Como lidar com essa essencial polaridade para o desenvolvimento? Permanecemos muitas vezes aprisionados entre a importância da conservação do já conseguido e a necessidade da renovação para manutenção da vitalidade. Mas, qual a medida, a discriminação, qual a fronteira que separa esses dois movimentos? Existe uma linha limítrofe que possamos estabelecer?
O que é conservação?
Conservação pode ser vista como manutenção de um estado já conseguido, pode ser criativa quando a serviço da elaboração dos objetivos alcançados, mas destrutiva quando mantida de forma rígida sem possibilidade de transformação. Com o polo da renovação pode dar-se o mesmo: criativa quando a serviço de um movimento maior, de questionamento do já estabelecido e de abertura para o novo. Mas destrutiva quando instável e volátil em demasia.
Conservação tem a ver com permanência, sobrevivência, continuidade e também fixação, insistência, persistência. Já a renovação fala de alteração, mudança, reforma, inovação, mas também manutenção e correção. Funções complementares que se tornam destrutivas em seus excessos ou quando se apresentam de forma rígida e fixada.
Ora, transitar entre esses vários aspectos da polaridade é a única forma possível de “crescer” e para isso temos de compreender de onde partimos ou para utilizar um conceito moderno temos de saber “qual é o lugar da fala”. Ou seja, quem é que fala, sente, vive e reconhece o que está vivendo.
Função primordial de um trabalho analítico em profundidade é poder nomear o sujeito, o eu, o ego ou centro da consciência. Essa nomeação começa a acontecer desde o início da vida, antes até mesmo do nascimento na identificação da vida que está ali já crescendo. Esse processo vai se dar ao longo de toda a vida e um ego vai sendo constituído ou desenvolvido a partir do relacionamento daquele ser tanto com o mundo externo quanto com o mundo interno.
Ora, é importante que ambas as polaridades conservação e renovação sejam contempladas durante o desenvolvimento para garantir o crescimento e sobrevivência. Para que isso aconteça é imperativa a existência de um ego suficientemente forte e ao mesmo tempo flexível.
Ego rígido em demasia
Se o ego for rígido vai se manter fixado em “seu lugar” e vai rejeitar, por assim dizer, toda e qualquer tentativa de entrada do que pode ser novo e transformador. Podemos pensar aqui nas personalidades muito identificadas com o já estabelecido, com o já conhecido, que não se abrem para o diferente. Quem nunca ouviu falar “em time que está ganhando não se mexe”? Poderia ser essa a expressão utilizada em um momento mais conservador, no qual o sujeito está acomodado com seus conseguimentos e não quer pensar ou se abrir para o novo.
Ego flexível em demasia
Mas por outro lado, se o ego for flexível em demasia, vai viver toda e qualquer novidade sem constância e aprofundamento. Vai experimentar as inovações com instabilidade e volatilidade sem poder garantir a reforma e o crescimento. Podemos pensar aqui em um movimento de questionamento de tudo e todos, o que às vezes é chamado de “rebelde sem causa” na medida em que não consegue ou não pode colocar a rebeldia a serviço de algo.
Não é tarefa fácil trabalhar com essas discriminações ou estabelecer parâmetros adequados. A medida é e será sempre qual o verdadeiro sentido desses movimentos para cada um de nós, e para isso é fundamental reconhecer ao menos quem somos e o que nos move.