por Ivelise Fortim de Campos – psicóloga componente do NPPI
Matrix Reloaded, segunda parte da Trilogia criada pelos irmãos Warchowsky, é com certeza um dos grandes sucessos do cinema no momento. O principal tema desta trilogia é a relação homem/máquina. Em Matrix, os homens são dominados pelas máquinas, que os escravizam e vivem sugando sua Energia.
No filme, para que os humanos não se dêem conta desta armadilha, os personagens são introduzidos numa espécie de sono – uma realidade virtual chamada Matrix, ou seja, o nosso mundo cotidiano. Imersos no mundo dos sentidos, os humanos vivem um sonho eterno sem se darem conta de que estão sonhando. Vivem em um mundo ilusório, sem se perceberem que são dominados pelas máquinas. Nesse filme tudo o que vivemos é uma realidade gerada por computador; somos todos programas, e tudo à nossa volta é programação….
Entre as inúmeras interpretações possíveis sobre esse filme – filosóficas, religiosas, metafísicas, cibernéticas, antropológicas ou psicológicas – será colocado aqui um pequeno apontamento, destacando o medo que o ser humano desenvolveu em relação às máquinas.
No contexto da dinâmica criador/criatura, a humanidade de hoje teme que, como no filme, um dia as máquinas nos superem, e sejamos dominados por elas. Os Animatrix (Curta metragens feitos para ajudar no entendimento do filme) contam como as máquinas se rebelaram contra nós, os seus criadores. O computador é talvez, hoje, a máquina que mais se assemelha ao ser humano – de alguma forma é capaz de "pensar", fazer cálculos e raciocínios, ainda que os computadores trabalhem apenas com dados exatos. Essa capacidade do computador "pensar", os experimentos de Inteligência Artificial, e os robôs humanóides, é que começam a despertar nos humanos o medo, ainda que inconsciente de que um dia essas máquinas possam operar pensamentos independentes da nossa programação (um computador é incapaz de apreender dados por si só: ele só trabalha com dados que foram inseridos por um programador).
Medo real? Em nossa atual realidade, é pouco provável que sejamos dominados pelas máquinas. Mas, não há dúvidas de que existe uma fantasia coletiva de isso possa vir a acontecer. Matrix, com certeza, é onde essa fantasia é levada a cabo, mas o medo de que as criaturas se rebelem contra os criadores é antigo entre nós. Desde o Frankstein, de Mary Shelley, e tantos outros personagens da literatura mundial, até o hoje já longínquo 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Na esteira destas representações simbólicas com que o medo da máquina vem sendo expresso, a partir deste mês apresentaremos em nossa coluna uma série de reflexões sobre outros aspectos da temática do filme Matrix.