por Lilian Graziano
Antes de me dedicar a completar o raciocínio de um artigo publicado nesta coluna, o das 100 tentativas de ser feliz – veja aqui, gostaria de falar de um recurso muito utilizado por psicólogos positivos para promover emoções positivas, colocar pessoas no centro da ação sobre suas vidas e sentimentos, em um projeto visando à felicidade.
Trata-se do Mindfulness, meditação baseada em técnicas de respiração, criada pelo médico e professor Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, EUA. Pode ser um tratamento ou um exercício voltado para uma vida equilibrada e feliz.
Como tratamento, a prática traz resultados excelentes contra ansiedade e depressão, reduzindo em 44% as recaídas entre os depressivos, com eficácia comparada a tratamentos convencionais, como psicoterapia e remédios.
Como exercício, também chamado de “atenção plena” (numa tradução ruim, vale dizer), o Mindfulness resgata nossa percepção corporal, a percepção dos pequenos detalhes de nosso dia a dia, tornando mais aprofundada nossa relação com tudo o que nos acontece, livrando-nos dos atos instantâneos, automáticos e mecânicos. Ele também melhora nossa atenção e nossa concentração e reduz o estresse. Mais do que isso, a técnica ajuda, ainda, a exercitarmos a autocompaixão e, por consequência, a aceitação do outro.
Por que o mindfulness faz tão bem?
Isso porque, durante a prática, somos levados a perceber o momento como ele realmente acontece, sem julgamentos ou categorizações. Também são bloqueados os julgamentos vindos de fontes terceiras – os olhares de fora – fazendo com que o contato com nossas próprias emoções e vivências seja o mais íntimo possível, respeitando sentimentos positivos e negativos, exatamente como o são.
Ao evitar o julgamento, aprendemos a encarar as ocorrências cotidianas (às vezes as que mais nos estressam) de maneira objetiva, o que nos evita a ansiedade de conjecturas e perspectivas acerca de problemas cuja solução simplesmente não existe, ou é bem menos complexa do que nossas mentes imaginam.
O não julgamento também leva ao mencionado estado de compaixão conosco. Acaba virando um hábito que se estende em nossa visão de mundo e, consequentemente, ao nosso trato com as pessoas: aprendemos a aceitá-las, sem “pré-conceitos” ou rótulos, enxergando em todas as suas reais especificidades.
Mas engana-se quem pensa que meditar é algo simples. Exige que realmente nos engagemos em um projeto de crescimento e equilíbrio pessoal, seja num contexto de cura ou de desenvolvimento. É preciso que desliguemos o modo “multitarefa” e dediquemo-nos a um olhar concentrado em nós mesmos “inteiramente no momento” (uma das traduções possíveis do conceito de Mindfulness).
* Em tempo: sugestão de leitura, com exercícios de meditação. Procure o livro Viver Agora (Sarah Silverton, editora Alaúde, 2011)