Da Redação
Neste mês da mulher, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), realiza diversos eventos em comemoração ao “Dia Internacional da Mulher”, entre eles, na semana passada, uma palestra sobre como obter qualidade de vida, de modo que a mulher alcance seus objetivos sem perder sua identidade feminina. A palestra foi ministrada pela master coach e fonoaudióloga Kátia Nascimento.
Um ponto básico para resolver esse dilema está na dualidade entre maternidade x profissão aliado ao conceito de identidade feminina e o outro é a própria definição sobre o significado de qualidade de vida. Vya Estelar conversou com especialistas. Vejam…
Como ponto de partida para definir a identidade feminina nos tempos atuais, a psicóloga e professora da PUC de São Paulo, Ceres Araujo gosta de citar o filósofo francês Gilles Lipovetsky, teórico da Hipermodernidade e autor do livro: A Terceira Mulher. Ele diz: "Nossa época iniciou uma transformação sem precedente no modo de socialização e individualização do feminino, uma generalização do princípio de livre governo de si, uma nova economia dos poderes femininos: é esse modelo histórico que chamamos de a terceira mulher".
Ceres esclarece que anteriormente, a maternidade construía e dava significado à identidade feminina, mas ocorreu uma transformação no mundo, passando a existir uma valorização da mulher que busca uma carreira profissional. Houve a legitimação do trabalho feminino assalariado, o recurso do controle da concepção e a possibilidade do adiamento da maternidade pelos avanços da medicina.
Terminou a era onde a existência feminina se ordenava em função de caminhos pré-traçados: casar, exercer as tarefas da casa e ter filhos. Uma nova ordem social se instalou, o que permitiu às mulheres inventar a própria vida. Abriu-se um universo de escolhas em relação à atividade profissional, à vida social e à vida familiar, escolhas permitidas na maioria das culturas. Qual profissão escolher? Qual carreira seguir? Casar ou não casar? Ter filhos? Adiar a maternidade? Não ter filhos? Tudo parece ter se tornado opção individual e um esforço pessoal, ainda que não se possa excluir as oportunidades ou favorecimentos do destino.
Assim, nesse novo cenário, a maternidade faz parte do conjunto de funções femininas e hoje se adequa aos valores de autonomia da mulher. Maternidade é uma função, uma prerrogativa e não uma profissão. Aliás, nunca se definiu como profissão. Oficialmente, a profissão das mulheres "só mães" era a "do lar" ou a de "prendas domésticas". Hoje, raramente se veem essas denominações no preenchimento da profissão nos documentos.
Existem, entretanto, nos nossos tempos, mulheres que optam por se ocuparem apenas dos filhos. Em geral, são pessoas que não têm necessidade de atividade assalariada, ou por viverem de rendas próprias, decorrentes de patrimônios herdados ou por serem sustentadas por maridos ou pais de seus filhos. É uma escolha e cumpre ressaltar que nos tempos hipermodernos, toda escolha individual é válida e precisa ser respeitada.
Maternidade x profissão
Pesquisas mostram que mães de períodos integral, de dedicação exclusiva não são necessariamente melhores mães que as que trabalham. Sem dúvida, as crianças precisam muito de suas mães, principalmente durante os primeiros anos da infância. Mas, a qualidade da maternagem não é medida apenas em tempo. Ter tempo para os filhos é importante sim, mas a disponibilidade interna da mãe para se sintonizar com as necessidades e desejos do filho é algo essencial.
É duro coadunar maternidade e profissão e as mulheres que realizaram essa escolha, precisam fazer um esforço hercúleo. Elas se colocam metas ambiciosas: garantir os melhores cuidados e atenções aos filhos e progredirem bem nas suas carreiras e isso, não raro, sem contar com os auxílios, pelos quais elas pagam impostos, por exemplo, creches para os filhos. As dificuldades existem até com as próprias escolas dos filhos, articuladas em função de conceitos antigos, que, por exemplo, marcam reuniões de pais no meio dos períodos do dia. Existe, de fato, uma dissintonia entre as opções possíveis que teoricamente a sociedade oferece e as condições da vida prática.
Com tudo isso, como fica a qualidade de vida dessa mulher?
Segundo a pesquisadora Elisa Cozasa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das maiores autoridades do País quando o assunto é qualidade de vida, este conceito deve ser individualizado, mas segue alguns parâmetros.
Elisa explica que é comum em uma conversa informal, numa roda de amigos, ouvir pessoas dizerem que estão "preocupadas com sua qualidade de vida", ou que sua "qualidade de vida não é boa", ou que "acham que seus filhos não têm a mesma qualidade de vida que eles tiveram na infância". Mas afinal, o que é qualidade de vida?
Embora não haja um consenso a respeito do conceito "qualidade de vida", três aspectos fundamentais referentes a esse conceito são citados no site do Grupo de Estudos em Qualidade de Vida, que validou no Brasil um questionário (o Whoqol) que pertence à Organização Mundial de Saúde dentro dessa temática:
Três aspectos da qualidade de vida:
(1) subjetividade;
(2) multidimensionalidade;
(3) presença de dimensões positivas (p.ex. mobilidade) e negativas (p.ex. dor).
Em outras palavras há um caráter subjetivo, pessoal, no que se refere à qualidade de vida, bem como ela é determinada por diferentes fatores (ou seja a multidimensionalidade) como o ambiente físico, os relacionamentos, a saúde, a maneira de encarar as situações na vida dentre outros. Ela ainda depende de dimensões positivas como a mobilidade que possuo ou negativas como alguma dor física ou mental.
Dessa forma, uma das maneiras de conceituar qualidade de vida é "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações", completa a pesquisadora.
“Assim não podemos, portanto, querer decidir o que é melhor para a qualidade de vida de uma pessoa dentro de uma perspectiva diferente da qual ela mesma vive”, reforça.
Considerações essenciais
Entrevistas em projetos de pesquisa sobre qualidade de vida, com pessoas idosas com baixo nível socioeconômico e baixa escolaridade, trazem respostas surpreendentes: uma parcela razoável pode considerar boa ou muito boa a sua qualidade de vida. Para elas a justificativa é o apoio dos familiares, a presença de amigos, o fato de terem um grau de atividade relativamente bom para a idade, dentre outros fatores.
Da mesma maneira, a partir de notícias que ouvimos sobre o que é melhor ou mais saudável em termos de alimentação, ou sobre a última prática de exercícios da moda, ou sobre a forma como as pessoas "irão" se vestir na próxima temporada, poderemos ficar desesperadamente tentando nos encaixar nesses padrões achando que teremos uma qualidade de vida melhor. Novamente, voltamos para a importância da pessoa se conhecer e, de maneira bastante ponderada, perceber o que é melhor para ela mesma.
Existem alimentos saudáveis que podem ser preparados de diferentes maneiras e uma delas pode ser mais apropriada para você, bem como a forma de se vestir tem que fazer com que você se sinta natural, confortável e bem consigo mesmo (não seria isto a elegância?).
Quanto aos exercícios, há infinitas modalidades e dependendo das características, temperamento e idade de cada um, podem ser mais ou menos motivadores. Lembre-se que seja qual for, para que traga benefícios, você precisará praticar regularmente.
Que tal pensar um pouco no que pode melhorar a sua qualidade de vida?
O que posso fazer por minha saúde física ou mental?
Há algo posso fazer pelo ambiente em que moro?