por Regina Wielenska
Uma cliente, Célia, me relatou que o marido não a entendia. Por mais de uma vez, quando ela lhe contava sobre alguma dificuldade que enfrentava no trabalho ou noutro contexto, o marido disparava a lhe dar dicas, instruções e até a criticava um pouco, dizendo que estava lidando errado com a situação.
Célia sentia-se pouco validada, lhe parecia que o comportamento do marido sinalizava que, para ele, a esposa era uma paspalha que não sabia como agir nas horas menos favoráveis da vida. Na verdade, Célia tinha várias competências no campo da resolução de problemas, mas quem não tropeça um pouco nos momentos em que os problemas nos pegam desprevenidos?
Discuti com Célia que pela descrição do impasse, parecia provável que, ao fornecer instruções e dicas, o marido sentia que estava sendo continente e protetor, oferecendo uma solução rápida e eficaz.
Para a esposa o problema não era técnico ou prático, mas de outra natureza. Para ela, tratava-se do sofrimento de ter que resolver um ou mais problemas quando tudo, até então, parecia andar bem. Isso a frustrava, a situação imprevista a desestabilizava um tanto. Nesta hora ela queria colo e algumas frases empáticas e otimistas do tipo "Isso é ruim demais. Dá uma baita raiva, né? Tudo andando bem e de repente, catapimba, mais esse caminhão de melancia em cima dos teus ombros. Você não merecia isso. Tenho certeza que no final tudo se resolve, você é muito boa nisso. Será que tem algo que eu possa fazer por você? De massagem nos pés a repassar as soluções juntos?".
Certamente, pode ser essa fala ou tantas outras, desde que ela não seja diminuída ou criticada desnecessariamente. Não se pode esquecer que provavelmente o marido tinha ótimos propósitos, apenas não fora capaz de captar a raiz da queixa, ela queria colo e ele entendeu que era hora de achar soluções concretas.
Esse casal conversou a respeito das diferenças entre eles (o marido disse que nem suportaria expressões de "pena" da esposa se as posições estivessem invertidas na história). Ela topou sinalizar ao marido que queria colo e não soluções, quando esse fosse o caso. Tudo deu certo no final.
Fernando Sabino, falando de seu pai, dizia que nos momentos de apuros ouvia do pai que no final tudo ia dar certo. "Mas certo de que jeito, pai, se tudo está ferrado?", o escritor mineiro replicava. O pai, tranquilo, lhe dizia, "Calma. Ainda não chegou o final, aí tudo vai dar certo". E não é que dava certo mesmo?!