Meu marido me faz cobranças na minha vida profissional. O que fazer?

Por Anette Lewin

Depoimento de uma leitora:   

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"Estou superangustiada, meu marido é Mestre em Administração, é servidor público, passou recentemente num concurso Estadual e Federal, mas não foi chamado ainda. Só que ele deseja que eu passe de qualquer jeito num concurso de preferência Federal. Sou Servidora Pública Municipal. Ele chegou até a dizer que abriu mão de tentar o Doutorado para casar-se comigo, e não me vê se esforçando para passar num concurso melhor. E mais, disse que estamos caminhando de maneira oposta e que será ruim para o futuro. Ele valoriza demais as pessoas altamente inteligentes e que têm bom emprego. Vejo isso sadio, mas, também, ameaçador. Porém, sinto-me como se ele quisesse dizer que o nosso casamento não dará certo, caso eu não esteja num emprego melhor. Tudo isso me causa um bloqueio, não tenho motivação e estou tão travada e decepcionada, que quando ele fica falando essas coisas, não consigo argumentar nada e fico apenas ouvindo. Isso me doí muito, e acho que ele esperava mais de mim. Às vezes nem nos falamos antes de dormir, pois, ele fica chateado e eu com uma dor tremenda no peito, pensando que mais cedo ou mais tarde não estaremos juntos. Não temos filhos justamente por isso, e temos dois anos e quatro meses de casados. E se eu não atingir o que ele almeja? O que faço? Por favor, ajude-me!"

Resposta: Existem vários aspectos a serem avaliados nessa sua história, se não quisermos cair em uma solução simplista como: "a vida é sua, faça o que quiser, ninguém manda em você!".

Primeiramente, é importante entender se a cobrança que ele faz a você não é um reflexo da cobrança que ele faz a si próprio por não ter sido chamado ainda para a vaga a que concorreu.Talvez a decepção com ele mesmo esteja sendo projetada em você para que ele não se sinta tão mal. Assim, evite levar essas cobranças tão a sério, pelo menos até ele ser chamado para assumir seu novo cargo. Depois que isso acontecer, certamente o nível de ansiedade dele diminuirá e vocês poderão conversar com maior objetividade sobre seu futuro profissional.

Em seguida, faça uma avaliação do que você pretende enquanto funcionária pública. Gosta do que faz? Tem realmente vontade de ter um cargo com maiores responsabilidades? Sente-se apta a passar num novo concurso? Pretende ter filhos independentemente do posto que ocupe em seu trabalho? Gosta de estudar? Enfim, é importante que você saiba o que realmente quer fazer de sua vida profissional para poder diacutir com seu marido quando chegar o momento adequado para isso.

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Seu maior medo é que ele se decepcione com você. É claro que isso pode acontecer; afinal, num casamento, à medida que as verdadeiras características do parceiro(a) são reveladas, pode haver algum grau de decepção. Afinal, qualquer começo de relação é lindo. Mas é importante que você se questione se essa sua falta de empenho, criticada por ele, existe de fato. Pergunte-se se você está fazendo algum esforço para que o relacionamento se mantenha equilibrado. Veja que você cita que quando é questionada, "fica apenas quieta, ouvindo". Por quê?

Afinal, se você não consegue se posicionar deve ser por que algum argumento dele a atinge de fato. Pergunte-se novamente: você está fazendo algum esforço para se sentir orgulhosa de si mesma, independentemente do que ele acha? Sim, o primeiro passo para a resolução dessa questão, é você trabalhar sua autoestima para que possa se colocar frente a ele como uma pessoa ciente que está trazendo para o relacionamento um empenho igual ao dele. Não precisa ser, necessariamente, através do emprego, do salário que você traz para casa.Você pode contribuir de outras formas, mas ficar imobilizada esperando que ele a julgue não vai resultar em algo positivo.

Assim, tente entender qual é o ponto de equilíbrio dessa relação é caminhe em direção a ele. Atualmente, os papéis dentro do casamento estão mudando. Os homens não querem ser mais apenas os provedores e acham que ficar em casa cuidando dos filhos é muito mais fácil. É nessa época de transição que você está vivendo. Assim, acostume-se desde já a desenhar um casamento onde ambos façam um pouco de tudo: trabalhar, cuidar da casa, resolver eventuais problemas que vão surgindo, animar o parceiro quando ele está triste, enfim, quando os papéis são alternados existe uma chance menor de ruptura.

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Resumindo: é claro que você não é obrigada a se matar para passar num concurso público se você não quiser. Mas, caso queira continuar casada, é importante que traga contribuições para o seu casamento. E tenha consciência do peso dessas contribuições. Comece a trabalhar esse empenho evitando, na próxima discussão, apenas ficar parada ouvindo. Talvez se esforçar para argumentar de uma forma sensata seja o primeiro passo a ser dado rumo a uma relação mais equilibrada. Experimente.

E, finalmente, faça uma avaliação do que você sente por esse parceiro além do medo de ser abandonada. Vocês compartilham bons momentos? Têm planos em conjunto? Você se sente importante na vida dele? Ele é importante na sua vida? Se ele não acha que você é esforçada o que ele realmente gosta em você? E você nele? Sempre é importante uma reavaliação do casamento depois de um tempo de convívio. Porque os objetivos pessoais mudam, as pessoas mudam, as situações mudam. Se não houver um esforço de ambas as partes para que o casamento acompanhe essas mudanças, a probabilidade do casal se separar é grande. Afinal, a conscientização da dinâmica relacional e a autocrítica dos envolvidos formam o alicerce que sustenta um casamento bem resolvido.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.