por Roberto A. Santos
Não apenas as febres aftosas e aviárias se espalham rapidamente entre as pessoas, com graus variados de ameaça. De origem nada viral, febres corporativas eclodem num ambiente favorável de elevadas e ilusórias expectativas de se encontrar grandes soluções para carreiras e remunerações. Refiro-me à propalada febre "emibiei" e suas várias formas e manifestações.
Este nome esquisito ou, seu nome científico – a sigla americana "M.B.A." que significa Máster em Business Administration (teoricamente, Mestrado em Administração de Empresas), não pode pretender ser um mestrado em seu sentido estrito do termo (strictu sensu em Latim) porém, chamá-lo de curso de especialização também não é marqueteiro e não valoriza o C.V. de quem anseia ardorosamente por uma oportunidade de ouro em sua empresa ou no mercado. Então, a indústria do ensino se apropriou da grife americana e espalhou a febre.
Sintomas
Os sintomas da febre é a multiplicação de entidades oferecendo cursos a dezenas de turmas ao ano, entregando um certificado a centenas ou milhares de formandos. Estes podem então inserir a chancela da sigla americana ou do sonhado prefixo "pós" à sua desgastada graduação, geralmente em escolas de programas e docência duvidosos, na expectativa de reverter o quadro de anemia curricular.
As complicações advindas desta febre podem vir em manifestações variadas, basicamente: o endividamento e/ou a frustração de que o MBA não resultou em "Mais Bolada Agora". Quando são contemplados com as benesses de políticas de R.H. que reembolsam total ou parcialmente esse tipo de curso, muitos jovens, em início de carreira, se endividam para se acometer então de uma reação alérgica: "Prá que serviu afinal esse curso, além de adicionar uma linha em meu currículo?"
Contágio
Infelizmente também, esta febre é altamente transmissível. Geralmente, ocorrer depois de alguns papos no happy hour ou no cafezinho da firma, em que um ou outro colega de seu "Super MBA". Os ouvintes começam a sentir uma coceira insuportável em seu bolso e cérebro que se transforma em insônia e, finalmente, ele "morre" com alguns milhares de reais numa das instituições de níveis variados de competência e seriedade.
Prevenção
Será que existiria uma vacina para esta febre? Interessaria a alguém ou alguma entidade pesquisá-la? Não acredito pois a indústria do ensino já ocupou o espaço no mercado e o sonho do "MBA = Chave do Sucesso" já ocupou a mente de muita gente.
A vacina precisa ser desenvolvida por cada indivíduo, Quem já fez tratamento para alergia sabe que existe a autovacina, preparada com substâncias geradas pelo próprio organismo diante dos fatores provocadores da alergia. Para a febre emibiei, a autovacina também poderia ser a solução. Como?… A composição da autovacina deve incluir: uma boa dose de bom senso, um bocado de avaliação de custos e benefícios, encapsulados em muita reflexão pessoal e uma pitada de originalidade.
Posologia
Para profissionais de diferentes idades e estágios de carreira, a posologia deve ser a seguinte:
– Bom Senso: administrado diariamente na análise sobre os pontos fortes e fracos que se pode descobrir por si mesmo ou com a ajuda de feedback de terceiros (chefes, colegas, subordinados, parentes e amigos em geral) até que se deduza que a única coisa que está faltando em seu histórico é um curso deste tipo. Provavelmente, existem várias outras prioridades a serem atacadas antes.
– Análise de Custos & Benefícios: deve ser aplicado no delicado momento de se comparar o holerite (ou contracheque) com o orçamento doméstico ou pessoal. Nesta hora, uma simulação realista do impacto do MBA na conta bancária em relação à certeza do retorno financeiro deve ser avaliada.
– Originalidade: Com a cura ou prevenção já bem encaminhada com os elementos anteriores, a busca criativa de formas de suprir o que pode empacar a carreira vai lhe mostrar outros caminhos de custos menores e eficácia melhor para evitar descarrilamentos de carreira. Afinal, é comum se ver pessoas sendo contratadas por terem um reluzente MBA em seu CV mas são muito raras as demissões de profissionais pelo único fato de não possuírem aquela medalha acadêmica.
Não se deve generalizar quanto aos males da febre ou seus agentes. Os organismos febris processam seus ataques e criam resistências saindo fortalecidos daquela condição. Os carentes da vitamina do bom senso e níveis elevados de mimetismo de colegas devem sim buscar seu autodesenvolvimento em bases contínuas, por meio de distintas abordagens: novas experiências profissionais, participação em projetos especiais e forças-tarefa, leituras, mentores formais ou informais, feedbacks de várias pessoas e, inclusive, cursos sérios do tipo MBA.
Entretanto, essas pessoas investirão seu dinheiro, tempo e esforço com um nível maior de resistência ou proteção da autovacina às decepções pois tomarão sua decisão pela via mental e não pela via oral dos papos alheios.