por Renato Miranda
Este texto é dedicado àqueles pais que bem intencionados estimulam seus filhos a praticarem esporte desde cedo.
Acontece que a prática esportiva está associada diretamente à competição. Competir é exercitar as potencialidades físicas e psicológicas em comparação consigo mesmo e com os outros. Naturalmente isso acarreta expectativas, tensões e emoções variadas. Sempre é bom lembrar que sem essas características o esporte perde força e graça.
No entanto, tensões e emoções exacerbadas distanciam os jovens do esporte, pois, geram desgastes desnecessários e aquilo que poderia ser lúdico (espontâneo, satisfatório e eficaz) se torna aborrecedor.
Portanto, sem cobranças, vamos considerar que a competição esportiva para crianças (principalmente a partir dos doze anos) pode contribuir para a formação como pessoa e para o futuro atleta, que são aqueles que “levam jeito” para desafios e enfrentamentos.
Os pais então precisam compreender que a alegria da vitória e do sucesso por mais singelo que seja, por exemplo; uma disputa de um torneio local estará sempre ao lado de um possível fracasso (veja aqui).
Para uma exemplificação objetiva, vamos imaginar que uma criança comece a praticar judô por volta dos nove anos de idade. Possivelmente após alguns meses, ela já estará participando de festivais, que têm um caráter mais ameno que as competições tradicionais e não há diferenciação de resultados, no fim todos são premiados.
Logos depois, por volta dos 11 e 12 anos, os campeonatos já começam a fazer parte da rotina da prática do judô. Pois bem, ao lado da vitória e todos os sentimentos que a mesma pode gerar o (a) iniciante começa a vivenciar suas primeiras frustrações. Em consequência, os pais podem esperar entre outros acontecimentos:
– Choro fortemente emocional ainda no shiaijo (área de luta);
– Reações agressivas (como não aceitar consolo de ninguém);
– Não querer voltar para realizar outra luta;
– Sofrer de maneira intensa a derrota; sentir-se desprezado e outros.
Nesse momento, muitos pais ficam “congelados” sem saber o que fazer. E muitos ficam tão abalados pela tristeza e angústia do filho que pensam concretamente em tirá-lo definitivamente do esporte.
É nessa hora que nós devemos compreender que a competição esportiva é uma atividade que oferece aprendizado através de intensidade de ações (treinos e exigência constantes) e fortes emoções que dificilmente são vivenciadas de outras maneiras.
Quando um (a) pequeno (a) atleta ainda em fase inicial de experimentações é instado a participar de campeonatos cuja forma básica se reside na comparação com o outro, novas experiências emocionais exigirão um aprendizado longo e paciente.
Portanto, nosso exemplo do judô é uma rica oportunidade de pensarmos como o esporte bem orientado pode ser útil para que a pessoa aprenda desde cedo que perder e ganhar estão juntos, e com isso, alegria e frustração precisam de sabedoria para ser absorvidos e isso leva tempo para se aprender.
Um garoto ou uma garota que sofre após uma derrota no judô, e sai em lágrimas da área de luta deve ser amparado (a) pelo professor (sensei) e pelos pais com carinho e paciência, e na maioria das vezes o silêncio é mais valioso do que clichês do tipo: ”valeu!”
É preciso esperar a força da angústia diminuir; esperar um momento de calma para agir com tranquilidade e mostrar que atletas são feitos para perder e ganhar, chorar e sorrir. Não há nenhum drama em tese, acontece que na prática essa é uma compreensão que leva tempo e é difícil aprender.
Deixar as crianças aprenderem competir é antes de tudo oferecer atividades de treino e competições com profissionalismo e participação dos pais com generosidade e compreensão. Ou seja, treinamentos de alta qualidade com quem tem experiência, competições compatíveis com as habilidades desenvolvidas e pais com comportamentos moderados a fim de não excitar e consequentemente pressionar além do que o próprio esporte oferece como tensão e desafio.
Se um atleta olímpico chora após uma derrota por que a frustração invade a sua mente, imaginemos um (a) jovem que está dando o primeiro passo.
O importante é que com a prática e dedicação, de uma maneira ou de outra, haverá uma oportunidade imensa dos atletas amadurecerem e se tornarem pessoas melhores. Melhores porque aprenderão que na vida uns dias estarão por “cima”, outras vezes por “baixo” e que dedicação, humildade, reconhecimento e disciplina são os temperos que fazem reduzir os impactos das frustrações e preparar para se obter mais vitórias.
Portanto, diante de uma derrota nada melhor do que providenciar a próxima disputa. Para encerrar deixo o judô de lado e cito o tenista Roger Federer, que após perder a final dos jogos olímpicos de Londres de maneira acachapante para Andy Murray, foi perguntado quanto tempo levaria para esquecer aquele jogo. Federer respondeu: “cinco minutos”. Isso ele aprendeu ao longo da vida!