por Regina Wielenska
Uma menina de cinco anos deixou intrigados seus colegas de classe e a professora ao insistir em dizer que seria dama de honra do casamento da irmã com o irmão. O entendimento do fato, absolutamente verdadeiro e dentro da lei, chegou apenas ao final da tarde, com as devidas explicações da mãe. Esta era viúva com um filho, e se casou em segundas núpcias com um homem na mesma condição, com a única diferença de que ele tivera uma filha com a falecida esposa. No segundo casamento, a vida lhes sorriu de novo e conceberam a garota, que seria a dama de honra da união entre seu meio-irmão e a meio-irmã. Ao longo de mais de uma década de convívio, uma jovem adulta descobriu o amor recíproco pelo filho da madrasta.
Vale dizer que hoje em dia o papel parental deixou de ser exercido apenas pelos pais biológicos, há quem encontre no novo cônjuge dos pais uma fonte de inspiração, amor e cultivo de nobres e profundos valores. Enredos do tipo da Branca de Neve ou da Gata Borralheira podem se tornar coisa de ficção, o que depende do empenho e maturidade de quem se casa novamente.
Outro caso que gostaria de relatar é o da mãe que conta feliz uma novidade às amigas e a todos os conhecidos que encontra pela frente: seu filho e o genro (para quem não sabe, o filho mantém uma relação estável há mais de uma década com um rapaz excelente, estimado por todos) vão finalmente conseguir adotar, pelas vias da lei, um casal de irmãos, crianças com uma triste história de abandono, que finalmente poderão ter uma família que lhes dê amor e acolhimento.
Terceira e última história
Mariana e José tiveram um filho gerado no útero da irmã de Mariana. Foi assim que contornaram a sequela de um problema grave de saúde, que afetou a capacidade reprodutiva de Mariana. José e a esposa querem apresentar o bebê à Cecília, filha do primeiro casamento dele. Cecília vive com a mãe e o padrasto em outra cidade, numa casa enorme, com quarto de hóspedes, o qual abrigará por alguns dias o bebê e seus orgulhosos pais. A mãe de Cecília fez uma reserva para dois num ótimo restaurante francês na cidade, decidiu que esse será um dos presentes ao casal, considerando que desde que o bebê chegou ao mundo, estão sem tempo para si. Ela, o marido e a filha não se importam de cuidar do bebê por um par de horas enquanto o ex-marido e a atual esposa jantam em paz numa noite especial.
Sim, o conceito de família na modernidade se transformou muito e, numa velocidade cada vez maior, isso continuará a acontecer. Ninguém pode se mostrar insensível a esse fato. É fundamental descobrirmos formas de produzir mais felicidade e menos dor com base nessas relações flexíveis e mutantes; espera-se delas que estejam fundamentadas no respeito recíproco, na tolerância e no amor. Isso requer uma revisão das normas de convívio social, e o confronto com sentimentos mesquinhos e destrutivos. Mágoas, ressentimentos, invejas, disputas inúteis e outras formas corrosivas de obstrução da alegria pessoal e alheia competem com o bem viver e, infelizmente, acabam por ganhar a parada. Desse modo, apenas quando nos despojamos dessa carga ruim, abriremos caminho para a família contemporânea cumprir sua vocação para o amor responsável.
Vivemos cada vez mais, afirmam os estudos demográficos. Assim, ganhamos tempo para testemunhar os mais variados percursos de vida, e até para sermos protagonistas de histórias à margem do senso comum. Descrições do tipo “casaram e foram felizes para sempre” nem sempre se mostram verdadeiras. Dependendo da perspectiva, dá para escrever uma versão diferente: “casaram algumas vezes e redescobriram a felicidade”, “sem casar há felicidade”, e outras versões.
Felicidade, uma palavra tão desgastada, não seria um estado de ausência de problemas, mas sim a capacidade de dar a volta por cima e (re)construir relacionamentos significativos, extraindo deles mais amor e promovendo a integração entre as pessoas.
Por hoje é só, e me despeço deixando deixo a todos uma pergunta: você está pronto para a família dos dias de hoje? Lembre-se: ninguém fará isso em seu lugar.