por Antônio Carlos Amador
Muitas vezes nos encontramos frente a situações que envolvem um dilema, em que devemos tomar uma decisão. Mas nem sempre somos capazes de decidir e fazer o que realmente desejamos, pois tomar decisões quando a situação envolve outras pessoas não é tão simples quanto parece, principalmente quando nos compromete afetivamente, afetando nossos sentimentos.
Às vezes quando alguém nos pede algo que não nos agrada, um favor por exemplo, nos vemos obrigados a concordar, mesmo que de má vontade, pois nos sentimos incapazes de dizer não.
Outras vezes o compromisso afetivo pode ser maior quando está em jogo a nossa própria segurança. Nesse caso não só somos incapazes de dizer não, mas até de nos rebelarmos contra algo que consideramos injusto como, por exemplo, a exploração no trabalho.
Em ambos os casos o que está em jogo é o medo inconsciente da rejeição, de deixar de ser querido, até o ponto de induzir-nos a uma vida neurótica, cheia de angústia e infelicidade.
Se considerarmos que não nascemos assim, que não viemos ao mundo equipados para sermos "bonzinhos", como é que as coisas chegaram a esse ponto?
Chantagem afetiva
Tudo isso é aprendido, de uma forma equivocada, desde a infância. Quando a mãe diz ao seu filhinho: "Se você não fizer isso a mamãe não vai mais gostar de você"; ela está, sem perceber, fazendo uma chantagem afetiva. No entendimento da criança se ela não fizer o que a mãe lhe pede, ela deixará de ser querida e cairá no mais completo abandono. Depois ela estenderá essa conclusão para os demais. Ela está aprendendo a ser "boazinha".
Quando um adolescente ouve de seu pai: "Com esse comportamento você vai me matar de desgosto!", ele sofre não só com a ameaça de não ser querido, mas também com a possibilidade de culpa pela eventual morte de seu pai.
Na escola um estudante pode se deparar com professores que castigam alunos que questionam seus critérios educativos; na educação religiosa muitas vezes são impostas normas morais com altas cargas de culpa frente à falta de humildade; os patrões podem ameaçar com a possibilidade de demissão qualquer demanda por direitos; ou a ameaça de divórcio ou abandono familiar pode pairar sobre qualquer conflito familiar.
Quando tais situações se repetem sistematicamente durante os períodos de desenvolvimento de um indivíduo, elas podem resultar numa aprendizagem condicionada, onde uma conduta aprendida se liga a um fator condicionante. Nesse caso, a negação de uma solicitação carrega implícita uma carga de culpa e medo, que afloram num determinado momento, bloqueando as decisões autônomas.
E assim, muitas pessoas se movem, diariamente, dentro dessa armadilha. Quando devem decidir entre elas e as demais ficam perdidas, se angustiam, confundindo humildade com o sacrifício pessoal, o favor com a obrigação e seus direitos com as exigências alheias. Com frequência posam de mártires pela vida afora, ou são presas fáceis de oportunistas e aproveitadores, que não hesitam em usá-las.
Medo de rejeição: ações devem seguir e ser coerentes aos sentimentos
É preciso, então, aprender a dizer não quando sentem que é isso que verdadeiramente querem.