por Danilo Baltieri
"Descobri que meu filho de 19 anos está usando maconha. Ao mexer na sua mochila encontrei duas pequenas porções da droga e hoje senti o cheiro vindo do seu quarto. Não sei como abordá-lo sobre o assunto, pois receio que a reação seja de revolta, pois trata-se de um rapaz rebelde que sempre 'tem' razão em tudo"
Resposta: Falar sobre álcool e outras drogas com os filhos deve ser parte do processo educacional.
Vivemos em um universo onde o consumo de substâncias ilícitas, como a maconha e a cocaína tem aumentado, considerando a faixa etária superior a 14 anos. Por exemplo, o consumo de cocaína (taxas de consumo ao longo da vida – pelo menos uma vez) aumentou de 0.5% em 2001 para 0.7% em 2005.
Em relação à maconha, o consumo mais do que duplicou nesse período na mesma faixa etária. Dessa forma, não é possível aos pais evitar falar e conversar com os filhos a respeito de álcool e drogas.
Existem alguns importantes textos publicados e disponíveis online para auxiliar pais e educadores nessa tarefa. Aqui, aponto algumas observações que podem auxiliar pais, educadores e outras pessoas a conversar com os jovens sobre essa realidade nada tranquilizadora.
Procedimentos para conversar com o seu filho sobre o consumo de drogas
Não tenha medo de conversar com o seu filho sobre o consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas, de forma clara e franca. Sua opinião deve sempre ter valor e ser firme, mesmo que ele mostre algum tipo de desdém por ela.
Os argumentos que seu filho é "rebelde" ou "sempre sabe tudo" não justificam uma falta de intervenção sua sobre o comportamento dele. Você sempre será a mãe dele, sua opinião deve ser ouvida, e seu posicionamento deve ser respeitado. Aliás, ser "rebelde" e acreditar "saber tudo" são aspectos muito comuns entre adolescentes. Algumas vezes, servem para abafar sentimentos de insegurança e inadequação também presentes nesse período da vida.
Sempre durante a conversa, certifique-se de que tanto você quanto o seu filho estão sendo ouvidos e têm a chance de externar opiniões. Converse com ele sobre as consequências do consumo de bebidas e outras substâncias na escola, no trabalho, enquanto pratica esportes ou desempenha outras atividades.
Mantenha o vínculo com o seu filho, respeitando a liberdade dele para que ele não ache que você está tentando controlá-lo ou reprimi-lo. Quanto mais próximo do seu filho, menos ele cederá às pressões do grupo.
Você deverá ter alguns fatores ao seu favor, tais como: o bom e adequado relacionamento com o seu filho e confiáveis informações sobre o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas nessa faixa etária. O conhecimento de boa qualidade associado com a adequada vinculação com o seu filho contribuirão para um melhor desenlace do fato.
É importante saber como está o desempenho do seu filho: na escola, trabalho e demais atividades. Além disso, quais estão sendo os modelos seguidos pelo jovem, quais estão sendo as suas principais dificuldades (relacionamentos, amigos, desempenhos), como estão sendo desenvolvidas as suas expectativas, como o seu pensamento/ideia está sendo organizado.
Existem fatores protetores e de risco para o abuso de substâncias psicoativas
Dentre os fatores protetores estão: o estreito e adequado vínculo com os pais, os próprios hábitos saudáveis dos genitores, o bom desempenho acadêmico do jovem bem como habilidades acadêmicas e sociais adequadas.
Dentre os fatores de risco estão: falta de suporte familiar, pobre desempenho acadêmico e falta de expectativas realistas, precoce comportamento impulsivo/agressivo, facilidade no acesso às drogas na própria comunidade ou entre os pares.
Em qualquer idade, tente dar todo o apoio possível ao seu filho. No entanto, é essencial estabelecer limites quando necessário. Promova atividades em família como, por exemplo, almoçar e jantar juntos, sair, praticar esportes, etc. Qualquer forma de lazer pode aproximar seu filho de você e aprofundar o seu conhecimento quanto aos interesses dele.
Também, muitas vezes, os pais são o "modelo" dos filhos. Logo, suas palavras e conselhos devem estar condizentes com a sua conduta e atitudes.
Infelizmente, mesmo sabendo dos possíveis efeitos nocivos do álcool e de outras drogas como a maconha, alguns pais acham melhor permitir o consumo ou mesmo "fazer vista grossa" sobre ele. Qualquer que seja a sua decisão, o abuso de álcool e de outras drogas não deve ser tolerado em qualquer circunstância. Isso se aplica a você e ao seu filho.
Nunca é cedo demais para conversar com seus filhos sobre as drogas em geral. Crianças de 6 anos já conhecem alguns comportamentos socialmente aceitos quando o assunto é o consumo de substâncias.
Portanto, seja firme.
Dicas para estar mais próximo do seu filho:
a) Saiba sempre onde está o seu filho, com quem está e como está se comportando;
b) Expresse interesse verdadeiro pelos assuntos que ele considera importante;
c) Dê apoio, mas sempre supervisionando. É possível supervisionar sem parecer ser controlador;
d) Mantenha a autoridade com sensatez;
e) Ouça os argumentos dos filhos e suas dúvidas. Procure entender como ele pensa e enxerga o mundo. Assim, você descobrirá os melhores argumentos para revelar seu ponto de vista.
Para mais informações, ofereço esta interessante referência:
Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). Como falar sobre uso de álcool com seus filhos. Disponível em: http://www.cisa.org.br/materiais