por Danilo Baltieri
"Estou muito preocupada, pois meu filho de 21 anos está fumando maconha. Já conversamos sobre isso, ele quis me tranquilizar, dizendo que fuma de vez em quando e que não é um viciado. Ele disse que tem consciência do perigo do vício e que sabe controlar. Ele disse que está sendo bom para ajudá-lo a controlar sua fobia social diagnosticada pela psicóloga. Falei com a psicóloga dele e ela me disse para confiar no meu filho, porque ele não vai abusar disso. Porém, estou desesperada e preciso de ajuda."
Resposta: Usuários de substâncias comumente lançam mão de vários e diferentes argumentos para defender o consumo das drogas e convencer terceiros de que esse uso é vantajoso para eles sob algum aspecto.
Também, a quantidade de colegas/amigos usuários de maconha, bem como as atitudes positivas dos amigos diante do consumo dessa substância são importantes fatores relacionados tanto com a experimentação da maconha quanto com a manutenção desse uso.
Na verdade, a pressão do grupo é um dos mais importantes fatores associados com a experimentação de substâncias e manutenção do consumo. Alguns estudos têm apontado que a influência dos pares (amigos) sobre o consumo entre adolescentes é muito superior do que a influência (contra o consumo) dos pais dos usuários.
Os tratamentos estruturados dedicados aos indivíduos com problemas relacionados ao consumo de substâncias psicoativas, como a maconha, preconizam, dentre várias recomendações, a mudança do estilo de vida, a modificação do grupo social, o reconhecimento do problema, a aderência às recomendações do profissional adequadamente especializado.
Nas situações onde problemas com o consumo de maconha são detectados e reconhecidos pelo próprio usuário, o tratamento deve ser instalado e a utilização da substância deve ser monitorizada de forma adequada por profissional especializado. O problema muitas vezes reside no próprio reconhecimento do problema.
Existem fatores protetores e de risco para o abuso de substâncias psicoativas.
Dentre os fatores protetores estão:
– o estreito e adequado vínculo com os familiares;
– os próprios hábitos saudáveis dos familiares;
– o bom desempenho acadêmico, profissional e social do indivíduo.
Dentre os fatores de risco estão:
– falta de suporte familiar;
– pobre desempenho acadêmico ou profissional;
– falta de expectativas realistas;
– precoce comportamento impulsivo;
– facilidade no acesso às drogas na própria comunidade ou entre os pares.
Indivíduos portadores de transtornos ansiosos, como fobia social, são, de fato, particularmente vulneráveis ao uso e abuso de maconha. Estudos têm mostrado que portadores de transtornos ansiosos têm um risco sete vezes maior de experimentar maconha do que aqueles não portadores.
Existem explicações para essa ligação entre ansiedade e consumo de maconha. Uma delas é a própria expectativa que o usuário tem quanto à possibilidade da maconha reduzir sua ansiedade; entretanto, outros usuários percebem que o consumo dessa substância os deixaria mais “lentos”, e isso justificaria para si mesmo e para terceiros as suas prévias e possíveis dificuldades no desempenho acadêmico, profissional e social (self-handicapping theory).
Considerando a última hipótese relacional, é possível aventar a possibilidade de que indivíduos portadores de transtornos ansiosos tenham uma autoavaliação negativa quanto ao seu próprio desempenho e façam uso da droga para reduzir essa sensação e atribuir quaisquer falhas sociais ao próprio uso.
Desta feita, uma avaliação pormenorizada durante o tratamento deve ser realizada pelo profissional que faz atendimento a esses pacientes.
Seguramente, a maconha não tratará a ansiedade; ao invés disso, a maconha poderá provocar alguns prejuízos cognitivos que poderão piorar futuramente a autoavaliação que o usuário ansioso constantemente desempenha.
Ansiedade e consumo de maconha: justificativas dadas pelo usuário
Os itens abaixo têm sido frequentemente preenchidos por indivíduos ansiosos que fazem uso de maconha, como uma forma de dimensionar o relacionamento entre ambos os problemas e identificar as estratégias de manejo clínico:
– Eu uso maconha para esquecer minhas preocupações e problemas;
– Eu uso maconha, porque me ajuda quando me sinto nervoso ou deprimido;
– O uso da maconha melhora meu humor;
– Eu me sinto mais confiante e seguro, quando uso maconha;
– Quando eu uso maconha, não me preocupo com as avaliações dos outros sobre mim e meu desempenho.
Desta forma, o relacionamento entre ambos os problemas (ansiedade – fobia social e uso – abuso de maconha) é mais complexo do que muitas pessoas correntemente supõem. A avaliação detalhada da personalidade do usuário, bem como da sua estrutura cognitiva, certamente será ferramenta essencial no manejo clínico do problema.
Abaixo, forneço interessante referência para leitura.
Buckner JD, Schmidt NB. Social anxiety disorder and marijuana use problems: the mediating role of marijuana effect expectancies. Depression and anxiety. 2009;26(9):864-70.