Meu filho come mal em casa e na escola. O que fazer?

por Jocelem Salgado

“Não tentem mudar os hábitos de seus adolescentes discordando dos “prazeres” que a mídia oferece. Temos que mostrar alternativas paralelas, ensinando que alimentos como frutas, verduras e legumes podem ser consumidos de forma saborosa e criativa”

Continua após publicidade

Todos os pais desejam que seus filhos cresçam fortes e saudáveis, resistentes a doenças. Neste caso, o segredo é um só: boa alimentação. Isso, contudo, não significa comer bastante, mas ter uma dieta equilibrada e variada, e, para isso, é necessário criar bons hábitos alimentares, algo que deve começar desde a tenra infância, assim que o bebê é desmamado.

Na adolescência, o estirão ou o rápido desenvolvimento físico faz com que os jovens necessitem de maior quantidade de calorias, ao mesmo tempo que, especialmente as meninas, se defrontam com as pressões sociais que cobram um corpo mais magro. É a fase em que a aceitação pelo grupo e a forma como enxergam seus próprios corpos, passam a ter grande importância, muitas vezes deixando-os angustiados.

Todas essas alterações e acontecimentos estão relacionados diretamente à alimentação. Muitos estudos e relatos demonstram que essa é a fase das piores práticas alimentares, com os rapazes pulando refeições, comendo fora de hora e dando preferência a alimentos com muito açúcar ou a sanduíches com excesso de calorias. Muitas meninas, por sua vez, tentarão comer o mínimo possível, correndo o risco de cair em perturbações graves como a anorexia e a bulimia.

É o período em que passam a comer fora de casa com mais frequência, afastando-se dos cardápios alimentares dos pais, para adotarem as práticas do grupo. Por conta dos compromissos escolares ou de trabalho, e por conta dos encontros com a turma, o adolescente se sente senhor das suas escolhas. Muitas vezes, ele se aproveita dessa “liberdade” para fazer exatamente o contrário do que os pais insistiram para que fizesse. É uma espécie de “rebeldia” que ocorre em todo o universo do adolescente, e que não poderia deixar de acontecer com a alimentação.

Continua após publicidade

Por conta desse histórico, e dos fatos que todos nós conhecemos, o adolescente mantém a fama de cultivar os piores hábitos alimentares. Nesta fase, o grupo tem muita importância. Se os amigos na hora do almoço se juntam no “dogão” da esquina (carrocinha de cachorro quente), o adolescente vai se sentir melhor comendo ao lado deles. Lambuzar a salsicha com maionese, catchup e maionese, faz parte do cardápio. E não será proibindo as carrocinhas de cachorro quente nas proximidades das escolas -ou dos locais de trabalho -, que vamos alterar as práticas alimentares de nossos adolescentes.

Se o “dogão” não estiver lá, eles vão encontrar na cantina da escola, ou nas gôndolas do supermercado, o salgadinho ou o lanche que querem devorar. Eles não precisam nem procurar muito, basta lembrar as propagandas que viram na TV na noite anterior, oferecendo todas as delícias nas prateleiras do supermercado mais próximo.

Foi graças à “fome” e à “impaciência” dos adolescentes, que trocam pratos nas mesas por sanduíches em pé, que as redes de fast-food fizeram e fazem tanto sucesso na grande maioria dos países. Nada contra esses fast-food se eles obedecessem recomendações dietéticas mínimas. Na grande maioria das vezes, eles oferecem pratos e sanduíches com excesso de calorias, gorduras saturadas e sódio, sem o suficiente teor de outros nutrientes importantes para a saúde de nossos filhos.

Continua após publicidade

Por conta dessa realidade, minha sugestão é que pais e educadores não tentem mudar os hábitos de seus adolescentes discordando dos “prazeres” que a mídia oferece. Temos que mostrar alternativas paralelas, ensinando que alimentos como frutas, verduras e legumes podem ser consumidos de forma saborosa e criativa. Essa relação será menos conflituosa em lares em que as crianças se acostumaram a uma alimentação variada desde a infância.

Mas, mesmo entre os adolescentes que nunca apreciaram salada ou legumes, a importância de uma boa alimentação pode ser cultivada com uma relação paciente entre pais e filhos. O ideal é incentivá-los a tomarem um café da manhã saudável e terem um almoço completo com proteínas, carboidratos, legumes, verduras e frutas. Assim, o jantar poderá se limitar a um lanche ou a um prato leve.

Com uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos adequados, uma criança bem nutrida pode passar pela adolescência sem maiores problemas, chegando à idade adulta sem apresentar doenças como anemia, arteriosclerose e obesidade (estimativas médicas mostram que oito de cada dez crianças obesas se tornam adultos obesos).

Pesquisas mostram que quando a necessidade nutricional do adolescente não é alcançada, a altura esperada para aquele jovem não é atingida. Uma pessoa bem alimentada e nutrida dificilmente adoece, porque seu organismo tem defesas próprias e naturais contra as doenças.

Uma pessoa mal nutrida, com alimentação pouco variada, pode se tornar fraca, irritadiça, desanimada, sem vontade de trabalhar, andar, pensar e realizar atividades que dependam do esforço muscular e cerebral. Se quisermos que nossos filhos sejam adultos saudáveis, temos que cuidar de seus hábitos alimentares desde a infância e a adolescência.

Para finalizar quero dizer que impor disciplina alimentar aos filhos é uma missão nada fácil aos pais, que deve ser encarada como um desafio. No entanto, há alguns truques que podem auxiliá-los nessa tarefa. Um deles é definir um cardápio balanceado e variado para todas as refeições. Se o adolescente se recusar a comer, deve ficar claro que não haverá dinheiro para lanches e guloseimas e que só haverá alimentação na próxima refeição, sem nada para beliscar nesse intervalo.

É natural que a criança tenha preferências por determinados alimentos, mas deve-se ter em mente que a cozinha de casa não é um restaurante destinado a atender a todos os gostos. A criança pode ter opções, mas quem tem de montar o cardápio são os pais.

Outra dica é dar bons exemplos, pois não adianta beber refrigerante e pretender que os filhos bebam suco de frutas. Da mesma forma, os pais devem consumir frutas, verduras e legumes com satisfação, para que os filhos sigam o modelo. Cabe aos pais combinar informação, carinho e determinação firme. O importante é que as crianças adotem uma alimentação variada e saborosa, que trará inúmeros benefícios à sua saúde e, consequentemente, às suas vidas.

Mais informações: www.jocelemsalgado.com.br