por Stephen Little – interino
A imagem de uma pessoa sentada quieta e imovel na postura de meditação, com seus olhos levelmente fechados, fica facilmente aberta para interpretações.
Podemos colocar duas pessoas assim, uma ao lado da outra, sentadas na mesma sala, na mesma postura, com as mesmas carateristicas externas e, depois descobrir, contra nossa expectativa, que a primeira estava cultivando, pacientemente, a consciência na sua própria respiração enquanto a outra estava planejando como iria ganhar na lotería. Bom, é um exemplo um pouco exagerado, talvez. Porém, imagino que você concordaría: aparências externas muitas vezes nos enganam.
Por causa disso, quando exploramos os benefícios de meditação – esta prática silenciosa com milhares de formas conhecidas – temos que enfrentar uma série de perguntas desafiadoras em primeiro lugar.
Se a meditação tem de fato algum benefício, será que existe – de todos os tipos de possibilidades mentais -algo mínimo que a pessoa tem que fazer para desenvolver alguns dos benefícios de longo prazo supostamente atribuídos à meditação? E se tiver, o que é? Existe pelo menos uma característica, um critério, que podemos identificar para esclarecer a diferença entre a “meditação eficaz”, vamos dizer, e qualquer outra atividade? E essa ideia de uma “meditação eficaz”, existe? Ou a meditação é só uma questão de fechar as suas pálpebras com a esperança de que, se tiver sorte, tudo vai dar certo?
Acho que é melhor lembrar que não existem respostas necesariamente definitivas dessas perguntas. Para ajudar, normalmente, são as tradições espirituais que respresentam nossas maiores autoridades sobre esses assuntos. E elas têm bastante para falar a esse respeito, especialmente aquelas do Oriente. Porém, tem que ser dito que muitas são tão envolvidas em defender o seu próprio método, que não sobra tanta energia para definir o que todas têm em comum. Talvez, precisemos buscar outras fontes de sabedoria…
Onde há um rico campo de observações é no dialogo entre essas tradições e a comunidade científica no mundo ocidental. Uma das grandes vantagens dessa parceria é que a maioria das técnicas meditativas conhecidas no mundo, estão passando por um processo detalhado (e demorado) de avaliação. Embora algumas pessoas das tradições religiosas achem que esse processo ameace o espírito dos ensinamentos originais, as decobertas e conclusões dos cientistas muitas vezes apoiam o ponto de vista básico já existente naquelas tradições. Ao mesmo tempo, preciso admitir que, sim, algo da essência está sem dúvida sendo perdida nesse processo reducionista. Mas esse é assunto para outro artigo.
Voltando para nossas questões centrais, podemos considerar a meditação na área de saúde, onde fica mais facil perceber tudo esse processo analítico em ação. A base da ciência médica é a confiança. Idealmente, tudo que entra num hospital, como um possível caminho para os pacientes, tem de passar por pesquisa. Quando os médicos consideram uma determinada intervenção em um paciente, o risco tem que ser conhecido e minimizado.
Para um programa de meditação ser aceito dentro da realidade médica, as formas e os princípios das práticas incluídas têm de passar por esclarecimentos e ser padronizados. Um hospital não é um centro de meditação, claro, e nem uma igreja. Esse processo permite que a pesquisa seja eficaz e, quando o método é aplicado em um número amplo de pacientes, os resultados vêm, pelo menos, de um programa consistente – e são os mais desejáveis, na maioria dos casos. Tudo isso facilta o processo. E, o processo de pesquisa tem uma grande vantagem para o entendimento do valor da meditação, e do seu ensino e prática também. Ele cria uma melhor imagem para nós daquilo que um determinado paciente tem que fazer, no mínimo, para maximizar a possibilidade dos resultados desejáveis.
Ainda, depois de algumas décadas dessa pesquisa, os cientístas descobriram muito pouco sobre os mecanismos que estimulam efeitos benéficos em nós quando estamos meditando. Porém, pouco a pouco, estão chegando a algumas conculsões que estão tirando o “ato” de meditar de uma neblina confusa e antiga. Podemos falar, hoje em dia, que a prática de meditação é mais sobre a qualidade da atenção que prestamos àquilo que surge em nossa experiência, do que um ato de pensar de uma determinada maneira, ou mesmo de não pensar! Em determinadas práticas talvez você vá pensar conscientemente sobre um assunto específico, porém, mais que tudo, a meditação é uma maneira de prestar atenção.
Já sabemos que não adianta falar coisas bonitinhas para uma criança se não conseguimos escutá-las na hora aproriada. A arte de criar crianças/filhos, claro, depende muito da qualidade de atenção que é dada para cada uma, em cada fase de crescimento e em cada situação. Também, a arte da meditação torna se eficaz a partir do momento em que damos para nós mesmos uma qualidade de atenção que estimula o nosso próprio desenvolvimento e saúde. Como seria esse tipo de atenção? A ciência busca identificar suas características específicas faz algum tempo. De todas que estão sendo descritas talvez a mais importante seja a percepção do momento presente.
Qual outro momento temos além deste instante?
Se formos pensar, qual é o valor de sentarmos quietos por um período de meditação se não estivermos presente? Bom, a meditação era até recentemente, associada a um estado de ‘desligado’. Falávamos até em “esvaziar a mente”. A longo prazo, essas maneiras de considerar a meditação tornaram-se ineficazes. Só criam mais frustração e desapontamento.
A meditação tem seu valor quando a usamos para treinar o momento presente. Os benefícios duradoros vêm quando a nossa prática diária treina a habilidade de estarmos conscientes de nossas experiências – sejam quais forem – no momento presente, para aprendermos a responder sabiamente às situações, em vez de simplesmente reagirmos a elas de forma automática. Isso é o valor do momento presente. Gradualmente, nos permite adquirir real consciência de nós mesmos, bem como na relação com os outros, conduzindo a uma vida mais criativa, mesmo sob estresse, dor ou doença por um longo período de tempo.
Podemos elaborar mais sobre os benefícios citados das práticas que cultivam essa presença integral: a redução da ansiedade, a melhora da oxigenação no corpo e da frequência cardíaca, aumento da clareza mental, paciência e gentileza. Porém, talvez seja ainda melhor deixar você fazer uma prática para avaliar para si mesmo os benefícios:
Como meditar no momento presente
1. Sente-se com a coluna reta, perpendicular ao solo, mas sem rigidez. Abra o tórax e deixe os ombros soltos.
2. Aos poucos, achegue-se (perceba) ao seu corpo, sentindo seu peso e as sensações na sua pele.
3. Deixe seus olhos fechados (ou semifechados), relaxados, e libere qualquer tensão na testa.
4. Sinta que você está aqui e agora, neste local, neste momento.
5. Perceba o corpo inteiro e as sensações dentro dele.
6. Elabore uma intenção suave de ficar ali, por cerca cinco ou dez minutos, com as sensações de sua respiração.
7. Calmamente, deixe as sensações da respiração surgirem aos poucos, preenchendo a sua atenção. Sinta as sensações no abdômen.
8. Fique com o movimento da respiração.
9. Se a mente estiver seguindo pensamentos, preocupações, ou algo além das sensações da respiração, simplesmente aprecie tudo isso e gentilmente abra e expanda a sua atenção ao redor desses pensamentos ou preocupações, criando novamente uma consciência ampla e incluindo as sensações da respiração; o abdômen, expandindo e relaxando.
10. Novamente, volte às sensações da respiração ao abdômen.
É importante saber que você não precisa castigar-se ou reclamar quando percebe as divagações da mente. Com paciência, volte sempre à consciência ampla do corpo e à respiração, como se você estivesse treinando um cachorro pequeno a sentar numa única posição. Mesmo que sua mente divague mil vezes, traga a atenção de volta gentilmente e com paciência.
Nos próximos artigos, vou elaborar um pouco mais esse assunto e apresentar alguns temas ligados a ele.