por equipe de psicólogos do NPPI
A preocupação com o uso exagerado do computador por crianças parece ter aumentado ao longo dos últimos anos.
Com equipamentos mais baratos e o acesso facilitado nas pelas Lans Houses, as crianças, e principalmente os adolescentes, têm aumentado suas horas desse uso, algumas vezes acarretando perdas significativas em seu desenvolvimento. Dependendo do caso, algumas dessas perdas – como anos na escola ou falta de traquejo social – podem ser trabalhosas de serem resgatadas.
Esse novo hábito das nossas crianças e jovens vem preocupando as famílias, gerando situações delicadas e algumas vezes até angustiantes, pelo fato dos adultos se sentirem impotentes frente a esse novo aspecto da educação de seus filhos. Realmente ter filhos, sobrinhos ou jovens usuários de internet por perto, ou sob nossa direção, nos tempos de hoje, tem parecido ser uma tarefa complicada. Embora a tecnologia tenha vindo para facilitar nossas vidas, ela acabou trazendo com o uso que fazemos dela, muitas mudanças e desafios.
Educar filhos em uma época de tantas transformações acaba exigindo de nós um cuidado maior e um olhar mais atento: tanto para o uso que eles fazem da tecnologia, como para o uso que nós, adultos – como exemplos que somos – fazemos dessas mesmas ferramentas.
Muitas vezes, como pais, vivemos envolvidos com nosso trabalho e acabamos não percebendo alguns excessos de nossos filhos. Até pouco tempo, a TV era considerada uma vilã, pelo fato das crianças ficarem muito tempo à sua frente. Depois, isso aconteceu com os videogames. Agora os vilões da vez parecem ser o computador e os smartphones, especialmente por conta dos possíveis, frequentes e diários acessos a Internet. Por ser uma ferramenta contemporânea muito difundida, e pela rapidez com que nos envolvemos com ela, muitas vezes nem conseguimos nos lembrar de como era a nossa vida sem o celular ou os computadores sempre por perto.
Mas, dentro desse panorama, a possibilidade de um uso não saudável acaba sendo frequente, muitas vezes até por inocência no uso de tais ferramentas. E, no caso das crianças e adolescentes, a tarefa de educá-las também virtualmente acaba recaindo sobre os pais ou educadores presentes.
Apesar das crianças adolescerem e crescerem, isso não retira dos pais, ou de quem fica responsável pela casa diariamente, o lugar de autoridade. Para um desenvolvimento saudável, em um mundo tão repleto de mudanças, todos precisam trabalhar juntos.
A adolescência é uma fase marcada por confusões, ainda que passageiras. Os adolescentes experimentam ser adultos com frequência, e vivem querendo se impor, querendo tomar o controle da situação. Todo crescimento, nas diversas fases da nossa vida, acontece mais ou menos desse jeitão mesmo, são crises de ‘dentro de nós’: ora queremos isso, ora queremos aquilo, e é assim que vamos nos construindo, reafirmando-nos e ganhando o nosso espaço no mundo, com os amigos, em casa, com a família, na escola.
Só que algumas vezes os adolescentes não conseguem assimilar sozinhos todas as ocorrências cotidianas, de uma forma mais natural, sem que isso os atrapalhe. Podem vir a criar zonas de conforto, onde acreditam estar conseguindo fazer todas as coisas que querem. E parece ser nesse momento que a internet e seus prazeres instantâneos têm terreno fértil. Mas não se esqueçam que crianças e adolescentes precisam de limites, pois não sabem muito bem até onde podem ir e estão sempre testando esses limites, tanto na internet quanto fora dela. Cabe então, aos pais, colocar esses parâmetros, para que eles possam ir formando seus próprios conceitos de comportamentos morais e éticos.
Adolescente não muda hábito de modo imediato
Muitos pais tomam diversas atitudes, visando levar seus filhos a mudar seus comportamentos quando julgam que estão sendo prejudiciais. Retiram o computador ou tentam colocar regras mais rígidas para seu uso, na tentativa de que eles mudem seus hábitos. Mas, muitas vezes, esse parece um caminho inútil para resolver o problema. Isso acontece mesmo, porque quando falamos de comportamentos e de mudanças de hábitos de adolescentes, a resolução não é imediata, mas sim, parte de um processo. É preciso persistir naqueles limites que vocês, como pais, educadores ou cuidadores, acreditam ser importantes, mesmo que os “resultados” não apareçam de imediato.
Será bom também que esses limites quando acordados com as crianças e adolescentes não percam seu valor: (“isso não pode, mas se ele insistir acaba podendo”). Por isso, precisa(m) sentar com ele(a), definir esses limites – de preferência usando uma linguagem que ele entenda – e, principalmente, persistir neles. É bom também que se defina nesse momento o que ocorrerá, caso, quando e se, essas regras forem quebradas. Tal como acontece na vida com os adultos: se quebramos alguma regra, acabamos sofrendo algum tipo de perda ou restrição.
Adequar os comportamentos usando bom senso, pode ser a maneira mais saudável de lidar com tantas mudanças e diferenças. Retirar o uso da tecnologia tem parecido uma tarefa muito punitiva, para ambos, pais e crianças, e pouco efetiva do ponto de vista educacional. Porém, quando chegamos ao extremo de agressividade e depressão, muitas vezes retirá-los por completo da tecnologia pode ajudá-los a perceber alguns limites. Algumas vezes isso acaba se fazendo necessário para que possam, juntos, restabelecer alguns combinados e regras, visando um uso mais saudável das novas tecnologias.
Essas providências poderão criar no adolescente um vazio, e a necessidade de buscar outras e novas formas de satisfação. É difícil conseguir conscientizar um adolescente ou uma criança sem que ele sinta “na pele” a perda. Educar é frustrar, não há como passar por isso sem que exista certa dose de sofrimento.
Crianças e adolescentes naturalmente precisam de determinadas “regras” que servirão como estímulo ao seu crescimento saudável. Comer, dormir, se exercitar e estudar seriam, a priori, o mínimo de atividades necessárias a serem cumpridas no decorrer de seu crescimento. Quanto menor a criança, mais necessidade ela terá de ter suprida, controlada e ensinada por outrem sobre a importância cotidiana dessas atividades. Assim sendo, deixar de cumprir qualquer uma delas, pode acarretar significantes perdas em seus desenvolvimentos integrais.
Pais de adolescentes não conseguem controlar tudo o que seus filhos fazem, como quando eram menores. Talvez não consigamos mais escolher seus ídolos, seus amigos, qual carreira vai seguir, se vai ter muitos ou poucos amigos, etc. Mas independente de sua maior autonomia conquistada e sadia, ele tem regras a cumprir, tanto em casa, como na escola, como na sociedade e independente de quem ele queira ser, terá que aceitar e respeitar essas regras. As regras da sociedade e da escola não são vocês quem definem, mas as da casa, sim!
Não suportar coisas simples como uma fila de banco ou a espera da comida no restaurante, sem um “brinquedinho tecnológico” nas mãos – caso seja uma situação que traga muita angústia – também pode ser um indício de que andam exagerando na dose do tecnológico, para de certa forma escapar do que é chato e enfadonho. Entretanto, esse comportamento também pode ser natural e saudável, contanto que se aprenda que nem tudo é só diversão, e que às vezes manter a mente quieta também pode ser prazeroso e saudável.
Sabemos que é sofrido para os pais impor algum tipo de frustração e perda a seus filhos, mas esse caminho, dependendo do momento, pode ser fundamental para que eles possam perceber e aprender a lidar com suas dificuldades. Tentar conversar com eles sempre sobre suas angústias e necessidades, negociar limites, que depois de negociados e acordados, devem ser seguidos, traz à consciência o fato de que os desafios – mesmo que muitos difíceis – podem ser superados!
A dor que seu filho talvez sinta hoje, ao se ver limitado pelas regras, é a base formadora dos recursos que poderão ajudá-lo amanhã. Se ele está precisando tanto dessas ferramentas tecnológicas, e com tanta frequência, vale observar se existe algum sofrimento muito grande, na fase que vive, com o qual tem tido dificuldades de se sair bem sozinho. Sentir e perceber essas dificuldades é fundamental para poder sair do lugar onde comumente adolescentes estacionam: “está tudo bem comigo, o problema está na minha mãe e no meu pai “. Provavelmente isso será sofrido para ele, mas lembrem-se, crescer é sofrido mesmo!