por Roberto Goldkorn
Um grande guru, estava fazendo a sua peregrinação anual de aldeia em aldeia na Ìndia, e em cada aldeia, parava, fazia um sermão, abençoava algumas pessoas, curava, recebia a sua porção de arroz, e ia embora. Num desses discursos, um menino que o estava ouvindo por mais de três horas, começou a puxar o sari da mãe e impaciente pedindo:
– Mãe eu quero mijar, mãe eu quero mijar.
A mãe devota e fã de carteirinha, do guru, nem pensava em arredar pé dali. Mas a bexiga do filho não entendia dessas coisas do espírito e mandava ordens de urgência para o pequeno cérebro. O guru acabou perdendo a elegância védica e interrompeu seu discurso para dar uma demonstração de sua infinita sabedoria ao vivo. Num tom severo ensinou:
– Minha filha, você deve educar melhor o seu menino. Ensine a ele a trocar expressões chulas, por outras menos ofensivas aos ouvidos dos outros. Por exemplo, toda vez que ele quiser fazer essas necessidades, ensine-o a dizer:mãe quero cantar.
A devota ficou em êxtase com tamanha demonstração de sapiência. No ano seguinte, quando o guru voltou a aldeia do acontecido, devido as fortes chuvas acabou tendo que dormir numa das casas da aldeia. Adivinhe qual foi, exatamente, a do menino da bexiga impertinente do ano anterior. Mas quis o destino que a mãe do menino tivesse que sair para atender a uma parturiente em trabalho de parto (ela era parteira, é claro), e deixou o menino dormindo junto com o velho sábio.
Lá pelas tantas o menino acorda e pede ao portentoso guru, "prabhu (assim eles chamam os mestres lá), eu quero cantar. O velho sábio acorda exausto, sem entender nada, e pensa… "Esse menino é maluco…
– Vá dormir menino, isso lá é hora de cantar.
O menino assustado obedeceu. Mas passada meia hora a coisa ficou mais complicada e premido, ou seria espremido, pela sua bexiga, ele voltou a acordar o mestre:
– Prabhu, por favor eu preciso cantar, me leva lá fora pra eu cantar.
As habitações das aldeias dificilmente têm banheiros internos, na verdade nem mesmo externos. O guru já prabhu da vida, perde a paciência sânscrita e grita com o garoto, que assustado volta a sua cama. Mas uma hora depois já em desespero, as primeiras gotas escapando furtivamente, o menino chorando vai até a cabeceira do mestre e implora:
– Por favor, pelo amor dos trezentos e quarenta e nove deuses, me deixa cantar, eu não estou agüentando mais.
Ao que o guru também exausto com aquela batalha cede, e só impõe uma condição.
– Está bem, mas lá fora não, canta aqui mesmo no meu ouvido…"
Essa história não tem moral, nem por isso é imoral, é só para nos lembrar, que por piores que sejam os nomes, por mais que doam em nossos ouvidos delicados, devemos dar as coisas os seus nomes. Mascarar a dura realidade das coisas, ou por ingenuidade, ou por malandragem, só vai nos distanciar mais das soluções e das respostas certas aos problemas e desafios.
Portanto quem quiser mijar que mije, quem quiser cantar que vá pro karaokê.