por Arlete Gavranic
Quem gosta de sexo ou possui uma frequência sexual intensa, não tem necessariamente compulsão sexual. Gostar e até conseguir ter relações sexuais diariamente pode ser uma característica da pessoa. Isso pode ser vivido de forma prazerosa se o parceiro (a) também gostar e tiver disposição para o mesmo ritmo sexual.
Mas quando falamos em compulsão sexual, falamos de um desejo sexual “incontrolável”, no qual a pessoa não consegue se autocontrolar e pensar: ‘Hoje quando chegar em casa vou seduzir minha parceira para transar desse jeito ou naquela posição’, ou ‘Quando sair do trabalho vou procurar aquela amiga, namorada ou garota de programa para fazer sexo com aquela fantasia’.
A pessoa com compulsão sexual apresenta dificuldade em ter um desejo e esperar para realizá-lo em outro momento. Ela passa a pensar compulsivamente em sexo e, com o passar do tempo, passa a ter atitudes cada vez mais compulsivas e imediatistas para realizar esse desejo.
Essa pessoa vive uma grande ansiedade, demonstrada por esses pensamentos, que acabam se transformando em excitação sexual. O compulsivo sexual pode buscar satisfação em qualquer atividade que esteja relacionada a sexo. Isso inclui masturbação, sexo virtual, pornografia e sexo por telefone. O compulsivo sexual nem sempre precisa procurar parceiros, embora isso também aconteça.
No inicio o desejo compulsivo pode até ser satisfeito com a masturbação. Mas se essa pessoa não for tratada com psicoterapia e muitas vezes acompanhamento psiquiátrico e medicação, ela pode vir a ter comportamentos compulsivos que a colocam cada vez mais em risco. Ela pode querer transar em qualquer lugar, seja no trabalho, na rua, na casa de alguém, no shopping… A pessoa busca qualquer um para realizar a satisfação da compulsão, muitas vezes seduzindo ou forçando sexo com amigos (as) parentes, indigentes, correndo o risco de doenças sexualmente transmissíveis e Aids.
É importante entender que o compulsivo não é aquele que premedita, que pensa e por isso ‘trai’ sua parceria, ele age, na maioria das vezes sem planejar, age com muita dificuldade de ter controle da compulsão.
Mas e os (as) parceiros(as) de uma pessoa com compulsão sexual?
Como devem agir?
Como ficam emocionalmente?
O parceiro (a) de um compulsivo sexual fica extremamente fragilizado e temeroso. Muitas vezes o conflito na relação é intenso, pois esse comportamento pode ser interpretado como uma atitude sacana, perversa ou de falta de caráter e é importantíssimo reconhecer que se trata de uma doença.
Segundo o psiquiatra norte-americano Martin Kafka, da Universidade de Harvard, os resultados de uma pesquisa realizada, diz que 95% dos indivíduos que sofrem com o aumento incontrolável da libido são homens. Acredita-se que essa diferença seja tão grande para o sexo masculino por questões de aprendizagem social e questões culturais, pois o homem é estimulado e valorizado desde a adolescência a viver uma sexualidade quantitativa como um sinal de virilidade.
É difícil para alguns homens assumirem que estão doentes. Muitos valorizam esse ímpeto sexual como sinal de masculinidade e só reconhecem a compulsão quando expostos a um grande risco ou depois de ter perdido a companheira, o apoio da família e muitas vezes o emprego.
A compulsão sexual costuma ocorrer na idade adulta, e considera-se que esses comportamentos devam estar ocorrendo por pelo menos seis meses para afirmar esse diagnóstico.
Para o parceiro (a) é muito importante entender que se trata de uma pessoa doente e que precisa ser tratada e acompanhada. As atitudes compulsivas de sexo nesse caso não significam uma traição, mas um ato sem controle.
Sei que é difícil esse entendimento, porque também há um questionamento de que se essa compulsão é doença, a expectativa de que o desejo que se imaginava ter sido despertado no outro por motivo de afeto e tesão, não eram nada além de um impulso incontrolável, e não um desejo de afeto ou de libido na relação.
O parceiro (a) de alguém com compulsão sexual, casado ou não, precisa também receber apoio psicoterapêutico, pois torna-se um codependente, pois ilusoriamente, por exemplo, para algumas mulheres, esse desejo sexual exagerado do parceiro costuma ser usado para alimentar a sua autoestima em sentir-se desejada.
Muitos parceiros de compulsivos parecem ter a ‘síndrome de super-herói', fazendo dessa relação uma proposta desafiadora de testar seu poder de ‘mudar’ o outro, de melhorá-lo ou até de curá-lo.
Na maioria das vezes essa atitude ‘heroica’ pode ser muito prejudicial. Alguém que se autodesafia, carregando uma ‘sensação interna’ de incapacidade, pode exercitar uma profecia autorrealizadora de ‘Eu nunca sou capaz de amar ou de ser amada (o) o suficiente para ter alguém’ e essa atitude é autodestrutiva.
Como tratar?
Para que a compulsão possa ser tratada, o primeiro passo é a própria pessoa perceber a necessidade de ajuda e seu parcerio (a) idem.
O tratamento, como já disse, é composto por acompanhamento psicológico e psiquiátrico. É necessário que o compulsivo aprenda a baixar e controlar a ansiedade. O psiquiatra pode precrever medicamentos para ajudar a diminuir a libido, o impulso sexual e reduzir a ansiedade. Isso pode ajudar inclusive a reduzir o prazo da psicoterapia.
Existem também os grupos de autoajuda como o DASA – Dependentes de Amor e Sexo Anônimos. Esse grupo promove reuniões em muitas cidades do Brasil, onde as pessoas podem partilhar suas experiências com outras que também vivem o mesmo problema.
Se isso estiver ocorrendo com você, não espere mais tempo, procure ajuda para ter a possibilidade de aprender a desfrutar de prazer e afeto em suas relações.
Observação: Em casos de compulsão severa, onde podem ocorrer estupro, violência, etc… a internação em clínica especializada pode ser necessária para o sucesso do tratamento.