A Peste ia a caminho de Bagdá quando encontrou Nasrudin.
Este perguntou-lhe: – Aonde vais?
A Peste respondeu-lhe: – A Bagdá, matar dez mil pessoas.
Depois de um tempo, a Peste voltou a encontrar-se com Nasrudin. Muito zangado, o mullah disse-lhe: – Mentiste-me. Disseste que matarias dez mil pessoas e mataste cem mil.
E a Peste respondeu-lhe:
– Eu não menti, matei dez mil. O resto morreu de medo.
*Conto da tradição sufi.
A medicina e o medo
A medicina e o medo caminham lado a lado, suas três primeiras letras são as mesmas. Morte e medicina brigaram e isso é explícito no currículo da faculdade. A morte deixou de ser aquela irmã que Francisco cantava em harmonia com o irmão Sol e a irmã Lua. Apenas recentemente, os cuidados paliativos e integrativos chegam em auxílio para promover essa reconciliação. O preço que pagamos com isso é justamente o medo da morte. A morte vital que Saramago deixa claro no clássico “Intermitências da morte”.
Defender a vida não é sinônimo de lutar contra a morte
Apesar das reincidentes tentativas de matar a morte, a sociedade moderna permanece sua refém. A busca pela imortalidade está fadada ao fracasso enquanto insistirmos em buscá-la a partir do medo e não sobre o aperfeiçoamento do caráter e virtudes pessoais. Enquanto não houver um grau de integridade aceitável, continuaremos a temer a morte. Não estaremos a sua altura e, portanto, seremos incapazes de estabelecer uma relação fraternal com ela. Quando o medo é o veículo da informação, toda atenção é pouca!