por Dulce Magalhães
Imagine que alguém tenha passado toda sua vida em um lugar sem sol, com nuvens carregadas, muita chuva, muito frio, neve, dias curtíssimos, noites longas e escuras. Jamais essa pessoa poderia desejar ou sequer imaginar um lugar ensolarado, quente, de dias longos e noites enluaradas. Mesmo que outra pessoa lhe falasse sobre a existência disso, seria muito difícil para ela imaginar e até mesmo aceitar tal ideia.
Nossa visão de mundo é formada pelos elementos que estão presentes em nossa consciência. Não somos capazes de imaginar o que não existe para nós. Assim, a forma que temos de transformar nossa realidade é através da transformação de nossa consciência que, ao se abrir para outras possibilidades, se carrega de novas e instigantes capacidades.
Podemos sintetizar essa ideia através de um conceito simples: nossa realidade não é o resultado dos fatos, mas de nossa percepção sobre os fatos. A pessoa que nunca viveu uma realidade ensolarada só poderá pensar em uma realidade sombria, nebulosa e fria. Mesmo não conhecendo algo, nossa percepção nos fará capazes de imaginar aquilo que nossa consciência pode abarcar, mas o que não existe nem como potencial para a consciência, não existe para nós.
Dessa forma, para viver uma grande aventura, basta abrir espaços novos para a consciência. É preciso aventurar-se a novos horizontes. O desafio consiste em desafiar o modo antigo de pensar e ver a vida. A dúvida é o meio pelo qual podemos desafiar arcaicas estruturas de mundo que nos habitam. Talvez haja uma realidade mais ensolarada, cheia de tranquilidade, sucesso, prosperidade, bem-estar, tempo de lazer, repouso, relacionamentos afetivos e tudo o mais que sonhamos viver, mas que parece impossível dentro da estressante correria da vida.
É tempo de questionar a rotina, de duvidar das certezas de sempre, de fazer perguntas a respeito da validade de certas normas, do valor de instituições, enfim, de olhar cada parte e cada formato e se perguntar: é assim mesmo que deve ser? Isso é uma lei da natureza ou uma invenção humana? Se é fruto da criação de seres humanos ainda está válida? Quando foi criado? Em que cenário foi estabelecido esse conceito? Se o cenário mudou, o conceito ainda serve aos objetivos primários? A que rotina estamos circunscritos? Essa rotina é a desejada? Se não é, o que desejamos? Como atingir esse propósito? Estarão meus pensamentos limitando minha forma de viver melhor a vida?
Poderíamos seguir com uma infinidade de perguntas e todas elas vão conduzir a consciência através de novas possibilidades, abrindo um leque de alternativas que estavam fora de nossa alçada de pensamento. Nenhuma certeza é capaz de nos guiar a um novo espaço, pois tudo que é certo, ou seja, inquestionável, é o que regulamenta e define o que já é. Para o que ainda pode ser, é necessário se valer da dúvida, organizar perguntas, questionar o modelo, rever, revisar, reescrever a história.
O maior dos desafios é desafiar-se, desconfiar de suas próprias convicções, questionar o que foi sempre líquido e certo. Contudo, não há outra trilha capaz de nos levar para os novos cenários almejados. Talvez cheguemos à conclusão de que determinada questão não está ao nosso alcance alterar ou que algo é assim mesmo e não pode ser mudado, porém, se não fizermos a pergunta estaremos vivendo na certeza dogmática, fruto de crenças herdadas sem qualquer conexão com nossa experiência pessoal. Talvez tenhamos que percorrer um caminho para chegar no mesmo lugar, a vantagem é que nós já não seremos mais os mesmos e isso, no final, fará toda a diferença.