compaixão precisa ter a direção de trazer o outro para cima e não que nós nos coloquemos para baixo junto com ele.
Do mesmo modo que nos ligamos ao sofrimento dessa pessoa, o contrário também pode acontecer. Ou seja, a pessoa pode se ligar à nossa força, bem-estar, amorosidade, bom humor ou qualquer outro estado de espírito que eu escolha ficar. Isso de modo algum é ser indiferente, na verdade, é o oposto. Tenho tanto apreço e zelo pelo outro (e também por mim), que opto por facilitar para que ele se sinta melhor. Para isso me mantenho bem e me conecto com bons sentimentos e pensamentos. Através disso, busco permitir que essa pessoa acesse esses conteúdos.
Para que todos esses processos aconteçam, precisamos estar conscientes, acordados. Se estivermos no automático, não teremos a possibilidade de modificar esses hábitos ou padrões.
Não consigo perceber se eu realmente senti algo naquele momento que me faria ter aquele comportamento em específico ou se estou tão habituada a responder da mesma forma, que simplesmente faço sem perceber. Assim trago à tona emoções e pensamentos ligados a essa postura. É necessário decidir se desapegar dessas cognições, emoções e comportamentos que nos fazem sofrer. Nos prendemos tanto a algumas "verdades",que passamos a ficar cegos para quaisquer outras formas de ver ou interpretar as situações.
Quando ouvimos algo que nos chama a atenção, ficamos repetidamente expostos a certos comentários de pessoas próximas a nosso respeito (ou a respeito de como são as coisas no mundo); vemos uma determinada situação acontecendo e nos apegamos a isso ferrenhamente, não abrindo brechas para outras formas de pensar, mesmo que essa nos traga sofrimento. O mesmo ocorre com as emoções e comportamentos. Eu me apego a uma maneira de agir e nem mais sei se aquilo é adequado ou faz sentido, mas como aprendi a me reconhecer através dessa atitude, repito a mesma sem parar para me reexaminar e averiguar se é desse jeito que quero responder.
Se aprendi a me rotular como uma pessoa explosiva, então determinei que preciso ter essa reação sempre que algo me desagradar ou não sair como desejo. Dessa forma, tenho o comportamento de, por exemplo: gritar, bater os pés, socar a parede… e, quando percebo, já estou com raiva.
A pergunta é: eu já estava assim antes de ter essa atitude ou passei a me sentir assim (principalmente nessa intensidade emocional) após ter tido esse comportamento?
Desejo a todos um ótimo despertar e, através dessa consciência, se mantenha alerta/acordado – em inglês utilizamos o termo awareness. Assim poderemos mobilizar grandes mudanças em nossas vidas, iniciando por nós.