Por Lilian Graziano
Não é a primeira vez que escrevo um texto sobre metas para o Vya Estelar.
Se perguntarem o que muda, desde minhas últimas recomendações sobre o tema, digo que quase nada.
Há algo que, no entanto, não me lembro de ter mencionado às leitoras e aos leitores. Não me recordo de ter dito, quando deveria, que a expressão de ordem para uma nova lista de metas pode ser muito mais o “pé no freio”, enquanto muitos buscam mais e mais realizações e aumento de produtividade e complexidade na vida para o ano que se acena.
E ainda que o tenha dito, vale ressaltar: às vezes, aquilo de que mais precisamos é parar, respirar, repensar e nos dedicar apenas ao que faz realmente sentido. Em que pese esta ser uma profunda questão existencial, em tempos de anomia completa entre os habitantes deste planeta, interessa-nos, a priori, distinguir que a qualidade se sobrepõe à quantidade de realizações, tarefas e outras obrigações e imposições, entendendo-se por “qualidade” aquilo que nos é realmente indispensável e construtivo em um projeto de vida feliz.
No livro Por Uma Vida Mais Simples (Cultrix, 2015), o autor, André Cauduro D’angelo, professor da PUC e da ESPM do Rio Grande do Sul, faz uma clara defesa à simplificação da vida, por meio de relatos e recortes sobre o que ele chamou de “simplicidade voluntária”. É quando o sujeito opta por menos bens, menos atribulações e muito mais “ser” do que “ter”. O que sobra de material é aquilo que imprime sentido ao “ser” e permite intercambiar experiências, relações, partilhar sentimentos e nossa própria essência.
Ainda que o faça sob um viés anticonsumista (e não uma apologia à pobreza, frize-se), D’angelo reúne depoimentos de pessoas que consumiram menos, mas também, por conta disso, abandonaram atividades que lhe preenchiam o tempo sob o pretexto único de ganhar mais, para consumir mais depois ou garantir-lhes algum status imposto como essencial pela sociedade – e não por si mesmas. O sentido de cada ato na vida dessas pessoas passou a ser orientado por direcionamentos exclusivamente internos, nutrindo-as enquanto ser humano, espiritualmente, fortalecendo laços familiares, de amizade, os aprendizados e a autoestima.
Em entrevista que realizamos com um dos maiores expoentes da Psicologia Positiva (PP) na ed. nº2 da revista Make it Positive, do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC), ele nos revelou, como costuma destacar em seus livros e palestras, que esse movimento é mesmo parte importante na equação que nos garante maior felicidade. Falo de Tal Ben-Shahar, ex-professor de Harvard e responsável por transformar a aula de PP na disciplina mais popular da universidade.
Abordando a questão do consumo e do status, “lembre-se de que a felicidade depende principalmente do nosso estado de espírito, não do nosso status ou da nossa conta bancária”, ele diz. Já sobre levar a vida com menos complexidade e afazeres, e fazer coisas que tenham sentido ele resumidamente nos recomenda: “Simplifique!”. E lembra que, em geral, estamos muito ocupados, tentando ‘espremer’ mais e mais atividades em cada vez menos tempo. “Quantidade influencia qualidade, e nós acabamos comprometendo a nossa felicidade ao tentar fazer coisas demais. Saber quando dizer ‘não’ para os outros, muitas vezes, significa dizer ‘sim’ para nós mesmos.” Creio que é um relevante começo para uma lista de metas…
Dando continuidade a esta crônica, gostaria de dizer (e acho que também não o disse outras vezes), que nem toda a lista precisa ser dedicada a questões tão densas. Às vezes, parar de procrastinar em coisas simples e corriqueiras, como na arrumação de armários e gavetas, pode fazer uma enorme diferença no seu ano. E, por fim, se quer que seu ano seja realmente novo, faça tudo diferente do que vem tentando e que não tem lhe garantido resultados. Mantenha a fé, no que acreditar e em você, e siga em frente.