por Danilo Baltieri
Caso 1
"Meu marido bebe uísque todos os dias (de cinco a sete doses). Já não sei mais o que fazer para ajudá-lo. Tratamento no AA nem pensar, pois ele não aceita e não enxerga que é alcóolatra. Já dei o medicamento Revia por um mês, sem ele saber e sem resultado. Preciso ajudá-lo, mesmo sem que ele saiba, pois a bebida esta acabando com ele e comigo dia após dia. Por favor, me ajude. Preciso de um medicamento que seja em pó, sem gosto, para colocar no suco, pois vê-lo assim é muito triste. Eu choro todos os dias por não encontrar uma saída. Ele tem 33 anos, é uma pessoa maravilhosa, mas esse vício o está destruindo. Ajude-me urgentemente estou desesperada."
Caso 2
"Meu marido ficou sete anos sem beber e há três anos, pelo menos uma vez ao ano, tem uma recaída que só cessa quando convulsiona e fica pelo menos 24 horas na UTI. Há um mês, ele voltou a beber muito e há dois dias diminuiu, mas a cada oito ou dez horas, sente aquela vontade imensa e sai para beber. Seu psiquiatra pediu para a noite continuar com um comprimido de diazepam 5 mg, que o ajuda a ficar mais tempo sem a bebida. Mas disse que somente um por dia. Todas as vezes que ele diminuiu a bebida anteriormente, ele convulsionou. Não aguento mais ver tudo isso. O que posso fazer para ajudá-lo quando vem a vontade forte de beber? Me ajude, ele diz que não quer ir para o hospital e nem se internar. Tem algo que possa fazer?"
Resposta: O alcoolismo é uma doença crônica e aqueles que dele padecem constituem uma população altamente heterogênea.
Assim, a individualização da abordagem médica e psicossocial deve sempre acontecer e basear-se em evidências científicas de efetividade.
Como para qualquer quadro de dependência química, o familiar dos pacientes deve também estar inserido em um tratamento especializado, objetivando tanto a melhora da própria qualidade de vida, quanto o desenvolvimento de habilidades cognitivas e afetivas para lidar tanto com o dependente quanto consigo mesmo de forma adequada.
O tratamento farmacológico do alcoolismo é apenas uma das ferramentas que pode (e deve) ser disponibilizada no manejo dessa condição. Contudo, não é recomendável que o tratamento farmacológico ocorra isoladamente, ou seja, que o paciente portador da síndrome de dependência ao álcool receba apenas a medicação e não tenha a oportunidade de receber um tratamento psicossocial associado.
Também, o tratamento farmacológico deve ser adequadamente prescrito por médico especialista na matéria, avaliando as indicações de determinada medicação para cada paciente. Um único modelo de abordagem não funcionará para todos os portadores da síndrome de dependência de álcool. Outrossim, não é recomendável, sob quaisquer aspectos ou pretextos, que o portador de alcoolismo receba quaisquer medicações específicas para esse problema sem o seu conhecimento e consentimento. Todas as medicações têm as suas indicações e contraindicações, e isso deve ser avaliado por médico especialista.
Como tenho reiteradamente escrito aqui no Vya Estelar, o tratamento é uma via de mão dupla, isto é, o profissional da saúde que trata e o paciente que recebe o tratamento devem colaborar intensivamente com o sucesso terapêutico. Além disso, os familiares devem estar inseridos no tratamento.
Os portadores da Síndrome de Dependência ao Álcool podem manifestar várias complicações físicas e psiquiátricas advindas do padrão recorrente e intenso do consumo de bebidas alcoólicas.
Praticamente, todos os tecidos do corpo humano podem ser afetados negativamente pelo consumo de álcool. Um dos problemas mais comumente vistos entre dependentes dessa substância é a manifestação da síndrome de abstinência complicada com convulsões. O alcoolista, quando cessa ou mesmo reduz o consumo de bebidas, pode manifestar sintomas como tremores em membros superiores, hipertensão, taquicardia, ansiedade, inquietação psicomotora, alucinações visuais, confusão mental, convulsões, dentre muitas outras. São complicações graves e potencialmente ameaçadoras para a vida.
Em situações onde o paciente apresente convulsões, o mesmo deve ser rigorosamente avaliado e investigado clinicamente. Embora crises convulsivas possam ocorrer devido ao alcoolismo (especialmente durante a síndrome de abstinência), outras causas deverão ser investigadas detalhadamente.
Quando internar?
Uma das formas de tratamento de portadores da síndrome de dependência de álcool é a internação em clínicas idôneas e altamente especializadas no tema. A internação em geral ocorre quando o portador do problema não está conseguindo manter-se abstinente em tratamento ambulatorial e mesmo quando o paciente apresenta complicações clínicas e psiquiátricas que o colocam em risco.
Os familiares podem e devem procurar tratamento, mesmo que, a princípio, o portador da síndrome não deseje fazê-lo. De fato, o consumo inadequado de álcool e de outras drogas afeta não apenas aqueles que fazem uso dessas substâncias, mas também todos aqueles que cercam o usuário. Existe corpo significativo de evidência científica demonstrando a importância da inserção dos membros familiares em tratamento específico.
Dentre os objetivos de uma abordagem terapêutica familiar, podemos citar:
– Aquisição de habilidades cognitivas e afetivas;
– Melhora da capacidade de interação social;
– Desenvolvimento de comportamentos alternativos para lidar com o problema atual;
– Desenvolvimento de outros papeis, que não o de “familiar de dependente”;
– Análise dos comportamentos negativos e positivos que influenciam a estabilidade familiar e a resposta do portador da doença;
– Modificação dos comportamentos negativos e reforço dos positivos;
– Reforço do senso de respeito próprio.
Abaixo, forneço interessante referência para leitura:
Copello, A. G., Velleman, R. D., & Templeton, L. J. (2005). Family interventions in the treatment of alcohol and drug problems. Drug Alcohol Rev, 24(4), 369-385.