por Danilo Baltieri
"Descobri que minha filha está usando maconha. Ontem passei o dia chorando. Porém, meu esposo surtou: pôs ela para dormir na sala e disse que em casa ela não tem mais nada; que tudo o que ela quiser agora ela vai ter de trabalhar para comprar. Até aí tudo bem. Eu até entendo, mas ele fica dizendo que a culpa é minha e disse para ela que tem nojo, e fica chamando-a de vagabunda"
Resposta: Situações como a descrita acima não são incomuns. A descoberta dos pais sobre o consumo de substâncias feito pelos filhos geralmente é forte ingrediente gerador de tensão e estresse. Sentimentos de culpa, tristeza, raiva, decepção permeiam este momento.
No entanto, é necessário reservar um momento de calma para conversar com sua filha. Ameaças, choros, gritarias de nada ajudarão neste momento, podendo, inclusive, piorar a situação. Enquanto os filhos não encontrarem espaço para falar sobre isso em casa, eles seguramente acharão espaço fora do ambiente familiar para tratar do tema, o que também pode ser catastrófico e pernicioso.
Muitos jovens experimentam maconha na adolescência e isso por si só não significa que eles se tornarão dependentes da droga ou mesmo que usarão outras substâncias. Apesar disso, é importante que os pais estejam bastante próximos dos filhos, conversem abertamente sobre o assunto, estejam certos de que estão sendo ouvidos e de que estão ouvindo, coloquem sua opinião de maneira firme, clara e objetiva.
Pressão dos amigos é forte influência
Um dos fatores mais fortemente relacionados ao uso de maconha por adolescentes é a pressão proveniente de colegas e amigos. Você deve sempre estar ciente sobre quem são os colegas e amigos dos seus filhos, com quem eles se relacionam (inclusive virtualmente), como está o desenvolvimento deles na escola ou no trabalho, se existem outros problemas médicos e psicológicos que favorecem o consumo de substâncias.
Quando os pais não conseguem lidar com a situação, eles devem procurar auxílio profissional para que um melhor desenlace seja alcançado. Não é preciso sentir vergonha ou culpa; infelizmente, o uso de substâncias psicoativas por jovens tem sido bastante frequente e requer habilidades para o seu adequado manejo.
Estratégias para conversar com sua filha:
a) Fale com seu parceiro (esposo). Mesmo se a opinião de ambos for discordante, o casal deve ter um discurso claro e objetivo, que não emita para sua filha qualquer mensagem dúbia. Este é um momento estressante; existe a necessidade de evitar a responsabilização de um ou de outro sobre o consumo de substâncias pela sua filha.
b) Reconheça a importância da dependência química já existente na sua família. Sabe-se que antecedentes familiares de dependência de substâncias colaboram para o rápido desenvolvimento da dependência entre descendentes. Esta informação pode ser útil durante a conversa com sua filha, e não há motivo para vergonha sobre isso.
c) Tenha paciência. Esta conversa com sua filha provavelmente não se encerrará depois da primeira vez. Talvez, possa haver a necessidade da busca por auxílio profissional qualificado. Mas, os pais devem manter canal aberto para falar sobre o tema, sem constrangimentos ou impedimentos.
d) Deve tratar-se de uma conversação e não de uma confrontação. Demonstre preocupação com a sua filha e com sua saúde.
e) Evite qualquer forma de julgamento.
f) Durante as conversas com sua filha, é necessária toda a atenção a ela. Não vá para a geladeira tomar água ou atenda ao telefone neste momento.
g) Não permita que sua filha desvie o assunto para falar sobre outras coisas. Se isso ocorrer, você pode dizer que irá pensar sobre o assunto e conversar melhor depois; mas, no momento, o foco deve ser o seu comportamento de uso de substâncias.
h) Foque no comportamento e não na pessoa. O comportamento de uso de drogas deve mudar. Enfatize que a droga é perniciosa e perigosa e que você está preocupada com a saúde da sua filha.
Não é momento para brigas entre você e seu esposo. É momento de auxiliar sua filha e isso deve ser feito com calma, conhecimento, afeto e paciência.