por Tatiana Ades
Costumo usar a palavra luto no consultório pra trabalhar com pessoas que acabam de se separar.
Freud quando escreveu sobre o luto e a melancolia definiu muito bem o conceito, deixando claro que o luto é a dor da perda, seja por um ente querido ou por um processo de separação amorosa.
A dor sentida numa separação para algumas pessoas pode ser até maior do que a dor da perda pela morte. Para muitos isso pode parecer ilógico e irracional. Porém, só quem sente essa dor que não para de cessar, entende que há um luto a ser vivido.
Nesse processo de luto, em geral, a pessoa sente uma mistura de sentimentos: sensação de vazio, solidão, angústia, perda de apetite, insônia, podendo chegar a uma depressão severa. Há sentimentos contraditórios também, como a raiva pela pessoa que se foi, necessidade de vingança, ódio e ideia fixa de eliminar o outro de alguma forma. Mas geralmente esses sentimentos são invadidos novamente por saudade, desespero, necessidade de ver a pessoa, ouvir a voz, qualquer vestígio que possa aliviar esse processo tão doloroso.
É muito importante dizer que o luto pela separação deve ser vivido sim e não camuflado, pois inevitavelmente ele voltará, mesmo que seja muito tempo depois, pois é um processo de limpeza onde o organismo aos poucos vai se acostumando com a ideia da perda.
Mas a questão do tempo é essencial. Um luto que se estende por anos é sinal de anormalidade. Aí estamos nos referindo ao que Freud chamava de melancolia, uma dor que ultrapassa a dor saudável do luto. A melancolia seria uma depressão muito grave, podendo chegar ao suicídio ou ao pensamento de que sem o outro não haveria uma forma de se viver novamente: a sensação de “não estou me bastando”.
Nesse caso é imprescindível que a pessoa busque ajude terapêutica.
Mas você deve estar se perguntando, como saber qual o tempo exato do luto saudável?
Não há tempo exato, mesmo por que cada caso é um caso, mas em geral dura alguns meses. Mas há características que nos avisam quando estamos num processo saudável ou patológico.
No luto saudável
– verá que será capaz de falar sobre a pessoa separada com mais naturalidade;
– começará a sentir que a raiva se escassa e a necessidade de vingança ou suicídio se torna absurda;
– o sofrimento vai dando espaço para você reerguer sua autoestima e voltar a fazer coisas que gostava;
– perceberá que você sozinha (o) se basta e não mais enxergará o outro como parte sua necessária para viver.
No luto patológico
– você evitará falar da pessoa, ou quando o fizer, será sempre com raiva, angústia e dor emocional;
– perceberá que a sensação que deveria passar com o tempo, irá aumentar;
– você terá uma ideia fixa de ter a pessoa de volta e não haverá descanso para sua mente;
– sentirá uma depressão cada vez maior e falta de vontade de viver.
Por isso, fique atenta (o), o luto deve ser vivido, mas não ampliado. Ele não pode ser eterno, ele possui um começo, um meio e um fim. Se esse fim parece não acontecer, você está num processo doentio. Seu luto virou melancolia e há necessidade urgente de tratamento.
Lembre-se que o tempo deve ser o seu maior aliado num processo de cura, mas caso esse tempo pareça “atemporal”, o seu organismo não está reagindo como deveria.
Dicas para superar um processo de separação
– tente não afastar amigos e atividades que costumava fazer;
– pense em coisas que gostaria de ter feito e nunca fez;
– exercite-se, o exercício físico ajuda no processo de cura;
– leia livros, deixe a sua mente ativa;
– quando sentir vontade, chore, já sabendo que esse choro terá um tempo e um dia cessará.