por Sandra Vasques
"Estou passando por uma crise bem complicada no meu casamento de 14 anos. Descobri recentemente que minha mulher esta gostando de uma mulher. Sei que ela nunca teve esse tipo de pensamento, isso aconteceu de uma hora pra outra, estou desesperado não sei o que fazer"
Resposta: Descobrir que a parceira com quem está não tem mais o mesmo interesse no relacionamento e ainda saber que a orientação de seu desejo sexual mudou são duas surpresas que podem abalar muito a estabilidade emocional.
Quando se fazem planos e eles começam a mudar repentinamente, e fora do controle, é natural se sentir perdido. Apesar disso, é importante procurar entender o que está acontecendo sem querer encontrar culpados e vítimas.
Esta situação é difícil para os dois parceiros. Afinal, um relacionamento de 14 anos tem muita história e se estava tudo caminhando bem, também planos construídos juntos. Aquele que descobriu ter desejo homossexual, e vê a possibilidade de ter que romper o atual relacionamento também sofre.
Há muitas pessoas que quando são jovens percebem um desejo por pessoas do mesmo sexo, mas não querem, ou não conseguem assumi-lo. Muitas vezes essa percepção é negada, ou confundida com algo passageiro e sem importância.
Medo das consequências, de ser rejeitado, abandonado pelas pessoas importantes de seu círculo social, sofrer preconceitos, a sensação de estar sentindo algo errado e reprovável. Com o passar do tempo, mais seguras, e/ou com o desejo mal resolvido apertando mais intensamente no peito, se permitem fazer diferente. Mas a vida já pode estar comprometida em um namoro ou casamento com uma pessoa do sexo oposto, às vezes existem filhos, enfim uma história escrita até então. O que fazer? Renunciar de novo ao desejo e seguir em frente com a vida construída até então ou enfrentar os novos desafios? Como lidar com o par com quem construiu a vida até então e que pode se sentir traído duplamente?
Para atrapalhar ainda mais, existe muita falta de informação e preconceitos envolvendo essa situação. Pensar por exemplo, que uma pessoa sente atração sexual por pessoas do mesmo sexo porque ainda não encontrou alguém do sexo oposto que transe bem, é uma tremenda bobagem que é ouvida frequentemente.
Acreditar que é uma doença, ou problema de outra ordem não tem fundamento científico. Mas, o que precisa ser verificado é se o desejo envolve, além do afeto, o desejo erótico, por sexo. Algumas pessoas podem confundir uma proximidade emocional forte, uma admiração e intimidade profundas, com desejo sexual. Mas, uma vez que o desejo sexual seja constatado, então não há dúvidas sobre a homossexualidade ou a bissexualidade. Se a mulher, neste caso, perceber que o desejo homossexual é forte e que esteve reprimido até então, pode até continuar no casamento, mas por outros motivos que não a atração sexual.
Se a mulher tiver desejo tanto por homens, como por mulheres, uma decisão de outra ordem precisará ser tomada: vai permanecer com o relacionamento em que está agora, com seu marido, ou vai romper e viver com a mulher pela qual se sente atraída?
Esta dúvida é vivida muitas vezes por homens e mulheres comprometidos que se envolvem com outras pessoas, sejam do mesmo sexo, ou do sexo oposto, e que têm que decidir que caminho tomar. Mas o homem também terá que decidir o que vai fazer. Se não existir mais o desejo/sexualidade como parte do relacionamento, ele aceitará viver apenas com os outros ingredientes? E se a mulher ainda sentir desejo/sexualidade por ele e decidir que quer continuar no casamento, ele conseguirá compreender e dar uma nova chance para a relação?
É preciso muito diálogo, amorosidade, compreensão e respeito mútuo, para haver um entendimento.
Esta situação vivida pelo casal é difícil de qualquer maneira e pode precisar do apoio de um profissional que os apoie e propicie que, devagar, se consiga encontrar uma direção que devolva o equilíbrio, seja para continuar seguindo como casal, seja para continuarem cada um o seu próprio caminho.