por Alex Botsaris
Há cerca de dez anos, o tema 'medicina alternativa' era tratado com desprezo e preconceito, pela academia, e a quase totalidade dos médicos. Nessa época um pesquisador, o médico americano David Eisemberg, fez uma pesquisa com 1500 pessoas nos Estados Unidos, de diferentes estados e cidades, e deduziu que 60 milhões de americanos buscavam tratamentos alternativos por ano. Um segundo dado surgido em 1998, mostrou que o número de consultas reembolsadas por planos de saúde a tratamentos alternativos, estava atingindo o mesmo nível que as consultas médicas convencionais.
Isso deflagrou uma forte resposta dos setores conservadores da medicina. O New England Journal of Medicine, considerada uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo, publicou um editorial onde exortava os médicos e a imprensa a reagirem, e desqualificar esses métodos de tratamento, classificados como "enganosos e potencialmente perigosos" para os pacientes. Aqui no Brasil esse editorial motivou a publicação de uma portaria do Conselho Federal de Medicina que proibia os médicos de aplicarem tratamentos alternativos, que não fossem "comprovados cientificamente".
Mas existem males que vem para bem. Pacientes usando métodos alternativos continuaram a usá-los, motivados por uma percepção que eles traziam beneficio e não se constituíam em risco significativo. As áreas mais progressivas da medicina, e com maior bom senso, também se manifestaram, através de um número do JAMA – o jornal médico da Associação Médica Americana. Nesse número, não só haviam vários artigos científicos mostrando benefícios de diferentes medicinas chamadas de alternativas (como acupuntura, fitoterapia e osteopatia); assim como um editorial dizendo que esse movimento dos pacientes mostrava uma necessidade de mudança de conceitos na medicina, e que os métodos alternativos precisavam é de mais investimento em pesquisa, para serem incorporados ao arsenal médico.
Nessa discussão surgiu também o conceito de medicina complementar. Ou seja, os métodos antes considerados alternativos, na verdade, tinham a propriedade de se tornar auxiliares e potencializar a medicina convencional na busca de melhores resultados. Hoje em dia o termo CAM (complementary and alternative medicine) está bem estabelecido e tem sido usado com crescente freqüência em artigos científicos e na linguagem médica corrente para se referir a esses novos tratamentos incorporados pela a medicina.
Nos Estados Unidos esse movimento motivou o National Institute of Health, órgão que coordena a pesquisa e a evolução científica lá, a criar uma divisão apenas para cuidar de medicina complementar, o NCCAM (National Center for Complementary and Alternative Medicine – www.nccam.nih.gov) e que agora vem validando e regulamentando várias práticas da medicina complementar. O NCCAM relaciona vários métodos já cadastrados e que estão sendo validados – como acupuntura, medicina ayurvédica, quiroprática, suplementação dietética (que corresponde a nossa fitoterapia), aromaterapia, homeopatia, massagem, naturopatia e magnetoterapia, Qi Gong e Medicina Tradicional Chinesa.
A conceituada Clinica Mayo também abriu uma divisão exclusivamente dedicada à medicina complementar. Lá, além de serem conduzidas várias pesquisas nesse campo, o paciente pode optar por ter tratamentos da medicina complementar durante sua internação. Entre outras doenças, a Mayo Clinic indica medicina complementar no tratamento de câncer, depressão, alergia, asma, cefaléia, síndrome do cólon irritável, síndrome da menopausa, dor crônica e fibromialgia (www.mayoclinic.com/health/alternative-medicine).
Na Europa a medicina complementar era mais tradicional e incorporada na sociedade, mesmo antes da década de 90. Ainda assim houve uma evolução e um aumento dessas práticas, em todos os países. Além das tradicionais acupuntura e homeopatia, novas técnicas têm sido incorporadas entre as reembolsadas pelos sistemas de saúde. Com a consolidação da CEE (comunidade Econômica Européia) foi criado um grupo chamado ESCOP, voltado apenas para escrever a farmacopéia oficial de plantas medicinais que será referência para a produção e medicamentos fitoterápicos em todos países do grupo.
Na Inglaterra a tradicionalíssima Universidade de Oxford criou um grupo para coordenar o conhecimento na área de medicina complementar. Além de fazer revisões sobre o conhecimento da cada área, o grupo está com a missão de preparar a Oxford para implantar o ensino dessas novas áreas da terapêutica no futuro.
No Brasil já é possível encontrar áreas de acupuntura e fitoterapia em algumas universidades, mas as iniciativas ainda são tímidas em relação aos países desenvolvidos. Entretanto hoje em dia está ficando claro o valor indubitável da medicina complementar na área da saúde, e que é uma tendência que veio para ficar e contribuir com a medicina, e não apenas um modismo passageiro.