Meditação, mindfulness, atenção plena: a ciência resgatam antigos conhecimentos

por Regina Wielenska

Imagino que muitos leitores já tenham observado o surgimento, na imprensa e em outros meios de comunicação, de material que se refere aos benefícios de práticas de meditação/mindfulness para a saúde e qualidade de vida de adultos e crianças.

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Observo que muitos reagem com certo desânimo e desalento, por se julgarem incapazes de praticar qualquer atividade dessa natureza. Alegam impaciência, falta de tempo, incapacidade de concentrar, desinteresse, incredulidade.

Do ponto de vista técnico pode haver pequenas diferenças entre o significado preciso dos termos meditação, mindfulness e atenção plena. Para efeito deste artigo, vou partir do entendimento de que boa parte dessas práticas se originou de contextos socioculturais na Índia, Japão, China, Nepal, Tibete, Tailândia e outros países do Oriente, e eram geralmente ligadas ao yoga ou a variações do budismo. Com o passar dos séculos, especialmente por influência da contracultura e do movimento hippie nos anos 60 e 70 do século passado, resgatou-se dessas atividades para o Ocidente, que passaram a fazer parte do nosso imaginário no contexto de práticas religiosas, filosóficas, esportivas ou terapêuticas. O problema se estabeleceu com a falta de informações precisas, com a existência de charlatões que se valem disso apenas para ganhar dinheiro com bizarrices pseudomeditativas ou esotéricas, aliado ao preconceito de muitos com aquilo que desconhecem.

Felizmente houve repercussão suficiente nos meios da Medicina e Psicologia, e pesquisadores sérios e engajados, como Jon Kabat-Zinn (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jon_Kabat-Zinn), passaram a investigar sistematicamente essas práticas de meditação/mindfulness, e descobriram seus fundamentos neurofisiológicos, avaliaram e atestaram os benefícios reais que se pode obter e investigaram os mecanismos biológicos pelos quais as mudanças ocorrem (para conhecer mais, sugiro http://www.youtube.com/watch?v=rSU8ftmmhmw).

Estado medidativo ou de mindfulness

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Quando a conversa permite, tento um mergulho nos argumentos que a pessoa me oferece e geralmente descubro uma série de mal entendidos a respeito do que caracteriza um exercício e um estado meditativo ou de mindfulness, poucos alcançam o entendimento de sua função e sabem como se exercitar na direção de alcançar mudanças significativas.

Um dos equívocos comuns é acreditar que se precisa ir a um templo ou local especial, fora de casa, para praticar meditação. De fato, há muitas instituições que abrigam os que se dedicam à meditação, mas isso não significa ser esse um pré-requisito indispensável. É possível praticar em casa, no trabalho, no quintal, no banheiro, num jardim, até mesmo dentro do carro, à sombra, num local seguro.

Há quem tenha a certeza de que se precisa reservar uma hora para isso. Não é verdade. Os programas de meditação e mindfulness trazem sugestões que começam com um minuto ao dia de exercícios. Sim, essa atividade pode se repetir mais vezes ao dia, mas isso fica a critério do praticante. Num outro extremo, existe realmente a possibilidade de se passar um fim de semana ou até um mês inteiro num retiro de meditação, com oito ou mais horas de prática regular ao dia. Mas esses casos são raros, se ajustam a um grupo reduzido de indivíduos com interesses muito especiais. Para nós, pessoas comuns, começar com exercícios regulares, breves, e entremeados no cotidiano atribulado, parece ser um excelente caminho a se valorizar e que se comprovou ter efeitos terapêutico sobre vários aspectos do funcionamento físico e emocional de pessoas com diferentes perfis.

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À medida que alguém notar as melhoras, naturalmente vai encontrar espaço na agenda para práticas mais longas, de cinco ou dez minutos e talvez, em um ano, esteja praticando mindfulness três vezes na semana, em sessões de 45 minutos. Isto seria de bom tamanho, embora ainda mais tempo para exercícios seja sempre uma ideia bacana.

Um terceiro equívoco é a crença de que só consegue praticar meditação/mindfulness quem for capaz de ficar sem pensar coisa alguma, com a mente vazia por uma hora. Para começo de conversa, nossa mente é filogeneticamente preparada e treinada para funcionar até mesmo quando estamos dormindo. Como forçar nosso cérebro a agir diferente e se despojar de tudo isso? Impossível e inútil. Na verdade, o que se busca é um estado de gentil observação da experiência corrente, do aqui e agora.

Em meditação busca-se não julgar o que surge, há estímulo para que a gente entre em contato com o fluxo livre dos pensamentos e dos estados do corpo e das emoções. Atenção plena ao momento presente, sem julgar o que surgir. Cada vez que a mente ansiosa ou disruptiva se desconecta do presente e vai para o passado ou futuro, nós a trazemos de volta delicadamente e continuamos a colocar o foco sobre um mantra ou sobre nossa respiração, estas são ferramentas que podem nos ajudar a ficarmos ancorados no aqui e agora.

A única dimensão onde vivemos de verdade é o presente, cada vez que ficamos presos ao passado dos arrependimentos, mágoas e memórias mal elaboradas perdemos a chance de contactar a vitalidade do presente, o espaço onde podemos circular e dele tirar proveito para crescermos. Se vivermos apenas antenados no futuro, ansiosos, fazendo mil planos e sem atuar no presente, apenas experienciamos aflições e não colhemos frutos na exata proporção dos esforços e sofrimento.

A meditação/mindfulness/atenção plena tenta nos guiar em direção do presente por inteiro, nos liberta de padrões comportamentais repetitivos e lesivos. Tudo com suavidade, compassiva e pacientemente.

Há que se ter em contrapartida de nossa parte, disciplina, empenho e um bocadinho de investimento pessoal nesta trilha.

Para experimentarem uma amostra de tudo aquilo ao qual me refiro, gostaria de convidá-los a visitarem uma dessas páginas, onde cada um poderá praticar um exercício curto, que pode ser incorporado facilmente ao cotidiano. https://www.facebook.com/video/video.php?v=3396813913945 (versão com legenda em Português). http://www.onemomentmeditation.com/ (versão original em Inglês)

Bons exercícios a cada um de vocês! Que os frutos colhidos sejam saborosos.